Estudo divulgado pelo governo canadense mostra que população desses animais no norte do país diminuiu 27% em apenas cinco anos. Segundo cientistas, queda está diretamente ligada às mudanças climáticas.
Um estudo divulgado esta semana pelo governo do Canadá mostra que os ursos polares estão desaparecendo rapidamente do oeste da baía de Hudson, no norte do país.
Pesquisadores sobrevoam a região – que inclui a cidade de Churchill, um destino turístico considerado a “capital mundial do urso polar” – a cada cinco anos para contar o número de ursos e estimar as tendências populacionais.
Entre o final de agosto e início de setembro de 2021, os investigadores registraram 194 ursos. A partir desta contagem, os cientistas estimam que havia na época 618 ursos polares na área – o levantamento anterior, realizado em 2016, estimava 842. A cifra representa uma queda de 27% em apenas cinco anos – de 2011 a 2016 a queda tinha sido de 11%.
“Os declínios observados são consistentes com as previsões de longa data sobre os efeitos demográficos das alterações climáticas nos ursos polares”, salienta o estudo, que mostra que a diminuição é ainda mais drástica entre fêmeas e filhotes.
Embora não possam afirmar com absoluta certeza os motivos da queda, os cientistas apontam que ela pode ser causada, sobretudo, pela movimentação de animais para regiões vizinhas e pela caça. Outra hipótese é que mudanças causadas pelo clima na população local de focas podem estar reduzindo o número de ursos.
“Houve um número muito baixo de filhotes sendo gerados em 2021”, disse Andrew Derocher, que lidera o Polar Bear Science Lab na Universidade de Alberta. “Estamos olhando para uma população que envelhece lentamente e, quando há anos ruins [de gelo], os ursos mais velhos são muito mais vulneráveis ao aumento da mortalidade”, explica.
Ameaça de extinção
Há 19 populações de ursos polares espalhadas pela Rússia, Alasca (EUA), Noruega, Groenlândia e Canadá. Mas a baía de Hudson está entre os locais mais ao sul, e os cientistas projetam que os ursos dali provavelmente estarão entre os primeiros a desaparecer.
“De certa forma, é totalmente chocante”, disse John Whiteman, cientista-chefe de pesquisa da organização sem fins lucrativos Polar Bears International. “O que é realmente preocupante é que esses tipos de declínio são do tipo que, a menos que a perda de gelo do mar seja interrompida, estão previstos para eventualmente causar extinção”, destaca.
Desde a década de 1980, a camada de gelo na baía diminuiu quase 50% no verão, de acordo com o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA. Além disso, no Ártico, o aquecimento global é até quatro vezes mais rápido do que em outras partes do planeta.
Um estudo publicado na revista Nature Climate Change em 2021 descobriu que a maioria das populações de ursos polares do mundo pode entrar em colapso até 2100, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam fortemente controladas. De acordo com o estudo, havia 1.200 ursos polares nas margens ocidentais da baía de Hudson na década de 1980 – o dobro de agora.
le (Lusa, AFP, Reuters)