Antes Bolsonaro questionava a veracidade das urnas e agora alega que as Forças Armadas questionaram o TSE sobre supostas vulnerabilidades no sistema eleitoral.
Prestes a encerrar seu mandato à frente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Luís Roberto Barroso criticou a insistência do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), em tentar levantar dúvidas sobre o sistema eleitoral.
“O presidente tinha dado a palavra de que esse assunto estava encerrado”, disse Barroso em entrevista ao jornal O Globo, publicada neste domingo (13). “Chegou a elogiar o sistema de votação eletrônico brasileiro. O filme é repetido, com um mau roteiro.”
Agora, Bolsonaro alega que as Forças Armadas questionaram o TSE sobre supostas vulnerabilidades no sistema eleitoral brasileiro. Barroso explica que, na Comissão de Transparência das Eleições, há um representante das Forças Armadas. “Em dezembro, ele apresentou uma série de perguntas para entender como funciona o sistema”, disse o ministro.
“Elas entraram às vésperas do recesso. Em janeiro, boa parte da área técnica do TSE faz uma pausa, e agora as informações solicitadas estão sendo prestadas e vão ser entregues na semana que vem. Só tem perguntas. Não há nenhum comentário. Não falam de vulnerabilidade”, completou Barroso.
“Quando o presidente diz que encontraram vulnerabilidades antes mesmo de receber as respostas às indagações, ele está adiantando, desavisadamente, a estratégia que ele pretende adotar. Para falar a verdade, ele queimou a largada.”
Para Barroso, Bolsonaro antecipou a estratégia atual para colocar em dúvida ar urnas brasileiras. “Que é: ‘não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem vulnerabilidades’. Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta.”
O ministro diz que o que o presidente tem feito é como assistir a um “filme repetido, com mau roteiro”. “Não há nenhuma razão para assistir à reprise. Antes, o presidente dizia que tinha provas de fraude. Intimado a apresentá-las, (ficou claro que) não havia coisa alguma. Essa é uma retórica repetida. É apenas um discurso vazio.”
Na entrevista, Barroso reforçou ser a favor do banimento do Telegram no Brasil. “Nenhum ator relevante no processo eleitoral pode atuar no país sem que esteja sujeito à legislação e a determinações da Justiça brasileira. Isso vale para qualquer plataforma”, disse o ministro.
“O Brasil não é casa da sogra para ter aplicativos que façam apologia ao nazismo, ao terrorismo, que vendam armas ou que sejam sede de ataques à democracia que a nossa geração lutou tanto para construir”, afirmou.
Para o ministro, “uma plataforma, qualquer que seja, que não queira se submeter às leis brasileiras deva ser simplesmente suspensa”. “Na minha casa, entra quem eu quero e quem cumpre as minhas regras.”
Barroso deixará o comando do TSE ao final deste mês, quando será substituído pelo ministro Edson Fachin.
POR FOLHAPRESS