Segundo o IBGE, os preços do café moído apresentaram trajetória de alta ao longo de todo o ano passado
Problemas climáticos que reduziram a oferta de café e o forte ritmo das exportações contribuíram para que os preços do produto aumentassem no mercado interno. O café moído saltou 39,6% na inflação de 2024, um incremento de 0,15 pontos percentuais em relação ao ano anterior, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado na sexta-feira (10/1).
Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços do café moído apresentaram trajetória de alta ao longo de todo o ano passado.
Entre janeiro e novembro de 2024, as exportações brasileiras de café alcançaram 46,399 milhões de sacas de 60 quilos, conforme levantamento mais recente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Mesmo ainda faltando os dados de dezembro para fechar o ano, o volume já é um recorde anual, superando em 3,78% a maior quantidade já registrada – 44,707 milhões de sacas, nos 12 meses de 2020.
Além das exportações, a elevação nos preços que atingiu o mercado interno veio do dólar valorizado frente ao real, dos estoques justos e de incertezas relacionadas ao potencial produtivo da temporada 2025/26, na avaliação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Há também um impacto do clima. Em novembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) reduziu em 3,5 milhões de sacas de 60 quilos a estimativa de produção de café brasileira da safra 2024/25, o que corresponde a uma queda de 5,8%.
As estimativas de volume ficaram em 69,9 milhões de sacas, pressionadas por efeitos climáticos adversos, em particular sobre as lavouras de arábica.
Inflação dos alimentos
O setor de alimentos e bebidas, que é o de maior peso no cálculo da inflação oficial do Brasil, foi o grande destaque de 2024 pela alta de preços. Carnes, café, leite e frutas foram os itens que mais subiram neste grupo, ajudando a impulsionar o resultado final do IPCA.
Ao encerrar 2024 com alta de 4,83%, resultado geral do índice ficou acima do teto da meta da inflação para o ano. A meta era de 3%, com tolerância até 4,5%.
O grupo de alimentação e bebidas foi o que teve a maior alta entre os componentes do índice em 2024, ao avançar 7,69% no acumulado do ano. Em 2023, o crescimento deste grupo havia sido de apenas 1,03% em 2023. A elevação desta categoria foi influenciada pela alta nos preços da alimentação no domicílio (8,23%). A inflação da alimentação fora do domicílio aumentou 6,29%.
Entre os 16 sub-grupos de alimentos e bebidas consumidos nas casas dos brasileiros, houve queda em somente um, o de tubérculos, raízes e legumes, com redução de 21,17%. Farinhas, féculas e massas ficaram estáveis e todos os demais itens tiveram altas.
Expectativas
O ano de 2025 promete ser novamente desafiador para a cafeicultura nacional e mundial, sobretudo no que se refere ao atendimento da demanda global.
Segundo pesquisadores do Cepea, os preços domésticos e externos, que já operam em patamares recordes, devem permanecer elevados, tendo em vista uma projeção de curto prazo sem grandes aumentos de produção, estoques apertados do grão e demanda mundial firme.
No Brasil, já são quatro safras em que a produção não renova o recorde – 2020/21 foi a última temporada em que o volume colhido ficou acima de 60 milhões de sacas, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
E essa sequência de safras aquém do esperado foi prejudicada pelo clima desfavorável. Pesquisadores reforçam que a temporada 2025/26, que será colhida em meados de 2025, ainda terá reflexos do comportamento do clima de 2024.
Além do Brasil, o clima de 2024 também prejudicou a safra do Vietnã, segundo maior produtor global de café. “Ou seja, ao menos no curto prazo, não existem variáveis que indiquem alguma recuperação consistente de estoques ou mesmo redução forte de consumo”, diz o Cepea, em nota.
Nas exportações, além do contexto mundial de baixa oferta e de demanda aquecida, o real desvalorizado na comparação com o dólar eleva a competitividade do café brasileiro e deixa as exportações mais atrativas ao vendedor nacional.
Por Nayara Figueiredo/GLOBO RURAL — São Paulo