Competição disputada na Austrália e na Nova Zelândia com 32 países tem ao menos 95 atletas LGBTQIA+, um recorde, segundo o site Outsports.
Na contramão do universo que envolve o futebol masculino, onde falar sobre diversidade sexual segue sendo um tabu, a Copa do Mundo feminina de 2023 tem mostrado o quanto o esporte pode ser receptivo e acolhedor para elas.
A competição disputada na Austrália e na Nova Zelândia com 32 países tem ao menos 95 atletas LGBTQIA+, um recorde, segundo o site Outsports. O levantamento, que analisou 736 competidoras, levou em conta apenas quem falou abertamente sobre a sua orientação sexual em redes sociais ou em entrevistas. Na Copa do Mundo feminina de 2019, quando 24 seleções disputaram o troféu, a pesquisa identificou 40 mulheres gays, lésbicas e bissexuais.
Para Luiza Aguiar dos Anjos, professora de educação física e pesquisadora do esporte com foco nas relações de gêneros e sexualidade, parte da explicação para isso pode estar no fato de o futebol masculino ser, culturalmente, mais vigiado em comparação ao feminino.
“Se dá muita importância ao futebol masculino historicamente e pouco ao feminino — para valorizar, para dar visibilidade, para dar atenção. E por essa cobrança com relação a masculinidade há muito pouco espaço para que os homens possam se assumir gay ou até fugir da heteronormatividade.”
E, também, porque o futebol feminino se consolidou mais acolhedor e receptivo para mulheres lésbicas.
“Então o futebol, como um terreno propriamente masculino, nessa visão equivocada, estereotipada, quando as mulheres ousam ocupar esse espaço, muitas vezes elas são taxadas como lésbicas. Então, de certa medida, é uma transgressão ocupar o futebol, e o futebol acabou servindo como um espaço de acolhimento a mulheres lésbicas.”
De acordo com a Outsports, a Austrália é o país mais LGBTQIA+ desta Copa, com pelo menos 10 atletas, o que representa mais de 40% da equipe. O levantamento da Outsports identificou 9 atletas do Brasil.
Uma das brasileiras é Kathellen Sousa, jogadora do Real Madrid e camisa 3 da seleção, que namora Fernanda Palermo, atleta do São Paulo. Em março deste ano, as duas fizeram uma publicação em conjunto no Instagram celebrando o dia nacional do orgulho gay.
Outra brasileira é Marta, a principal jogadora do Brasil e eleita seis vezes a melhor do mundo. Marta namora a americana Carrie Lawrence, e ambas jogam pelo Orlando Pride.
Além disso, pelo menos duas treinadores falaram publicamente sobre sexualidade LGBTQIA+, segundo o Outsports: Pia Sundhage (Brasil) e Bev Priestman (Canadá).
“Não é a prática do esporte que vai determinar a sua orientação sexual, isso não tem relação. O que a gente vê é que, de fato, é que o futebol feminino é um espaço acolhedor em que mulheres lésbicas que as vezes [viveriam] uma situação em que na família ela não é acolhida, que há uma rejeição, mas que em um determinado clube, numa pelada, num grupo de mulheres, ela poderia se expressar.”
Por Sarah Resende – G1