PCR suspeito e pouca máscara: o voo que trouxe viajante com a ômicron a SP

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Paulo Evaristo de Andrade, 40, até agora está perplexo com as autoridades sanitárias brasileiras e com a companhia aérea que o trouxe da África ao Brasil, no último sábado (27), quando mais de 200 pessoas desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos procedentes de Adis Abeba, capital da Etiópia.

fonte: Gabriela Bulhões

Até o momento, um passageiro do voo foi identificado com a variante ômicron do novo coronavírus e, ontem (2), a Secretaria da Saúde do Distrito Federal confirmou mais dois casos em pessoas que estavam em um voo que veio da África do Sul, passou pela Etiópia e aterrissou no aeroporto de Guarulhos também no dia 27. Outros dois brasileiros também testaram positivo ao virem da África do Sul, quatro dias antes.

“Ninguém perguntou meu nome, ninguém tirou minha temperatura ou perguntou de onde eu vinha e se eu estava doente ou não”, conta.

“No voo, vi um monte de gente sem máscaras. Sem qualquer controle”, relata ainda sobre o voo da Ethiopian Airlines. Para completar, “fiz um (exame) PCR sem qualquer tipo de credibilidade antes de embarcar, ou seja, um verdadeiro caos e descaso em geral”, diz o fisioterapeuta, que voltou ao Brasil após três semanas de voluntariado na Tanzânia, sobre o controle dos agentes sanitários em Guarulhos.

Passaporte e passagens de Paulo Evaristo de Andrade para volta da Etiópia para São Paulo. Imagem: Arquivo pessoal

Andrade está por conta própria isolado no quarto de hóspedes de sua casa, em São Bernardo do Campo, enquanto espera para fazer um novo exame RT-PCR no próximo sábado. O primeiro teste, também por sua decisão e cuidado pessoal, deu negativo um dia após o seu retorno. O fisioterapeuta já recebeu as duas doses da CoronaVac e está sem sintomas.

“Houve falhas da companhia aérea, sim”, explica Andrade. Porém, sua maior indignação “é com o Brasil, a falta de responsabilidade no modo de receber e ter os cuidados com as pessoas que vinham dessa zona”.

No dia do voo já se tinha conhecimento não só da nova variante, como também que passageiros a bordo do voo ET506 vinham de conexões oriundas de países como a África do Sul, país responsável pela identificação da nova cepa.

Enfermeira prepara vacina contra covid-19 na África do Sul, onde foi identificada a variante ômicron Imagem: REUTERS/Siphiwe Sibeko.

Dois dias após a chegada de Andrade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitárias (Anvisa) publicou uma portaria na qual restringe qualquer tipo de chegada ao solo nacional de pessoas que tenham origem ou passagem pelos seguintes países: África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Namíbia e Zimbábue.

Universo paralelo

A saga de Paulo de Andrade começou no último dia 24 de novembro, quando foi realizar o seu RT-PCR, obrigatório para qualquer passageiro que desembarca em território nacional no mínimo 72 horas antes da viagem — além do preenchimento de um formulário on-line da Anvisa.

É preciso entender que a questão do coronavírus em algumas regiões pelas quais viajei na Tanzânia é um universo totalmente paralelo, não existe máscara, não existe álcool, distanciamento social, saneamento básico e nenhum tipo de medida (por parte dos governos locais). É como se não existisse a pandemia”, enfatiza o brasileiro.

“Eu fiz o meu teste num local sem qualquer tipo de higiene. Enfiaram um cotonete em apenas uma das minhas narinas e depois de algumas horas estava pronto. Na minha opinião, um teste sem qualquer tipo de credibilidade e ainda te cobram 80 dólares”, explica.

Da ilha de Zanzibar, onde ele realizou o seu voluntariado com uma ONG de Dubai e dos EUA, ele voou para Kilimanjaro, norte da Tanzânia, antes de uma outra conexão até Adis Abeba, na Etiópia. É uma espécie de hub internacional onde passageiros fazem escala antes de embarcarem em voos de longa duração para outros destinos internacionais.

“Na Etiópia, no setor de imigração, também não há controle. Apenas me perguntaram se eu tinha mais de três mil dólares na carteira. Aí te dão um papel, te colocam numa van e te levam para um hotel. Não existem máscaras, cuidados, nada. No dia seguinte, de volta ao aeroporto, talvez o único local na África onde as pessoas usem máscaras”, esclarece.

Homem se vacina em Yaounde, CCamarões. O país conta 107.000 infectados e 1,795 mortes e apenas 4.1% da população vacinada.Imagem: Daniel Beloumou Olomo / AFP

Já ciente de tudo o que ocorria no cenário internacional em função da nova variante, o fisioterapeuta tentou seguir todos os protocolos recomendados, mas relata que faltaram cuidados e informações nas longas 13 horas de Adis Abeba até Guarulhos.

“Medo eu não senti porque eu estava com máscara o tempo todo. A parte boa é que tinha um assento vazio entre eu e a pessoa mais próxima. E essa pessoa estava de máscara”, conta.

“Mas eu levantei para ir ao banheiro algumas vezes e, quando passava pelo corredor, via uma quantidade considerável de pessoas sem proteção no rosto, um absurdo”.

Segundo Andrade, “também faltaram anúncios nos alto falantes, qualquer tipo de orientação sobre o que estava acontecendo”. “Apenas me deram uma bolsinha clássica de higiene, dessas padrão, que tinha ,sim, álcool em gel”, diz ainda. “Faltou responsabilidade”.

Passageiros aguardam chamada para quarentena e testes no aeroporto Schiphol, em Amsterdã (Holanda) Imagem: REUTERS/Eva Plevier

A revolta de Andrade, que trabalhou na linha de frente em hospitais como fisioterapeuta durante a pandemia, como já dito, é com a falta de cuidado das autoridades brasileiras.

“Quando eu cheguei na África, um continente com todas as suas limitações, pelo menos aferiram a minha temperatura e perguntaram de onde eu vinha. Aqui, nem isso”, protesta.

“Eu paguei um hotel por conta própria e fiquei dois dias isolado para ver se eu ainda desenvolvia algum tipo de sintoma”, conta.

Quando leu que um dos passageiros do seu voo tinha testado positivo para a ômicron, seguiu o isolamento em sua própria casa, sem ter contato com a mãe e amigos. “Até agora ninguém me perguntou nada”.

Com informações da UOL

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