Estudo estima que, diante do cenário de tendência atual, a obesidade e o sobrepeso poderão ser responsáveis por 1,2 milhão de mortes.
Em 20 anos, 48% dos adultos brasileiros (com mais de 18 anos) viverão com obesidade e outros 27% estarão com sobrepeso, totalizando 75%. Isso significa que 130 milhões de brasileiros deverão estar acima do peso em 2044. Deste total, 83 milhões estarão com obesidade e 47 milhões com sobrepeso. As estimativas foram apresentas no Congresso Internacional sobre Obesidade 2024.
Hoje, 56% dos adultos brasileiros têm obesidade ou sobrepeso (34% com obesidade e 22% com sobrepeso) e esse número vem aumentando rapidamente ao longo dos anos. Entre 2006 e 2019, a prevalência de obesidade quase dobrou.
Para especialistas, vivemos uma “epidemia” de obesidade e é preciso que governos olhem para a doença e foquem em políticas de prevenção para que as estimativas não se concretizem.
“É fundamental tratar os casos existentes de obesidade e evitar que os casos de sobrepeso transitem para a obesidade. Pensando na prevenção do sobrepeso e da obesidade, é importante trabalhar em todas as faixas etárias, desde a primeira infância até a fase adulta, melhorando os ambientes alimentares por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis, como consumir uma diversidade de alimentos frescos e minimamente processados e, ao mesmo tempo, evitar escolhas não saudáveis, como alimentos ultraprocessados“, disseram os autores do estudo.
O estudo estima que, diante do cenário de tendência atual, a obesidade e o sobrepeso poderão ser responsáveis por 1,2 milhão de mortes e 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e doença renal crônica.
A obesidade é uma doença multifatorial, que envolve fatores genéticos, sociais, culturais, econômicos e ambientais.
“Esses dados são alarmantes e deixam claro que precisamos focar em políticas de prevenção e nos afastar do discurso ‘conveniente’ de que a obesidade é uma questão de hábitos e escolhas. Se não unificarmos esforços, com governo e sociedade civil, estaremos, ano após ano, congresso após congresso, apenas divulgando novos dados assustadores”, alertou Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO).
Crianças e adolescentes afetados
Não só adultos, mas crianças e adolescentes também poderão ser afetados se nada for feito nos próximos anos. Ana Carolina Rocha de Oliveira e Eduardo Nilson, autores da pesquisa apresentada no Congresso Internacional sobre Obesidade, fizeram um estudo de modelagem para estimar as tendências de 2023 a 2044:
- Obesidade em meninos de 5 a 9 anos: de 22,1% para 28,6%;
- Obesidade em meninas de 5 a 9 anos: de 13,6% para 18,5%;
- Obesidade em meninos de 10 a 14 anos: de 7,9% para 17,6%;
- Obesidade em meninas de 10 a 14 anos: de 7,9% para 11,6%;
- Obesidade em meninos de 15 a 19 anos: de 8,6% para 12,4%;
- Obesidade em meninas de 15 a 19 anos: de 7,6% para 11%.
Crianças e adolescentes que vivem com obesidade têm maiores chances de desenvolver doenças como diabetes tipo 2 na vida adulta, AVC, hipertensão, câncer colorretal e doença cardíaca coronária.
“Os resultados do estudo apoiam a necessidade urgente de políticas públicas para prevenir e tratar o sobrepeso e a obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS) e demonstram prováveis impactos epidemiológicos da obesidade infantil no Brasil se não forem tomadas medidas apropriadas”, alertam os pesquisadores.
Em março, o Atlas Mundial da Obesidade 2024, que reúne dados de 186 nacionalidades, apontou que a obesidade e o sobrepeso devem atingir metade das crianças e adolescentes do Brasil até 2035 (cerca de 20 milhões de jovens).
Em nível mundial, o atlas diz que, se as tendências atuais continuarem até 2035, 770 milhões de crianças e adolescentes devem viver com sobrepeso e obesidade — um aumento de 22% (em 2020) para mais de 39% até 2035.
Por Mariana Garcia, g1