Crianças de famílias maiores também são melhores de se conviver do que crianças de núcleos reduzidos, mas resultados contradizem outras pesquisas sobre o assunto
Em meio a tantos memes em redes sociais de filhos do meio sendo os “esquecidos” pela família, um estudo recente os trouxe para os holofotes de uma forma positiva. De acordo com uma pesquisa publicada no periódico científico PNAS, nesta segunda-feira, com base em dados de um teste de personalidade realizado por mais de 700 mil pessoas, os filhos do meio são mais honestos, agradáveis e humildes do que os outros. Além disso, quanto mais irmãos, maior era a prevalência dessas características nas pessoas.
Mas ainda não é para imprimir o artigo e levar para as festas de família. Por ser um dos primeiros estudos que abordam essa ótica, ele ainda pode ser contestado, já que vai de encontro ao que outros artigos já publicaram sobre as personalidades de irmãos.
Para realizar a pesquisa, os dois autores Michael Ashtona e Kibeom Lee usaram uma medida de personalidade chamada HEXACO, que serve como uma alternativa ao tradicional modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade (Abertura à Experiência, Consciência, Extroversão, Agradabilidade e Neuroticismo). Suas categorias são honestidade / humildade, emotividade, extroversão, amabilidade, consciência e abertura à experiência. Amabilidade no HEXACO significa uma tendência à flexibilidade, graça e perdão, enquanto a amabilidade nos Cinco Grandes é definida pelo afeto e cooperação.
Os pesquisadores usaram dados do site hexaco.org, onde qualquer pessoa pode fazer um teste de personalidade, para descobrir onde eles se enquadram nessa escala. Para 710.797 indivíduos, eles tinham informações sobre a ordem de nascimento. Para outros 74.920 indivíduos, eles tinham informações sobre a ordem de nascimento e o número de irmãos. (Esses estudos não diferenciam entre meio-irmãos ou outras relações biológicas, em vez disso, definem irmãos como quaisquer outras crianças da casa.)
Nesse conjunto de dados, os pesquisadores descobriram que os filhos do meio tinham as pontuações mais altas em honestidade / humildade e amabilidade, seguidos pelos irmãos mais novos, depois os mais velhos e depois os filhos únicos. Eles também descobriram que quanto mais irmãos uma pessoa tinha, maior era a pontuação nessas mesmas características.
Como as famílias religiosas tendem a ter mais filhos, os pesquisadores analisaram a influência da religiosidade na personalidade das pessoas e chegaram à conclusão de que cerca de 25% dessas diferenças são impactadas pela religião, mas isso ainda deixava a ordem de nascimento e o tamanho da família responsáveis pelo resto. As diferenças entre irmãos são pequenas, mas os autores especulam que podem ser devidas à cooperação forçada que ocorre em famílias numerosas.
“Uma possibilidade de senso comum é que, quando se tem mais irmãos, deve-se cooperar com mais frequência, em vez de agir de acordo com preferências egoístas”, escreveram Lee e Ashtona. “Essa situação atual pode promover o desenvolvimento de tendências cooperativas em geral.”
No entanto, essas descobertas provavelmente não serão a última palavra na pesquisa de ordem de nascimento. Em 2020, por exemplo, outro estudo que procurou diferenças entre filhos únicos e filhos com irmãos não revelou diferenças no narcisismo. E um estudo de 2019 comparando filhos únicos e pessoas com irmãos usando HEXACO encontrou apenas diferenças muito pequenas.
Por O Globo — Rio de Janeiro