Lula se diz grato a Edson Fachin, insiste em ataque a Sergio Moro e já fala como candidato

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O petista voltou a afirmar que a operação Lava Jato foi a maior mentira jurídica do Brasil em 500 anos.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta quarta-feira (10), que “não tem tempo de pensar em candidatura” para a eleição presidencial de 2022. A declaração foi dada em seu 1º discurso depois que retomou os direitos políticos.

“Não podemos ficar respondendo à insistência da imprensa para escolher um nome. O que precisamos é colocar nossa gente para andar o Brasil”, afirmou, sugerindo que deve começar a viajar o país para falar com a população.

Durante o discurso, apesar de negar que seja o “momento” para debater as eleições de 2022, falou como candidato à presidência, fazendo críticas ao presidente Jair Bolsonaro e citando medidas que poderiam ser adotados pelo governo federal. Disse também que quer conversar com o empresário para entender a “loucura deles”.

“Eu preciso converar com os empresários. Quero saber onde está a loucura deles? Se eles querem que a economia cresça, é preciso garantir que o povo tenha emprego e renda”, disse.

As falas foram feitas 2 dias depois da decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), que anulou, na segunda – feira (8), todas as decisões tomadas pela 13ª Vara de Curitiba nas ações penais contra o petista.

Em pronunciamento de mais de uma hora na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), Lula disse que a decisão de Fachin foi “tardia” e voltou a afirmar que a operação Lava Jato foi a “maior mentira jurídica do Brasil em 500 anos”.

“Eu sou agradecido ao ministro Fachin porque ele cumpriu uma coisa que a gente reivindicava desde 2016. A decisão que ele tomou tardiamente vem 5 anos depois de que foi colocado por nós”, afirmou.

Lula, no entanto, declarou que o “sofrimento” pelos 580 dias que esteve preso “acabou”. Segundo ele, a dor das pessoas mais pobres diante da pandemia do novo coronavírus é “infinitamente maior” do que o que sentia na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR).

“Se tem um brasileiro que tem razão de ter profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho. O sofrimento que o povo brasileiro está passando, que as pessoas pobres estão passando nesse país é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim”, disse.

“Não há dor maior para um homem ou mulher do que levantar de manhã e não ter a certeza de ter um cafe com pão com manteiga para fazer. Não tem dor maior para um ser humano do que chegar na hora do almoço e não ter um prato de feijão com farinha para dar ao seu filho”, afirmou.

O ex-presidente agradeceu a solidariedade de líderes internacionais, como o presidente da Argentina, Alberto Fernández, o papa Francisco e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Ele também fez homenagens aos seus advogados, Cristiano Zanin Martins e Waleska Teixeira.

O ex-ministro da Educação e candidato à Presidência em 2018, Fernando Haddad (PT), a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT, e Guilherme Boulos (Psol), candidato à Presidência da República pelo Psol em 2018 e à prefeitura de São Paulo em 2020, estiveram ao lado de Lula durante o pronunciamento seguido de entrevista.

No palco também estavam o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Iago Montalvão; a namorada de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como “Janja”; além de dirigentes de entidades e centrais sindicas ligadas à CUT (Central Única dos Trabalhadores). O evento, agendado para 11h, começou com 30 minutos de atraso.

LEIA ALGUNS TRECHOS DO DISCURSO

Eleições presidenciais de 2022: “Não podemos ficar respondendo à insistência da imprensa para escolher um nome. O que precisamos é colocar nossa gente para andar o Brasil. O Haddad pode ir junto com a UNE (União Nacional dos Estudantes) visitar as universidades. Ele tem cabedal histórico para isso. Isso que temos que fazer. Vamos fazer. Depois, a gente discute o resultado do que fomos capazes de produzir. Não podemos nos preocupar com críticas e ataques menores.”

