Mais de 600 mil quilos da fruta foram vendidos no Brasil nos últimos oito meses. Expectativa para 2021 é que os negócios possam até mesmo triplicar.
Originalmente trazida da África, a melancia é um fruto conhecido por ser arredondado, de polpa vermelha, doce e com alto teor de água. Mas seu aspecto, eternizado no imaginário brasileiro por personagens como a Magali, da Turma da Mônica, talvez fosse diferente se Maurício de Souza inventasse a história em quadrinhos hoje.
O motivo é a expansão da melancia amarela, que tem ganhado cada vez mais espaço nos supermercados e no gosto dos consumidores. Além da cor diferente, a fruta é mais doce e tem menos caroços do que a original.
Embora já exista na natureza, a melancia amarela passou por um processo de hibridização e melhoramento convencional para atingir as características desejadas.
“Isso nada mais é do que o cruzamento e a escolha de linhagens até chegarmos à polpa amarela”, explica Diego Lemos, gerente de cultivo de melão e melancia da Nunhems, divisão da multinacional alemã Basf para a área de sementes de frutas e hortaliças.
A empresa alemã já trabalhava aqui no Brasil com a Pingo Doce original, variedade que é vermelha, mas tem menos caroços. Em 2020, lançou a Pingo Doce amarelinha.
De acordo com Lemos, o projeto da Nunhems tem como objetivo conectar cadeias a fim de oferecer um produto rastreável, com boa qualidade e que promova o consumo de frutas.
“Conectamos o produtor ao distribuidor, ao varejista e ao consumidor final. Por isso, as áreas de produção também foram pensadas para que tenhamos a melhor qualidade do fruto, com a menor distância de transporte e atingindo a maior parte do país”, diz ele.
Intercalando a produção ao longo do ano, as áreas ficam no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Goiás, Tocantins e Pernambuco.
Sucesso de vendas
Embora os estudos de mercado inicialmente considerassem que a novidade entraria para um nicho muito específico, as vendas logo mostraram um grande potencial.
“Nos últimos oito meses, foram vendidos mais de 600 mil quilos da amarelinha. Para nós, como empresa, é muito interessante”, afirma Lemos, revelando que a projeção é duplicar ou até mesmo triplicar as vendas em 2021.
A surpresa também foi grande para Igor Martinez, produtor da região de Avaí, no interior de São Paulo. “Nós separamos 20 hectares para a melancia amarela na safrinha porque não sabíamos se ela iria pegar no mercado, mas, no fim das contas, faltou fruta para atender à demanda”, conta ele, que deve aumentar sua área de produção na próxima safra.
Ainda segundo Martinez, do plantio até a colheita, são aproximadamente três meses, dependendo das condições meteorológicas. E, para que tudo corra bem é necessário seguir a cartilha com as exigências do projeto Pingo Doce.
“Toda a nossa lavoura agora é de fertirrigação por gotejo e temos mais abelhas para a polinização, porque o manejo, no geral, é mais complicado com a amarelinha do que com a original”, explica.
Diferenciais da amarelinha
A estética inusitada não é a única responsável pelo sucesso da fruta. Ela também é mais doce do que a melancia comum e tem menos caroços – e eles são comestíveis. “Enquanto o brix da melancia vermelha é de 7 ou 8, esse grau de doçura na amarelinha passa de 10. Já cheguei a ver uma de 14”, diz Martinez.
A nutricionista e engenheira de alimentos Georgia Castro explica que a coloração da fruta está associada a sua composição. “O que faz com que sua polpa seja mais vermelha ou mais amarela é a quantidade de licopeno e betacaroteno. Quanto mais dessas substâncias, mais avermelhada é a fruta”, afirma.
Outro diferencial importante da Pingo Doce amarela é a quantidade de fibras. “Enquanto há 0,9 grama de fibra a cada 100 gramas de melancia vermelha, na amarela esse número é de 1,5 grama, o que, nos parâmetros da Organização Mundial da Saúde, já a caracteriza como fonte de fibras”, explica a nutricionista.
Ela também destaca a quantidade de citrulina, aminoácido importante para a formação de proteína, que é maior na amarelinha. Em comum, as melancias amarela e vermelha têm a quantidade de vitaminas A e C, além de baixas calorias e quantidade de água. “Em 200 gramas de melancia, há um copo de água. Por isso, comer essa fruta também significa ter uma maior ingestão hídrica”, afirma.
Castro ressalta que outro impacto do projeto Pingo Doce está justamente no incentivo à ingestão da fruta, já que o alimento “diferente” desperta a curiosidade e o desejo de provar. “Frutas e verduras são o grupo de maior inadequação alimentar entre os brasileiros, segundo o IBGE. Por isso, precisam ser os mais estimulados e favorecidos”, completa.
Vendedor da variedade amarelinha no Rio Grande do Sul, Neimar Gossler, dono da Donato Melancias, afirma que há uma estratégia especial para abrir mercado à “nova” fruta. “A gente fez um trabalho em conjunto com os supermercados, de degustação e oferecimento de frutas fracionadas, e o público acabou gostando”, destaca.
Segundo ele, esse formato aguça a curiosidade das pessoas, o que aumenta a demanda e faz com que os próprios estabelecimentos tenham interesse em manter um bom estoque do produto.
Embora algumas pesquisas de mercado ainda estejam sendo feitas, Gossler acredita no potencial da amarelinha de se consolidar, especialmente para épocas como o verão, em que frutas suculentas são tão procuradas. “A coloração chamativa e o próprio gosto mais adocicado são atributos que a diferenciam e tendem a abrir espaço no mercado”, afirma.
Com informações do Globo Rural