As ilhas de calor estão em lugares com muitas construções como, por exemplo, quando um prédio fica bem colado no outro, o que retém o calor. Outro fator que ajuda a esquentar o ambiente é se é uma área industrial.
Nas grandes cidades, as chamadas ilhas de calor têm ajudado na multiplicação do mosquito da dengue.
Em um lugar como São Paulo, as diferenças entre um bairro e outro podem ser tão grandes quanto a própria cidade. O distrito de Jaguara, na Zona Oeste, tem quase 100 vezes mais casos de dengue do que a Vila Mariana, na Zona Sul.
“Estamos eu, meu marido e meu menino menor em casa com dengue”, conta a diarista Renata Souza.
A doença afeta a saúde e a sobrevivência.
“Acho que é novidade quem não pegou. Aqui na Jaguara está demais. E isso acarreta várias coisas, a gente fica sem trabalhar”, diz Renata.
O bairro fica em uma região da cidade apontada por pesquisadores da USP e da Unesp como “ilha de calor forte”, onde a temperatura costuma subir mais do que na vizinhança. As ilhas de calor estão em lugares com muitas construções como, por exemplo, quando um prédio fica bem colado no outro, o que retém o calor.
Outro fator que ajuda a esquentar o ambiente é se é uma área industrial. O movimento intenso de caminhões, ônibus e carros contribui com a emissão de gases de efeito estufa e a liberação de energia. Também não ajuda a esfriar o espaço quando há pouca área verde, rios e lagos.
A professora Tamara Carama, da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica como as temperaturas mais altas impactam no desenvolvimento do aedes aegypti.
“Qualquer alteração que seja mesmo de 2º C, 1,5º C, para o mosquito vai ter um impacto bem grande. Então, você tem um aumento da população de mosquito e o que acontece, quando a fêmea é infectada pelo vírus, o vírus ele precisa alcançar a glândula salivar da fêmea. Isso dura em média 10 dias. Só que quando você tem uma temperatura mais alta, esse tempo do vírus alcançar a glândula salivar é mais curto”, explica professora.
Mas é uma combinação de fatores que leva o mosquito da dengue a encontrar espaço e espalhar a doença, diz o professor Instituto de Biociência da USP Marcos Buckeridge.
“Você tem que ter o acúmulo de água limpa, água onde aonde a larva possa se desenvolver. A complexidade do sistema está na época, no clima que nós temos, na umidade que nós temos, na temperatura — se for uma ilha de calor, aumenta a probabilidade, e for uma região arborizada, diminui a probabilidade. E, principalmente, depende de como as pessoas se comportam naquela região”, afirma ele.
Morando ou não em uma ilha de calor, cabe a cada um de nós impedir que esse mosquito ganhe terreno.
“Quando uma pessoa se comporta mal e deixa a água e deixa o inseto se desenvolver, ela prejudica ela mesma, a família e os vizinhos que vão também ter maior probabilidade de pegar dengue”, diz Marcos Buckeridge.
Por Jornal Nacional