Pesquisa revela os motivos que levam os trabalhadores a buscarem por mudanças e quais aspectos costumam reter talentos.
De acordo com pesquisa divulgada pela Robert Half, empresa de seleção e recrutamento, cerca de metade dos profissionais qualificados afirmam que pretendem buscar outro trabalho em 2023 (49% dos entrevistados). A confiança dos profissionais reflete as condições do mercado. De acordo com a última edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), a taxa de desemprego entre as pessoas qualificadas (a partir de 25 anos com formação superior) foi de 4% no terceiro trimestre de 2022, enquanto o índice de desemprego geral foi de 8,7%. Ambas as taxas são as mais baixas desde 2015, reforçando uma recuperação do mercado de trabalho, segundo a Robert Half.
De acordo com o estudo, os profissionais estão mais dispostos a procurar oportunidades mais alinhadas ao seu perfil e momento de vida. Quando questionados sobre os objetivos da mudança, 61% apontaram a intenção de trocar de empresa, mas permanecer na mesma área, enquanto 39% afirmaram ter interesse em uma nova área de atuação, segmento ou profissão. A pesquisa contemplou 1.161 profissionais, igualmente distribuídos entre recrutadores, profissionais empregados e profissionais desempregados, de todas as regiões do Brasil e de diferentes cargos hierárquicos.
Veja os principais motivos que incentivam a busca por mudança de empresa ou setor:
Para mudar de empresa | Para mudar de área de atuação, segmento ou profissão |
Melhores oportunidades de crescimento (72%) | Salário mais alto (71%) |
Salário mais alto (53%) | Mais qualidade de vida (51%) |
Novos desafios (48%) | Realização pessoal (47%) |
Benefícios mais atrativos (35%) | Aprender algo novo (38%) |
Trabalho remoto ou híbrido (33%) | Mais flexibilidade (35%) |
“As taxas de desemprego cada vez mais baixas nos aproximam do que podemos chamar de um ‘mercado de candidatos’, no qual são eles os protagonistas das relações de trabalho. As prioridades mudaram nos últimos anos e podemos enxergar o reflexo disso nesse desejo por movimentação profissional. As pessoas são o principal ativo de uma organização e, tendo em vista os indicadores positivos, recomendo aos gestores que valorizem seus melhores talentos para não perdê-los”, defende Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.
Além desses motivos elencados, a 22ª edição do ICRH aponta que os cinco principais aspectos que mais atraem os profissionais na empresa atual são: remuneração, pacote de benefícios, possibilidade de crescimento, possibilidade de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e bom relacionamento com colegas e pares. Mantovani pontua que, para se manter atrativas e competitivas nesse cenário, o desafio é diário, e as companhias devem investir em políticas claras de trabalho, transparência das lideranças, além de bons pacotes de benefícios e remuneração condizentes com as médias do mercado.
Perfis geracionais, flexibilidade e trabalho híbrido
Para Amanda Adami, gerente da Robert Half, embora a pesquisa não tenha feito recortes por idade, é possível apontar algumas tendências gerais de acordo com os perfis geracionais. Ela cita que as pessoas entre 18 e 30 anos geralmente buscam trabalhos mais flexíveis e não são tão apegadas às empresas. “São pessoas que estão naquele momento de se descobrir na carreira, têm uma ambição muito grande e são mais ansiosas por conta da idade, quando não veem um crescimento muito rápido, ficam pingando entre as empresas até se encontrar. Se encontrar tem a ver com a cultura da empresa, com a tendência de crescimento e a possibilidade de trilhar uma carreira. Já entre os 30 e 40 anos, as pessoas estão querendo formatar mais cadeira de gestão, então entendem que precisam ficar mais tempo em uma mesma companhia e aceitam melhor o trabalho presencial, mas adorariam também um trabalho híbrido”, avalia Adami.
“Já os profissionais entre 40 e 50 anos e acima de 50 geralmente querem trabalhar na empresa presencialmente e pensam mais no futuro, muitas vezes buscando cargos de maior responsabilidade e sendo o oposto do perfil de ‘jumper’, de ficar pulando de empresas todo ano”, acrescenta. Ela pondera, no entanto, que existem áreas em que mudar de emprego com frequência, ou ser um “jumper”, não é necessariamente algo negativo, como no setor de Tecnologia da Informação, no qual o funcionário pode estar interessado em desenvolver um projeto específico com a empresa e, ao fim daquele projeto, acaba optando por outras oportunidades.
Maior demanda por profissionais qualificados e qualidade de vida
Para Sergio Amad, especialista em felicidade aplicada em RH e CEO da Fiter, existem fatores importantes que têm influenciado esse desejo de mudar de empresa. “Primeiro precisamos olhar as estatísticas. O brasileiro está ficando em média 1 ano e três meses nas empresas, sendo que esse número já foi de 3 anos no passado. A explicação está na demanda por vagas qualificadas. No início dos anos 90, o acesso a uma vaga geralmente ocorria por indicação e costumava ser um processo bastante demorado. Hoje em dia, com as plataformas de redes sociais como o LinkedIn, você consegue encontrar profissionais de qualquer região em poucos minutos”, diz Amad.
Ele cita o caso de funcionários da área de tecnologia com alta qualificação, que costumam receber propostas às vezes diárias de headhunters para que eles troquem de cargo para uma empresa que valoriza o talento específico que ele possui a ponto de estar disposta a aumentar os benefícios e o valor do seu salário constantemente até ele aceitar.
Outro ponto que ele cita é a atratividade de algumas empresas pelo que elas representam para os profissionais. “Muitas empresas, como o Google e várias outras, têm uma marca empregadora construída de tal forma que as pessoas têm um sonho de trabalhar lá. Então é natural que se uma pessoa recebe uma proposta daquela ‘empresa dos sonhos’ ela acaba trocando de emprego facilmente, então a marca empregadora, com o branding que realizam pelas plataformas de mídias sociais e muitas vezes pelo vínculo entre o propósito da vida das pessoas e das empresas, acabam criando uma grande atratividade de profissionais”, diz Amad.
O especialista também cita que existe um movimento importante em busca por uma maior qualidade de vida, e que o trabalho mais flexível, como o remoto, permite que as pessoas morem em locais onde o custo de vida é mais barato e mesmo assim possam atuar em grandes empresas que geralmente têm suas sedes em metrópoles ou nas capitais dos Estados, onde o custo de vida costuma ser mais elevado. Ele também cita que o trabalho flexível permite às pessoas passar mais tempo com suas famílias, o que é algo bastante valioso para quem tem filhos, por exemplo.
Por Marcelo Almeida – ISTÉ Dinheiro