“Bolsonaro é forte candidato a ser o 1º presidente a não se reeleger”, diz Flávio Dino

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O governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), avalia que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta o seu pior momento político desde que foi eleito.

A combinação de uma atuação criticada durante a pandemia com a dificuldade de lidar com o Congresso levam o comunista a fazer projeções pouco otimistas para o atual presidente.

Flávio Dino – Foto: Marcos Corrêa/PR

“Bolsonaro é forte candidato a ser o 1º presidente a não ser reeleito desde que a reeleição foi permitida no Brasil”, disse, em entrevista ao Poder360. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) foram todos reeleitos.

A volta do ex-presidente Lula à arena política com a anulação dos seus processos pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), também fizeram arrefecer as suas movimentações para ser candidato à Presidência por uma frente de esquerda.

Agora, ele considera “natural, quase óbvio” pensar no seu apoio ao petista. Isso, porém, não significa rompimento com a base de 15 partidos que ele construiu, no qual está, por exemplo, o PSDB, representado pelo seu vice, Carlos Brandão.

“Tem uma alta chance que eu apoie o Brandão ao governo”, diz.

Leia a entrevista realizada por telefone na tarde desta sexta – feira, 09 de abril de 2021.

Em 2018, o PCdoB ficou a vice de Fernando Haddad. Em 2022, o partido faz questão de ter a mesma posição em um aliança com Lula?

Nós não temos debatido esses detalhes ainda. Nem a presidência nem a vice. Há uma visão que o Lula tem destacado que é priorizar a agenda de 2021. O PCdoB sempre reivindica um reconhecimento pelo seu papel firme e leal. Mas não é um condicionamento, nem um pleito,. No momento certo, haverá o diálogo e o PCdoB vai defender seus legítimos pontos de vista. Mas não é um condicionamento.

O senhor tem feito acenos ao ex-presidente Lula, mas ainda não houve uma fala definitiva. Afinal, o senhor estará com ele nas eleições do ano que vem?

Tenho um diálogo muito fraterno e positivo com o ex-presidente Lula. Diria que é uma tendência meio que óbvia um apoio nessa direção. Mas há um itinerário até essa conclusão. Há etapas, como definições de aliança, programa. No que depender da minha posição individual, acho que é uma tendência natural, meio que óbvia. Agora, o momento de definir isso e cravar com certeza é maio e junho de 2022.

O PSDB fez um movimento de reaproximação com o PCdoB no Maranhão. O seu vice, Carlos Brandão, voltou ao partido. Há chances de o senhor apoiar a eleição dele para o governo em 2022?

Tem uma alta chance, uma vez que ele é uma pessoa com a qual tenho relação política e pessoal muito antiga. Está conosco há 6 anos. Provavelmente me desincompatilizo em abril do ano que vem e ele assume o governo. Temos outros nomes no grupo, como o senador Weverton (PDT), que também postula. Entre julho e agosto farei conversa com os 14, 15 partidos que acho que ficarão conosco. Sem dúvida o Brandão é um ótimo nome e o fato de ele estar no PSDB fortalece o pleito dele. Eles me apoiaram em 2014, tenho um reconhecimento.

Mas o PSDB também deve ter um projeto nacional desvinculado de Lula.

Essas coisas no Brasil, como sabemos, são muito diversificadas. É difícil verticalizar alianças. Há relações e códigos diferentes no plano nacional e regional. Eu próprio já tive palanque para 3 candidatos a presidente. Tinha eu, com Haddad, o meu vice era Alckmin e um senador do PDT com o Ciro. Acho que não dá para vincular uma coisa a outra. Palanque regional é um e nacional é outro.

Há uma tendência muito forte de reeleição no Brasil. Todos que se candidataram, ganharam. O Bolsonaro segue favorito?

Seguia até 1 mês atrás. Mas o Bolsonaro é uma improbabilidade em tudo. Ele é um forte candidato a ser o 1º presidente que quebra a regra pró-reeleição e não se reelege. Assim como era improvável se eleger, se elegeu. Era quase inacreditável que fizesse tanto disparate no meio de uma pandemia, e ele fez. E então acho que o que era tido como mais provável, que era ele se reeleger, virou agora uma improbabilidade.

Qual a chance de uma candidatura de centro ser forte o suficiente para tirar o Bolsonaro ou o Lula do 2º turno?