Pandemia: “Convido vocês para lutar nesse país para garantir que todo brasileiro, independentemente da idade, tome vacina. Para isso, temos que obrigar o governo a comprar vacina. Temos que brigar pelo salário emergencial, por investimento e geração de emprego, sobretudo a partir da infraestrutura. É preciso política de ajuda ao pequeno e micro empresário. Quantos restaurantes, farmácias e salões de beleza estão fechando? Para quê existe governo? É para tentar encontrar solução para essa gente.”

Alianças para 2022: “Sabe qual é a vantagem de ser mais velho? É porque a gente tem mais história. Vocês estão lembrados que quando fui candidato em 2002 o vice era o companheiro José Alencar? Ele era do PMDB. Como o PMDB, não me apoiava, articulamos a entrada dele no PL. Foi a 1ª vez que tivemos uma aliança entre capital e trabalho no Brasil. José Alencar era empresário e eu, dirigente sindical. Sem falsa modéstia, acho que foi o momento mais promissor da história democrática do país. Temos que esperar chegar o momento de discutir e escolher o candidato. A Gleisi participa de reuniões com PDT, Psol, PC do B e PSB. Quando chegar o momento, vai ser possível uma candidatura única ou se terá mais candidatos.”

“Eu duvido que consiga repetir o vice das qualidades do José Alencar. Esse país não tem muita gente com o caráter, discernimento e lealdade dele. Tem momento para tudo. Não podemos ficar respondendo à insistência da imprensa. O que precisamos é colocar nossa gente para andar.”

Frente ampla: “A frente ampla é para ter capacidade de conversar com outras forças políticas que não estão no espectro da esquerda. Em 2002, o José de Alencar foi meu vice. Nos Estados, o Flávio Dino, do PC do B, foi eleito numa aliança ampla, não numa aliança de esquerda. O Camilo e o Rui Costa também.”

“Quem via o filho brigando por bife não tem dificuldade de construir aliança quando chegar o momento para isso.”

FACHIN ANULA DECISÕES DA LAVA JATO CONTRA LULA

A decisão de Fachin anulou as decisões da 13ª Vara de Curitiba nas contra Lula. O despacho tem 46 páginas.

A determinação do ministro atende a pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do petista em 3 de novembro de 2020. Aplica-se aos seguintes casos: tríplex do Guarujá, sítio de Atibaia, sede do Instituto Lula e doações ao Instituto Lula.

JULGAMENTO DA SUSPEIÇÃO DE MORO É ADIADO

A 2ª Turma do STF suspendeu nessa 3ª feira (9.mar) a conclusão do julgamento sobre a eventual suspeição do ex-juiz Sergio Moro em relação a condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em processos sobre o tríplex do Guarujá (SP). Não há data para o debate ser retomado.

O ministro Nunes Marques pediu vista (mais tempo para analisar o caso). Afirmou não ter tido tempo de votar em razão de não ter conseguido analisar o processo.

Até agora, votaram para declarar Moro suspeito os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Cármen Lúcia e Edson Fachin já haviam votado em 2018, contra a suspeição, antes de o debate ser interrompido por pedido de vista de Gilmar Mendes.

Fachin e Cármen Lúcia manifestaram interesse em se pronunciar novamente quando o caso voltar a julgamento. Se não houver nenhuma mudança no placar, caberá a Nunes Marques dar o voto de desempate.

O julgamento voltou à pauta do colegiado, composto por 5 ministros, depois de o relator da Lava Jato, Edson Fachin, anular as ações penais contra Lula e mandá-las para a Justiça Federal de Brasília.

Fachin determinou, também, a perda de objeto [validade] do HC sobre a suspeição de Moro. Mas Gilmar Mendes, que é o presidente da 2ª Turma e havia pedido vista, decidiu que ele tem, sim, de ser analisado, e marcou o julgamento para a tarde dessa 3ª feira. Fachin reagiu à decisão de Gilmar de agendar o julgamento. Indicou que o caso fosse enviado ao plenário, que reúne os 11 ministros do STF. Quatro dos 5 ministros da 2ª Turma, no entanto, vetaram a possibilidade.

Com informações do Poder 360

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