Os três pararam de funcionar às 12h45 pelo horário de Brasília. O apagão teve grande impacto financeiro e provocou prejuízos nos mais variados tipos de negócios.
Nesta segunda-feira (4), mais ou menos 2,8 bilhões de terráqueos compartilharam os mesmíssimos sentimentos: a ansiedade e a frustração de não conseguir atualizar as redes sociais.
De uma vez só, pararam de funcionar o Facebook, o Instagram e o WhatsApp – de longe, o aplicativo de mensagens mais usado pelos brasileiros. E mais difícil do que se adaptar a essa parada repentina é calcular o tamanho dos prejuízos que ela provocou.
Em um ponto, os passageiros não esperavam só pelo ônibus. Desde 13h, mensagens ficaram no ar. Foi comum se sentir um pouco ou muito perdido.
“Eu, que não sei andar aqui direito, preciso falar com minha mãe e irmã se, no caso, acontecer alguma coisa. No caso, tem isso”, conta a recepcionista Adriely Bezerra da Silva.
E mais difícil encontrar um caminho para aquilo que precisava chegar: “Tenho até meia-noite para entregar esse trabalho, e eu saio 23h daqui. Eu ia enviar para ela para ela poder enviar para o professor o trabalho no horário certo. Hoje, a sociedade gira em torno das redes sociais”, diz Ludmila Nogueira, operadora de caixa.
O apagão do WhatsApp, do Instagram e do Facebook teve grande impacto financeiro e gerou prejuízos nos mais variados tipos de negócios. Nas companhias que têm funcionários trabalhando de casa, a comunicação ficou truncada. Consultórios, serviços e até tribunais de Justiça tiveram dificuldade de confirmar agendamentos. Sem falar de autônomos e pequenas empresas que ficaram “fora do ar” com as três redes sociais.
“Eles estão pedindo produtos, orçamentos, não tem como fazer para eles, né?”, diz a administradora Vitória da Silva Santos.
O motoboy Diego Luiz Alves Araújo, que ganha por entrega, passou a tarde estacionado: “Eu trabalho com uma empresa que manda entrega pelo WhatsApp, eles só têm sistemas. Cada entrega feita a gente recebe. Se não fizer entrega, não tem o retorno”, afirma.
Pelo menos 175 mil restaurantes, a maior parte em São Paulo, usam o aplicativo para vender e sentiram no caixa a indisponibilidade da rede. Ficou então o saldo do almoço: refeições à espera dos pedidos que não chegaram por WhatsApp.
“Sobrou, sobrou bastante comida. Não deu para fazer entrega por WhatsApp, então, sobrou um pouco”, explica Joel Santana Santos, gerente de lanchonete.
E a farmácia que tem dois funcionários só para atender o “balcão digital” teve que orientar os clientes: “Cliente de idade não entende que teve uma parada geral. Mas a gente explica que WhatsApp parou, a gente vai atender por telefone e vai seguir”, diz Cintia Teixeira Beteguela, gerente da farmácia.
Foi um dia para lembrar que a gente já se falava bem antes das redes sociais.
“Hoje, eu mandei mensagem para a minha esposa via SMS, fazia muitos anos que eu não mexia nisso”, conta o assistente Felipe Barbosa dos Santos.
O problema começou quando faltavam 15 minutos para 12h na Costa Leste dos Estados Unidos, 12h45 pelo horário de Brasília. Em poucos minutos, um sistema de queixas de usuários sobre serviços na internet recebeu mais de 120 mil reclamações relacionadas ao Facebook, ao Instagram e ao WhatsApp. A empresa usou outra rede social para reconhecer a interrupção.
No Twitter, o Facebook postou: “Estamos cientes que algumas pessoas estão tendo dificuldades para acessar nossos produtos. Estamos trabalhando para que as coisas voltem ao normal o mais rapidamente possível e pedimos desculpas pelo inconveniente”.
Funcionários que tentavam entrar na sede do Facebook para consertar o defeito não conseguiam porque os crachás de acesso não funcionavam.
A primeira suspeita é que tenha sido uma falha no Sistema de Nomes de Domínios – conhecido pela sigla DNS em inglês. O DNS funciona como uma agenda de telefones. Ao lado do nome de cada site, aparece uma sequência de números que representa o endereço de IP. É essa sequência que direciona o usuário para um site na internet.
O diretor de análises de internet, Doug Madory, acredita que o defeito foi causado por uma falha interna do Facebook, e não pela ação de hackers.
“O domínio usado pelo Facebook para traduzir o nome do site para a sequência de números de um computador está inacessível”, explica.
Não é a primeira vez que o Facebook fica tanto tempo fora. Em 2019, foram 24 horas de instabilidade. Mas, com o trabalho remoto por causa da pandemia e o aumento do número de usuários, o defeito desta segunda-feira (4) atingiu muito mais gente.
O Facebook tem quase 3 bilhões de usuários em todo o planeta, sendo que 2 bilhões entram na rede social todos os dias. O Instagram e WhatsApp também conectam 2 bilhões de pessoas pelo mundo. Quando os serviços começaram a ser retomados, o Facebook fez uma nova publicação pedindo desculpas aos usuários.
Na bolsa eletrônica Nasdaq, as ações do Facebook tiveram uma queda expressiva de quase 5%.
A queda dos serviços do Facebook aconteceu horas depois de a antiga gerente de produtos acusar a empresa de priorizar o lucro sobre a segurança do usuário. Segundo Frances Haugen, o Facebook não derruba postagens de fake news ou que estimulam a divisão política porque elas mantêm os usuários mais tempo no site. Haugen vai depor na terça-feira (5) numa comissão no Congresso americano.
Por Jornal Nacional