Eu espero que tire o Bolsonaro. Desejo muito que isso aconteça. Seria algo civilacional para o Brasil. Acho difícil uma candidatura mais para o meio, com perfil liberal, deslocar a esquerda. Desde 1989, a esquerda sempre foi um dos polos da disputa. O que alternou foi o outro lado. O Collor, na direita. FHC, no centro. O Bolsonaro na extrema-direita. O que acho possível é que essa alternativa ao centro desloque o Bolsonaro. Acharia um excelente sinal para o Brasil e o mundo. O Brasil não aguenta mais 4 anos de Bolsonaro. Haveria um disputa mais qualificada. Seria uma disputa de ideias. Com Bolsonaro, ele representa essa milicianização da política. Olha as redes de apoio a ele… Bolsonaro é um miliciano, um despudorado, uma pessoa sem limites. Provou isso hoje ao atacar de modo vil o Supremo. Faz fake news o tempo todo. É um desqualificado.

Ele citou o senhor na tradicional live de 5ª feira dele…

Mais uma prova do que venho dizendo. É uma pessoa abjeta. Primeiro, vem falar de trabalho. Está aí um assunto que ele não entende. Não entende de quase nada. Mas trabalhar certamente ele não tem autoridade para falar. Basta olhar que ele vive de férias. Vive passeando. A agenda dele é um amontoado de inutilidades. Eu inauguro por mês mais obras que ele por ano. Ele não conhece o conceito de limites e ultimamente perdeu o conceito do ridículo, que não sei se ele teve um dia. Vem me cobrar qualquer coisa da pandemia sendo que o Maranhão tem o menor número de mortes na pandemia. E ele é tido como o presidente mais desastrado do mundo no combate ao coronavírus.

Voltando às eleições do ano que vem, por que o senhor acha que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não conseguiu crescer nas pesquisas apesar de ter garantido a maior parte das vacinas do país?

Porque acho que o povo brasileiro não está debatendo eleição. O Brasil é muito grande. Se tornar liderança nacional é muito difícil, um processo. Eu não descartaria o Doria pelos número de hoje. Acho que ele não cresceu ainda, mas pode vir a crescer. Acho precipitado tirar ele do jogo.

Como o senhor vê a relação de Bolsonaro com as instituições em um eventual 2º mandato?

Esse é um risco de que ele se sinta ainda mais autorizado a cometer os desvarios despóticos. Ele se sentiria aprovado, legitimado e, ao mesmo tempo, as instituições já muito fraturadas, estressadas. É um teste de stress permanente para conter os impulsos autoritários. Seria um cenário apocalíptico, apocalíptico no sentido bíblico mesmo.

Mas a oposição tem sido fraca no Congresso. Como Lula conseguiria governar com um Congresso como o atual?

Ocorre que esse Congresso, em larga medida, é resultado da avalanche bolsonarista em 2018. Em uma outra eleição, eu não aposto que a configuração seria similar a esta. É um ponto fora da curva. Em condições normais, mesmo com figuras mais conservadoras, mas com um ambiente qualificado. Não vejo dificuldades. Não acho que a próxima Câmara será igual. E, por outro lado, com o comando político mais organizado é possível governar com centro, centro-direita. Eles já apoiaram certas agendas do governo Lula.

Como o senhor viu a determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, de instalar a CPI da Covid?

É uma decisão que qualquer estudante de Direito Constitucional daria. Porque todos nós sabemos que a jurisprudência do STF diz exatamente o que o Barroso disse. Não há ineditismo. Houve outras decisões em outros momentos. Como professor de Direito Constitucional há 28 anos me surpreenderia se a decisão fosse outra. É correto.

Há uma crítica de politização do STF…

Toda Corte constitucional do planeta tem uma carga política em suas decisões. Ao arbitrar temas relacionados à Constituição, estão na fronteira do direito com a política. Agora, a questão é: é política partidária? Resposta: não. O fato do alcance e repercussão política é inevitável. Isso acontece no planeta todo e não há como ser diferente. São 3 poderes políticos e isso está na Constituição. Não pode ter política partidária. E, seguramente, o Barroso não tem vinculação partidária.

Ainda sobre o STF. O senhor reabriu templos no Maranhão no meio da pandemia. Por que?

Nunca fechamos na verdade. Tivemos no lockdown, ano passado, e recentemente por 3 dias que fiz acordo com as lideranças religiosas. Nunca tive um decreto fechando igreja. Sempre fomos para a mediação, conversa. Cumpri a decisão do Kassio (Nunes Marques) de ter 25%. Semana que vem vamos ter uma revisão junto aos pastores.

Com informações do Poder 360

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