Estudo conduzido pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) com 3.988 cidades, cuja representação corresponde a 71,6% do total do país, aponta que 82% dos prefeitos acreditam que não será possível retomar o ensino presencial das escolas da rede pública ainda neste ano e quase 94% não têm data definida para o retorno.
O cenário é reflexo das preocupações e incertezas em relação à pandemia do novo coronavírus. A parcela de gestores (17%) que acredita na possibilidade de reabertura das instituições ainda em 2020 só irá adotar o processo de retomada gradual com a garantia da queda do contágio da doença e, também, a disponibilidade de vacina.
A pesquisa foi divulgada na manhã desta quinta-feira (15/10) e a abrangência territorial representa 31,4 milhões de estudantes da educação básica, sendo 14,6 milhões das redes municipais.
Investimento no ensino remoto
Diante do atual cenário, 97,5% das administrações municipais consultadas têm investido em recursos para reforçar a aprendizagem à distância. Dentro desta amostragem, pouco mais de 98% alegou que está distribuindo material impresso como alternativa para equalizar as desigualdades referente ao acesso aos meios digitais.
Junto a esta estratégia, outras atividades são realizadas: 86,4% responderam que enviam atividades por meio de aplicativos de mensagens instantâneas e 70,6% capacitam os docentes para o ensino remoto.
A paulistana Mariana Teixeira da Silva, mãe da Mirella de 14 anos, que está no oitavo ano do ensino fundamental da rede municipal não aprova o ensino à distância.
“Começou em maio, quando ainda não tinha material didático. Depois, com a criação de um aplicativo pela prefeitura, as atividades e aulas eram disponibilizadas lá. Minha filha ficou semanas e meses sem respostas e eu que corria atrás das dúvidas. Ela já é uma adolescente, mas infelizmente não está conseguindo acompanhar”. Mas ao mesmo tempo, se questiona: “Como é que vai voltar as aulas presenciais se ainda não há cura para a doença?”, diz.
Perspectivas de retomada
Segundo a pesquisa, 2.811 municípios já estão com planos de retorno elaborados ou em fase de elaboração e pouco mais de 72% já possuem comitê ou colegiado interdisciplinar com profissionais de Educação e Saúde para a elaboração de ações em conjunto.
A reabertura das escolas também exige investimento financeiro, além dos gastos convencionais, que representa 25% do orçamento total dos municípios. Isso porque é necessária a compra de equipamentos de proteção individual (EPIs) para docentes e estudantes, além da adaptação dos fluxos de ingresso e saída do colégio e da infraestrutura de espaços em comum, banheiros e salas de aula.
Segundo o levantamento, para 81,5% dos municípios, o mínimo de 25% dos recursos de educação já está comprometido. Mesmo com as instituições fechadas, os gastos referentes à manutenção, material didático e salário dos professores continuaram.
“O Ministério da Saúde disponibilizou R$ 454 milhões para atender a todas as escolas do país, neste processo de adaptação. Acontece que apenas para aquisição de EPIs para os alunos, por exemplo, em todas as regiões do Brasil, o custo é de R$ 3,2 bilhões, considerando a rede estadual e municipal, e de R$ 1,8 bilhão apenas para as redes municipais”, explica a consultora de educação da CNM, Selma Manique.
Para os cálculos, a Confederação Nacional de Municípios levou em conta o número de alunos matriculados nos municípios, tanto em escolas municipais quanto estaduais.
Por Paula Forster, da CNN, em São Paulo