Inflação a 12,3%: comer está ficando cada vez mais caro

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Poder de compra do brasileiro reduz com preços elevados pela inflação, que é impulsionada por um contexto global.

Liliane Sousa olha com preocupação as gôndolas do açougue do supermercado. “Não existe mais uma carne abaixo de R$40, nem em dia de promoção”, desabafa. O sobrepreço também está nas demais prateleiras. “Antes com R$200 dava para fazer as compras básicas da semana, hoje em dia não dá duas sacolas. Nem para a moela e o coração está dando”, completa a dona de casa.

Ainda no passeio pelo açougue, um casal observa o preço do filé mignon.

“Agora só dá para fazer filé se for para nós dois. Se chamar a família toda, tem que ser outra opção, que também já custa caro. Tive que trocar o contra-filé pelo coxão duro”, conta a dona de casa Rute Santos, acompanhada do marido, Enoque Gerônimo.

Carne bovina nunca esteve tão cara. Crédito: Lucrécio Arrais.

Para Enoque, que é produtor pecuarista, não há justificativa para o preço tão elevado.

“A carne está caríssima. Nós criamos gado no interior e o preço da arroba vem caindo desde de 2018. Mas a situação no supermercado é outra. Estamos vendendo mais barato e comprando mais caro para comer”, acrescenta.

O sobrepreço é geral e vai da alimentação aos serviços. A gasolina acumula alta de 33% em um ano. O índice inflacionário registrado em maio é de 12,3%, bem acima da projeção estimada para o período. Sem dúvidas, o brasileiro vive um período de crise, onde o pós-pandemia, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além da mitigação da produção, deixando os recursos ainda mais escassos, são algumas das explicações para um problema que tem maltratado a população.

Preço da carne bovina transforma o item em um artigo de luxo. Crédito: Lucrécio Arrais.

A insegurança alimentar retorna como um fantasma para as famílias brasileiras. O país, que havia saído do mapa da fome, em 2014, retornou em 2018 e a situação está cada vez pior. São 19 milhões de famintos, além de 160 milhões em situação de insegurança alimentar, sem saber quando será a próxima refeição. Os dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) descortinam um cenário de desesperança.

Conjunto de fatores encarecem a cesta básica 

Um estudo da PUC mostra que a cesta básica ficou 21% mais cara em março. Outra pesquisa, desta vez do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que em Brasília o valor da cesta pode custar 62,85% do salário mínimo.

Carnes acumulam sobrepreço de 42,5%. Crédito: Lucrécio Arrais.

No Piauí, esta realidade não é diferente. As famílias temem pela própria alimentação com a alta dos custos. “Meu medo é faltar o arroz e feijão em casa. Ter que começar a pedir ajuda para parente”, conta Ivana Mendes, empregada doméstica e mãe de duas crianças.

Stefano Lopes é economista e afirma que contexto global impulsiona a crise. Crédito: Lucrécio Arrais.

Para o economista Stefano Lopes, existem fatores que impulsionam essa crise. “O Brasil tem um problema de seca no Sul e Sudeste. A oferta diminui e os preços sobem, com a chamada lei da oferta da procura. A pandemia também impulsiona isso, porque o mundo parou por quase 4 meses. Isso bagunça o preço das mercadorias como a soja, milho, trigo”, revela.

O produtor brasileiro termina priorizando o envio da produção para o exterior, desabastecendo o mercado interno. “O produtor de soja, por exemplo, prefere vender para o exterior, que paga mais caro que o mercado nacional. Esse é um problema. As pessoas terminam pagando mais caro para não deixar de comer. De forma coadjuvante, o preço dos combustíveis também aumentou o frete”, considera Stefano.

A guerra russo-ucraniana é outro fator preocupante. A Rússia foi isolada economicamente do mundo após os ataques a centros populacionais como Kiev e Mariupol, na Ucrânia. “A Rússia é um grande exportador de fertilizantes. Isso afeta vários produtores em todo o mundo. Isso também influencia o preço da carne. Se subir o preço do milho e da soja, sobe o da carne também, porque são insumos da ração”, analisa. 

O salário mínimo reduziu o poder de compra. “O salário é reajustado de acordo com o índice IPCA, que é de pouco mais de 12%. No entanto, isso é uma média. A gasolina subiu muito mais do que isso, além do preço dos alimentos e do próprio gás de cozinha. Termina que a correção salarial de acordo com a inflação não corrige a realidade do brasileiro. Envolve energia, arroz, feijão, mas em uma média simples”, aponta. 

Nutrição em um contexto de crise! 

Os nutrientes podem custar caro. Eles estão em diversos itens, como a proteína das carnes, ou as vitaminas e minerais das frutas, verduras e legumes. O problema é que alimentos frescos nunca estiveram tão caros. O IPCA revela que os itens de salada estão 25% mais caros após um ano. Já a carne acumula uma alta de 42,5%. O impacto é econômico, mas, acima de tudo, nutricional.

Fiambre, linguiça, embutidos e enlatados ganham cada vez mais espaço nas despensas. O consumo de produtos industrializados repletos de conservantes, corantes e produtos químicos termina sendo uma realidade que cabe no bolso. Os chamados “ultraprocessados”, condenados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são realidade no cotidiano de milhões de famílias.

Larisse Coutinho dá dicas de como manter a alimentação saudável em um contexto de crise. Crédito: Lucrécio Arrais.

A verdade é que esses produtos devem ficar fora da despensa.

“Esses são alimentos industrializados e que não tem valor nutricional, orientamos nossos pacientes a não fazer o uso diante de tantas outras opções mais saudáveis e que irão trazer benefícios à saúde e não malefícios”, considera Larisse Coutinho, nutricionista clínica. Larisse defende que é possível compensar o valor nutricional das refeições com criatividade. “Temos uma infinidade de alimentos regionais onde podemos variar no cardápio e não ter prejuízos na saúde e qualidade de vida”, revela.

É possível criar um cardápio nutritivo com substituições para o frango e a carne vermelha, por exemplo.

“As leguminosas, vegetais verde-escuros, atum, sardinha, proteína de soja, sementes, são ricas em ferro, fibras, vitaminas do complexo B e ainda possuem uma boa quantidade de proteína’’, orienta Larisse.

O consumo de frutas e legumes deve ser priorizado. A orientação é buscar opções mais baratas, como produtos regionais que estejam na época.

“Frutas, legumes, sementes, cereais tem sua importância na alimentação do brasileiro. Com equilíbrio conseguimos adequar uma alimentação saudável sem ter prejuízos nutricionais à saúde”, finaliza Larisse.

Com informações do Cidade Verde

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