Especialista analisa engajamento na rede e se a plataforma pode ser considerada um fracasso.
Julho foi um mês movimentado para os fãs de redes sociais com a chegada do Threads, uma plataforma vinculada ao Instagram que concorre com o Twitter. Após alguns dias desde o lançamento da rede social, a BR Media Group, holding de conteúdo e influência para marcas e criadores, fez um estudo específico para analisar a adesão do Threads.
Conforme a análise, em cinco dias, o Threads contabilizou 100 milhões de usuários cadastrados e 95 milhões de posts. Esse movimento gerou US$150 bilhões de valor de mercado do Meta. A análise, no entanto, apontou uma queda considerável de 20% de usuários ativos na rede social.
Paralelamente, o estudo dos temas com maior engajamento apontou o cluster ‘Fofoca’ como o de maior crescimento. Isso se dá por esses perfis serem atualizados com novidades diariamente. O engajamento do público se concentra, na grande parte, nas temáticas humor (1,64%); música (1,54%) e esporte (1,39%), seguidos por outros nichos, como TV (1,37%), gastronomia (1,32%) e lifestyle (1,32%).
Um fato que não dá pra ocultar é o tempo gasto na plataforma caiu pela metade em pouco mais de uma semana. “Isso não significa que flopou. O Brasil já é o segundo país que mais usa a nova rede social, só perde para a Índia. O aplicativo já tem 150 milhões de downloads no mundo. Isso é recorde. Ou seja, o que está acontecendo é que, como em toda a rede social, a gente tem mais ouvintes do que produtores de conteúdo”, afirma Rafael Terra, especialista em tendências digitais e autor do livro Autoridade Digital (DVS Editora), em entrevista ao Mundo do Marketing.
Mundo do Marketing – Por que, apesar da alta adesão de usuários, o Threads ainda não caiu nas graças das pessoas?
Rafael Terra: Eu não vejo dessa forma. Na realidade, o Brasil já é o segundo país que mais usa a nova rede social, só perde para a Índia. O aplicativo já tem 150 milhões de downloads no mundo. Isso é recorde. Ou seja, o que está acontecendo é que, como em toda a rede social, a gente tem mais ouvintes do que produtores de conteúdo. O TikTok, por exemplo, tem 45% de brasileiros com o app baixado no seu smartphone, mas poucas pessoas produzem conteúdo.
No Threads, poucas pessoas produzem conteúdo e isso, ao meu ver, é uma grande oportunidade de subir na pirâmide, onde você tem muitos ouvintes, telespectadores, seguidores e pouca gente produzindo conteúdo. Você tem ali uma forma poderosa de crescer como marca. Então, eu vejo como uma oportunidade para as marcas, para as pessoas que querem crescer enquanto marca. Não vejo algo, digamos, em queda ou negativo. Muito pelo contrário, vejo como uma grande oportunidade de crescimento.
Mundo do Marketing – Que ferramentas faltam ao Threads para cativar mais pessoas, principalmente os mais jovens?
Rafael Terra: Hoje saiu uma notícia, dizendo que o Threads vai implementar as DMs, as directs, e com certeza é uma das ferramentas que faltam para cativar o jovem, porque ele muitas vezes gosta de conversar no privado. E é uma ferramenta também muito poderosa para as marcas, para uma possível venda. O direct está faltando para, digamos, flertar, conversar com aquele lead mais quente.
Pelo que a plataforma diz, está sendo implementado também a questão da busca real time que o Twitter tem. Isso faz muita falta, principalmente para entendermos aqueles assuntos que estão em alta. São essas duas linhas que mais necessitam de uma providência rápida da plataforma. Toda a rede social em um futuro próximo vira buscador. Hoje, TikTok e Instagram já são buscadores, e o próprio Twitter é um buscador fortíssimo. Isso falta no Threads.
Mundo do Marketing – O microblogging é algo que ainda terá uma vida útil longa? Bluesky, Koo e Mastodon são alguns que vem se empenhando, mas ainda não possuem engajamento como o Twitter. Será que em um possível fim do Twitter essa é uma tendência que passará?
Rafael Terra: A grande questão para o microblogging funcionar é a do conteúdo opinativo e a da conversa. A gente sempre vai ter mais pessoas sendo audiência do que propriamente produtoras de conteúdo em uma rede social com essa pegada. Então, a grande dica para as marcas que querem funcionar nessa plataforma, é que elas têm que ter conteúdo não apenas informativo, mas mais opinativo e, principalmente, estarem abertas à conversa, entrar na conversa real time. Esses são grandes elementos de crescimento de marcas, pessoas, enfim.
Temos que entender também em contextos mundiais, o Twitter ainda é fortíssimo nos Estados Unidos. Agora, no Brasil, faz bastante tempo que não fazia o mesmo sucesso, ao mesmo tempo já temos o Brasil como o segundo país que mais utiliza o Threads. Então, a vemos que é uma tendência que ainda vai durar, mas essa tendência sempre vai ter mais audiência do que produtor de conteúdo. Mas eu não vejo como se diz o fim de nada, não. Vejo, inclusive, oportunidades.
Cada vez mais o Twitter vem fazendo lançamentos, nas últimas semanas para combater o Threads que, ao mesmo tempo, corre atrás da máquina também. O que veremos nos próximos meses é justamente uma briga dessas plataformas, lançando funcionalidades para fazer os usuários ficarem mais tempo. Agora, o que acontece realmente, se for falar em termos gerais de plataforma, é que o ser humano é mais imagético. Costumamos dizer que as pessoas não leem, elas escaneiam as informações e é muito mais fácil escanear uma informação em formato de infográfico, imagens, do que necessariamente texto.
A atenção para plataformas de vídeo, de imagens, como YouTube e Instagram sempre vai ter uma seletividade maior do que uma de texto. Mas a fórmula para o sucesso, digamos, é justamente a questão da opinião e a da conversa, e também de sacadas de mercado. A marca que tem sacadas, que consegue se inserir no contexto do mundo, tem uma assertividade bem mais forte.
Fonte: Mundo do Marketing