Um casamento na Bahia deu início a uma cadeia do que foram alguns dos primeiros casos conhecidos de covid-19 no Brasil.
Um casamento na Bahia deu início a uma cadeia do que foram alguns dos primeiros casos conhecidos de covid-19 no Brasil. Nos EUA, 57 de 61 participantes de um coral foram infectados durante um único evento em março.
Mas embora episódios como esses possam fazer com que o vírus pareça sempre agir em efeito dominó, há também relatos de pessoas que passaram dias dividindo o teto com alguém doente sem contrair o vírus.
O cálculo da “Re” do novo coronavírus (Sars-coV-2), como é chamada a taxa de transmissão epidemiológica, aponta que uma pessoa doente pode contaminar, aproximadamente, duas ou três outras.
A estimativa, no entanto, é feita com uma base larga, já que algumas pessoas não contaminam ninguém (especialmente as que seguem corretamente os protocolos de isolamento), enquanto outras são capazes de passar a covid-19 para dezenas —o que é chamado de superpropagação ou superdisseminação.
O que torna alguém um superpropagador?
A questão é complexa e não há, por enquanto, uma resposta definitiva da ciência. No entanto, pesquisadores já apontam que um conjunto de componentes pode levar alguém a se tornar um superpropagador:
Fatores biológicos
Embora não se saiba bem o porquê, algumas pessoas apresentam maior carga viral em seus organismos.
“Uma teoria aponta que o vírus reagiria de forma diferente em organismos de determinadas pessoas —talvez, por ter imunidade melhor, algumas consigam conter a reprodução viral. Quem tem essa carga maior poderia também oferecer maior risco de contágio quando entra em contato com outras pessoas”, explica Rodrigo Araújo, professor de microbiologia da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e pesquisador de pós-doutorado na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Fatores comportamentais
“Pessoas que falam mais alto, exercem atividades que falam muito, como palestrantes, ou quem possui tosse crônica, também são potenciais superdisseminadores”, aponta Igor Marinho, infectologista do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Isso por que essas ações fazem com que a pessoa solte gotículas de saliva, e a principal forma de contágio do novo coronavírus é justamente por meio das secreções respiratórias. As pequenas gotas podem ficar em superfícies ou até serem aspiradas por quem está por perto.
“Cada vez mais estudos científicos apontam a possibilidade do vírus também ficar no ar. As gotículas maiores caem, mas, aparentemente, partículas menores podem ficar suspensas durante algumas horas”, indica Araújo.
Outro fator são os hábitos comunitários de cada um: com quantas pessoas cada um se encontra, qual o nível de proximidade que mantém com elas e se toma os cuidados de prevenção, como usar máscara e higienizar as mãos constantemente.
Locais por onde passam
Transportes públicos, bares, festas e quaisquer outros lugares que possibilitam aglomerações oferecem potencial para que uma pessoa doente se torne um superdisseminador, passando o novo coronavírus para várias outras.
Assintomáticos têm potencial de superdisseminação
Infectados pelo Sars-CoV-2 que não apresentam sintomas —os chamados assintomáticos— podem achar que estão saudáveis e, sem saber, transmitir o vírus por onde passarem e para todos aqueles com quem mantiverem relações próximas, daí a importância de todas as pessoas seguirem as recomendações de distanciamento físico e prevenção.
“Um bom caso para ilustrar isso é o da cozinheira norte-americana Mary Mallon, que infectou dezenas de pessoas com febre tifoide por ser portadora assintomática e crônica da bactéria causadora da doença. O novo coronavírus não fica no organismo de forma crônica, mas ele também pode causar danos a dezenas por meio de alguém sem sintomas”, afirma Araújo.
Medidas de proteção são as mesmas
“Seguir as orientações dos órgãos de saúde para a prevenção da doença evitaria uma superdisseminação, mesmo que exista um fator biológico que influencie no contágio. A máscara, por exemplo, já impediria que uma pessoa com maior carga viral deixasse partículas por onde passasse”, esclarece Marinho, infectologista do HC-SP.
Com informações do Uol