Cientistas fazem uma reconstituição dos segundos, minutos e horas após o impacto do asteroide que dizimou os antigos habitantes do planeta.
Cientistas têm um registro do pior dia da Terra – ou, pelo menos, o pior nos últimos 66 milhões de anos.
Ele está num trecho de 130 metros de uma rocha retirada do Golfo do México.
Esses são sedimentos depositados logo após um imenso meteoro se chocar com o planeta.
Você deve saber do que estamos falando: do evento que cientistas consideram ter causado a extinção dos dinossauros e a ascensão dos mamíferos.
A rocha que conta essa história foi resgatada por uma equipe liderada por americanos e britânicos, que passaram várias semanas em 2016 cavando na cratera aberta pelo impacto.
Hoje, essa estrutura com 200 km de diâmetro fica embaixo sob a península de Yucatán, no México. Suas partes mais preservadas estão bem próximas ao porto de Chicxulub.
A equipe retirou várias porções da rocha, mas é esta seção com 130 metros que documenta o primeiro dia do que geólogos conhecem por Era Cenozóica, também chamada por outros de Idade dos Mamíferos.
O impacto que mudou a vida na Terra
Um objeto com 12 km de diâmetro abriu um buraco de 100 km de largura e 30 km de profundidade na superfície da Terra.
Essa fenda então colapsou, deixando uma cratera de 200 km de largura e alguns quilômetros de profundidade. Houve um novo desabamento no centro da cratera, formando um anel interno.
Hoje, boa parte da cratera está sob o solo do mar, abaixo de 600 metros de sedimentos. A parte em terra está hoje coberta por rochas calcárias, e sua borda é marcada por um arco de cavernas.
O trecho da rocha é um combinado de materiais estilhaçados, mas seu conteúdo está disposto de tal forma que cientistas dizem ser capazes de perceber uma narrativa clara.
Os últimos 20 metros são dominados por destroços que lembram vidro. Essa é a rocha que foi derretida pelo calor e pela pressão do impacto. Ela escorreu pela base da cratera segundos e minutos após o choque.
Em seguida, há um trecho de rocha derretida fragmentada – formado por explosões conforme a água jorrava pelo material quente.
A água vinha do mar raso que cobria a área naquela época. Ela foi expulsa temporariamente pelo impacto, mas, quando voltou e entrou em contato com a rocha incandescente, gerou violentos fenômenos. Algo similar ocorre em vulcões, quando o magma interage com a água do mar.
Essa fase transcorreu durante uma hora. Conforme a água continuava a fluir para a cratera, e um monte se formou no centro do buraco com destroços carregados pela água. Grandes fragmentos foram acompanhados por materiais mais e mais finos.
Esse processo transcorreu nas primeiras horas depois do impacto.
Depois, bem no topo da seção retirada da cratera, há sinais de um tsunami. Os sedimentos afundaram numa só direção, e sua organização indica que eles foram depositados por um evento de grande energia.
Cientistas dizem que o impacto gerou uma onda gigantesca que deve ter avançado centenas de quilômetros terra adentro. Essa onda acabou por voltar – e os destroços carregados por ela cobrem o topo da rocha extraída do fundo do mar pelos pesquisadores.
Explosão de enxofre
“Isso tudo foi no dia 1”, diz o professor Sean Gulick, da Universidade do Texas em Austin. “Tsunamis se moveram na velocidade de um jatinho. Vinte e quatro horas são uma quantidade suficiente de tempo para que as ondas tenham entrado e saído repetidamente”, ele disse à BBC News.
A equipe de Gulick acredita na explicação sobre o tsunami porque, misturado com os depósitos extraídos, há sinais de solo e carvão – evidências dos grandes incêndios que teriam surgido pelo calor gerado pelo impacto –, tudo transportado para a cratera pelas ondas.
Estranhamente, o que os cientistas não encontraram em nenhum ponto da rocha extraída foi a presença de enxofre. É uma surpresa, porque o asteroide teria se chocado com um fundo do mar composto por até metade de minerais que contêm enxofre.
Por algum motivo, o enxofre deve ter sido ejetado ou vaporizado. Mas isso apenas reforça a teoria atual sobre como os dinossauros tiveram um fim.
O enxofre misturado à água e despejado na atmosfera pode ter reduzido dramaticamente a temperatura, tornando a vida difícil para todos os tipos de plantas e animais.
A injeção de bilhões de toneladas de enxofre no ar causou uma queda de 25 graus Celsius na temperatura por pelo menos 15 anos, fazendo com que a maior parte do planeta congelasse, diz Gulick.
A emissão de enxofre foi muitas vezes superior ao que um vulcão como o Krakatoa é capaz de fazer, também gerando uma diminuição periódica da temperatura.
Os mamíferos emergiram a partir dessa calamidade. Os dinossauros ficaram para trás.
Por BBC/G1