Trechos foram divulgados no domingo, 12 de janeiro.
O papa Francisco conta como seus avós e seu pai se salvaram do naufrágio do transatlântico Princesa Mafalda, assim como outras histórias de sua infância e episódios trágicos de sua adolescência, como a morte de dois jovens conhecidos, que marcaram sua vida e seu pontificado no livro Esperança, considerado sua primeira autobiografia.
O livro, escrito ao longo de seis anos com o jornalista italiano Carlo Musso e que será publicado na Itália em 14 de janeiro e depois em outros 80 países, começa com a história do naufrágio, “minimizado ou encoberto pelo órgãos do regime”, daquele que foi “o Titanic italiano” e que sempre esteve muito presente em sua família porque poderiam ter morrido na tragédia.
– Meus avós e seu único filho, Mario, o menino que seria meu pai, compraram a passagem para aquela longa travessia naquele navio que zarpou do porto de Gênova em 11 de outubro de 1927, com destino a Buenos Aires. Mas não embarcaram. Por mais que tenham tentado, não conseguiram vender o que tinham a tempo. No final, para seu pesar, os Bergoglios tiveram que devolver as passagens e adiar a partida para a Argentina – disse o pontífice.
Alguns trechos foram divulgados, neste domingo (12), pela editora responsável pelo lançamento.
Jorge Bergoglio conta detalhes de seu nascimento com a ajuda da parteira Maria Luisa Palanconi, que também ajudaria no nascimento de todos os seus irmãos e, mais tarde, até do filho de sua irmã.
– Desde meu segundo ano de vida até completar 21 anos, sempre morei no número 531 da rua Membrillar. Uma casa térrea, com três quartos – o dos meus pais, o que nós, meninos, tínhamos e o da minha irmã — um banheiro, uma cozinha com sala de jantar, uma sala de jantar mais formal e um terraço. Aquela casa e aquela rua foram para mim as raízes de Buenos Aires e de toda a Argentina – explicou Francisco.
O papa descreve seu bairro através do exemplo de uma cabeleireira chamada Margot, “que tinha uma irmã que era prostituta”.
– Um dia Margot teve um filho. Eu não sabia quem era o pai, e isso me surpreendeu e intrigou, mas a vizinhança não pareceu se importar muito – relatou.
Francisco conta ainda que costumava visitar as chamadas villas, onde vivem as pessoas com os maiores problemas, e acrescenta:
– Quando alguém diz que sou um papa das favelas, eu só rezo para ser sempre digno disso.
Na autobiografia, o líder religioso descreve pela primeira vez dois episódios trágicos de sua adolescência: o de um colega de classe que cometeu um assassinato e que se suicidou depois de sair da prisão e o de outro garoto que ele conhecia que matou a mãe.
O livro também relata, em um capítulo já noticiado há algumas semanas na imprensa italiana, que antes de sua viagem ao Iraque, em março de 2021, dois possíveis atentados contra sua vida foram evitados.
Francisco fala ainda sobre seu parentesco com o jogador de futebol Omar Sivori, compartilha sua paixão pelo time de San Lorenzo e relembra um jogo lendário de sua infância.
*EFE