Cozinha Solidária da Cúpula dos Povos serve 21 mil refeições diárias na COP30, com apoio do MDS

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Operação reúne 150 trabalhadores e fortalece segurança alimentar com produtos da agricultura familiar

Enquanto os debates sobre o clima ocupam os painéis oficiais da COP30, uma operação de grande escala garante a alimentação de milhares de pessoas nos bastidores do evento. A Cozinha Solidária da Cúpula dos Povos, que conta com apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), serve 21 mil refeições diárias a trabalhadores, participantes, voluntários e comunidades envolvidas na conferência. A operação começou no dia 12 e segue até o próximo domingo (16.11).

Fotos: Jefferson Mota/MDS

Cerca de 150 pessoas trabalham diariamente na cozinha, manipulando aproximadamente 10 toneladas de alimentos. São sete mil refeições em cada uma das três refeições – café da manhã, almoço e jantar. Elas são destinadas ao público da Cúpula dos Povos, à Universidade Federal do Pará (UFPA) e aos alojamentos. As marmitas incluem carne, batata-doce, ovo, pirarucu de manejo, frango, abóbora e variedade de frutas, todos provenientes da agricultura familiar e de povos tradicionais.

A secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Lilian Rahal, visitou a cozinha nesta sexta-feira (14.11) e acompanhou o trabalho da equipe. “A cozinha solidária é uma tecnologia social potente, um olhar especial para a sociedade. É sobre levar políticas públicas efetivas para quem mais precisa. Este programa é mais uma ação do Governo do Brasil garantindo alimentação aqui na COP e em diversas situações de emergência e vulnerabilidade”, afirmou.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é parceira do projeto por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), política pública do MDS que compra produtos da agricultura familiar para distribuir a pessoas em situação de insegurança alimentar.

O diretor de Políticas Agrícolas da Conab, Silvio Porto, explicou que o planejamento começou antes mesmo do início da COP30. “Trabalhamos para que toda a alimentação servida fosse adquirida diretamente de comunidades extrativistas, indígenas, quilombolas, da agricultura familiar e de assentamentos da reforma agrária, sobretudo da Região Amazônica. Queríamos garantir uma grande diversidade de alimentos e mostrar a capacidade produtiva da agricultura familiar camponesa”, disse.

Mãos que ajudam

Eliane de Araújo Santos, que faz parte da equipe de cozinheiros, deixou cinco filhos em Minas Gerais para viabilizar a produção das refeições. Conhecida como Lili, ela já havia atuado em situações de emergência, como nas enchentes de Porto Alegre, onde coordenou uma cozinha que chegou a servir quatro mil marmitas diárias no auge da crise. “Foi um terror, algo extraordinário, uma agonia, um formigueiro”, lembrou.

Apesar da dureza do trabalho, Eliane define a experiência como transformadora. “Foi muito gratificante ter ajudado naquela situação. Eu chorava à toa, são muitas histórias. A gente vira cozinheira, amiga, mãe, psicóloga, de tudo um pouco.” Ela acredita que essa vivência a levou até a Cúpula dos Povos. “Tudo isso que passei me fez chegar aqui, com a honra de poder ajudar na Cozinha Solidária da Cúpula dos Povos”, completou.

Além de cozinhar, Eliane também ajudou a capacitar outros profissionais para operar as panelas de pressão industriais de 90 kg. “Eles aprenderam direitinho”, contou. No dia em que ligou as grandes panelas pela primeira vez, a emoção foi tão intensa que ela passou mal. “Ver o pessoal indo fazer a linha de montagem me deu uma emoção tão grande, que precisei ser atendida pelos médicos. Ver esse trabalho realizado é surreal, sem palavras”, relatou.

Ingrid Magno, estudante do terceiro semestre de Nutrição da UFPA, encontrou a oportunidade de atuar na Cúpula dos Povos por meio de um grupo onde são compartilhados eventos e vagas. “Achei muito interessante para nós, que estamos em formação. Me inscrevi e cheguei aqui para ajudar nessa operação enorme”, contou.

Para a estudante, participar da cozinha solidária representa um marco em sua trajetória acadêmica. “É algo completamente novo para mim. Nunca tinha entrado em uma cozinha profissional. É um espaço totalmente novo que está me trazendo um aprendizado enorme”, afirmou.

Ingrid explicou que tem conseguido aplicar conhecimentos adquiridos em sala de aula e, ao mesmo tempo, compartilhar saberes com a equipe. “É uma vivência que talvez eu não tivesse tão cedo na universidade, e estou tendo aqui. Estou aprendendo muito.”

Ela detalhou como a experiência ampliou sua compreensão sobre o papel do nutricionista em cozinhas de alta produção. “Muitas pessoas olham e não sabem o que o nutricionista faz nesses espaços. A gente trabalha muito nos bastidores, no estoque, na higiene, na limpeza. Aqui estou conseguindo ter essa visão mais abrangente, que está auxiliando muito na minha formação”, contou.

Ingrid destacou ainda o significado de participar de um evento histórico. “Provavelmente nunca mais teremos uma Cúpula desse tamanho em Belém, mas no ano em que isso aconteceu, eu estava aqui, estagiando. Isso me alegra muito”, comemorou.

Para ela, o impacto coletivo do trabalho é evidente. “Saber que cada marmita que fechamos, cada colher de arroz que colocamos alimenta alguém, isso nos move. Foi muito gratificante ver pessoas se alimentando de forma saudável, com produtos da agricultura familiar. Do povo para o povo. É um momento histórico”, finalizou.

Conheça também a Cozinha Comunitária sustentável inaugurada durante a COP30

Leonidas Amorim
Leonidas Amorimhttps://portalcidadeluz.com.br
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