O empresário Paulo Marinho disse em depoimento que o presidente Jair Bolsonaro foi avisado por Gustavo Bebianno sobre a operação da Polícia Federal que atingiu Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
A PF investiga o suposto vazamento da operação depois de entrevista de Marinho ao jornal Folha de S. Paulo.
A TV Globo teve acesso a trechos do depoimento, prestado em 21 de maio ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. Marinho explicou que ligou para Bebianno em 13 de dezembro, mesmo dia da reunião em que Flávio falou do vazamento da operação. Marinho pediu que Bebianno conversasse com Bolsonaro.
“‘Essa história é mais grave do que parece, eu acho importante você informar ao presidente’. Ele [Bebianno] aí desligou, agradeceu. Ele [Bebianno] depois liga e me diz o seguinte: ‘Entrei na sala do presidente, no escritório da transição, chamei, tinha muita gente com o presidente, falei: ‘É urgente’. Ele [Bebianno] tinha intimidade total com o presidente. ‘Levei o presidente pro banheiro da sala e fiquei com ele 10 minutos dentro do banheiro contando pra ele a história que você [Marinho] me contou. O presidente me pediu que voltasse para o Rio para acompanhar esse assunto’”, disse Marinho no depoimento.
Procurado pela Globo, o Palácio do Planalto disse que não vai comentar o assunto. Flávio Bolsonaro, em nota, falou que “as afirmações de Paulo Marinho têm objetivo simples: manipular a Justiça em interesse próprio. Marinho parece desesperado por holofotes e por 1 cargo público. Inventa narrativas para tentar ocupar uma vaga no Senado sem passar pelo crivo das urnas. A defesa informa ainda que o parlamentar já prestou todos os esclarecimentos a respeito do tema. E o senador nega, categoricamente, o que foi dito por Marinho“. Paulo Marinho é suplente de Flávio no Senado.
Bebianno era presidente nacional do PSL na altura da eleição de Bolsonaro. Foi uma das pessoas mais próximas do presidente durante a campanha e assumiu o posto de ministro da Secretaria-geral da Presidência. Deixou o cargo em fevereiro de 2019, depois de passar por 1 processo de “fritura” –sobretudo por atritos com os filhos do presidente. Bebianno morreu em março de 2020, em decorrência de 1 infarto fulminante.
VAZAMENTO DA OPERAÇÃO
Fabrício Queiroz foi preso na Operação Anjo, 1 dos desdobramento da Operação Furna da Onça. Ele é acusado de participar de suposto esquema de “rachadinha” –a prática de tomar parte do salário de servidores– no gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Flávio, que foi deputado estadual antes de se tornar senador, nega ter recebido informações vazadas sobre a operação.
Paulo Marinho disse que a família Bolsonaro foi avisada da operação depois do 1º turno das eleições. No depoimento, Marinho relatou que o senador escolheu 3 pessoas que seriam responsáveis por recolher informações com 1 delegado da PF: Victor Granado (amigo do senador), Valdenice Meliga (ex-assessora de Flávio) e Miguel Angelo Braga (atual chefe de gabinete de Flávio).
Foi a partir do encontro com o delegado que, segundo Marinho, a informação da existência da operação chegou ao clã Bolsonaro, assim como o envolvimento de Queiroz. Ele disse também que o delegado explicou que a Furna da Onça seria deflagrada depois do 2º turno das eleições presidenciais de 2018, para não atrapalhar as chances de eleição de Jair Bolsonaro.
Victor Granado, ao saber da operação, obrigou Queiroz a fornecer senhas de contas bancárias. Segundo Marinho, o montante presente nessas contas seria superior ao R$ 1,2 milhão divulgado quando a operação foi deflagrada.
Do Poder360