A proporção diminuiu 3 pontos percentuais de novembro de 2020 a junho de 2021; setores mais afetados são automobilístico e de eletrônicos.
A proporção de indústrias que relatam dificuldades de conseguir insumos para a produção caiu 3 pontos percentuais entre novembro de 2020 e junho de 2021: de 55,5% para 52,4%. A conclusão é de uma sondagem especial feita pela Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), divulgado no sábado (17), pela Folha de S.Paulo.
Houve alguma melhora no número de empresas com problemas de falta de insumos ou matérias-primas para o período analisado. Nos setor de vestuário a queda foi de 77% para 65%. No têxtil, de 75% para 49%.
Apesar da diminuição no geral, há setores em que a falta de materiais piorou. É o caso da indústria automobilística e de informática e eletrônicos, que têm uso intenso de chips e semicondutores. Esses produtos estão em falta no mundo todo. Nesses segmentos, mais de 70% das empresas reportaram falta de insumos. Em novembro de 2020 variavam entre 50% e 61%.
As montadoras já adaptam sua produção e as projeções. O Chevrolet Onix ficou com a produção parada por 3 meses. A Volkswagen anunciou férias coletivas na fábrica de São Bernardo do Campo, em São Paulo. A Fiat estima que o problema vai durar até o 2º semestre de 2022.
A escassez de chips é resultado do desequilíbrio que a pandemia provocou nas cadeias globais de produção. A procura por notebooks, smartphones e tablets, por exemplo, aumentou consideravelmente em 2020. Com o aquecimento da economia em velocidade melhor que o previsto, a demanda por microprocessadores subiu em ritmo forte, e os fabricantes dos itens não estão dando conta de atendê-la.
A falta de matérias-primas também impacta a indústria de base. A proporção de empresas com dificuldades em manter a produção é de 65% no setor de minerais não metálicos, 62% no de produtos de plástico, e 53% no de produtos de metal.
A dependência de insumos importados levou mais empresas a relatar problemas na produção: de 41% em novembro para 45% em junho. Das que dependem de produtos oferecidos pelo mercado interno, houve redução na quantidade de companhias com dificuldades: 85% para 76%.
Dentre os problemas enfrentados para importar insumos estão o aumento de preço no mercado internacional (fator presente em 42% das empresas), questões cambiais e dificuldades de entrega e logística. A pesquisa ouviu 1.098 indústrias, por meio de questionário eletrônico ou telefone.
À Folha, a superintendente-adjunta de Ciclos Econômicos do FGV Ibre, Viviane Seda Bittencourt, disse que a situação ainda é preocupante.
“Apesar de ter diminuído, ainda há problemas para a maioria das empresas. São segmentos-chave, alguns que estão na base da cadeia e podem criar um gargalo, além de terem relevância econômica importante”, afirmou. Para a pesquisadora, há perda de capacidade de crescimento da indústria em 2021 por causa da escassez.