Amostras são alternativas ao uso de animais como cobaias. Episkin, no Fundão, é capaz de recriar tecidos em 17 dias.
O Brasil ganha nesta segunda-feira (9) o primeiro laboratório de bioengenharia de tecidos que vai disponibilizar pele reconstruída para testes em produtos. A unidade, no Rio, vai fornecer amostras de pele humanas recriadas como alternativa ao uso de animais como cobaias.
A filial da Episkin, subsidiária da L’Oréal, será inaugurada às 14h no Centro de Pesquisa e Inovação, no câmpus do Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É a terceira a entrar em operação no mundo, juntando-se à de Lyon, na França, e à de Xangai, na China.
“Produzimos a cada semana milhares de tecidos de pele e epitélios, como córnea, com um rigoroso controle de qualidade”, explicou ao G1 Rodrigo De Vecchi, diretor-presidente da Episkin Brasil.
Segundo De Vecchi, a implementação do modelo de pele reconstruída no Brasil começou em 2016, em colaboração com o Instituto Idor. Mas o laboratório do Fundão traz uma vantagem.
“A diferença é que agora este modelo está disponível para as comunidades científicas brasileiras e latino-americanas e para quaisquer empresas interessadas, a fim de estimular o uso de métodos alternativos”, destacou o diretor-presidente.
Os modelos da Episkin são os únicos validados e recomendados pela Organização para a Cooperação do desenvolvimento Econômico – e aceitos no mundo todo.
Como funciona
Arte mostra como funciona a produção da Episkin — Foto: Infográfico: Juliane Monteiro/G1
A “matéria-prima” são restos de cirurgias plásticas. O descarte, cedido com autorização do paciente, vai para o laboratório, onde se extraem os queratinócitos.
Essas células específicas são cultivadas em placas de cultura e, após 17 dias em contato com o ar, se proliferam, formando múltiplas camadas.
No caso de testes com cosméticos, a parte que interessa é a epiderme, a mais externa – e a que será produzida no Rio.
“Uma das principais vantagens deste modelo é o seu alto nível de reprodutibilidade. Este modelo é histologicamente semelhante à epiderme humana ‘in vivo’”, afirmou De Vecchi.
“Isso significa que ela pode ser usada em avaliações de segurança para produtos químicos cosméticos, bem como qualquer tipo de produto que toca a nossa pele”, detalhou.
“Nossa tecnologia reage a diferentes estímulos, como a agentes químicos, luz e estresse, liberando fatores específicos que refletem o potencial toxicológico e corrosivo de novos compostos químicos”, exemplificou.
Legislação ainda engatinha
Uma resolução normativa do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, previa há cinco anos o uso de alternativas a cobaias.
O texto enumerava 17 procedimentos e fixava o próximo dia 24 de setembro como data-limite para a adoção, quando possível, dos métodos validados.
O Brasil ainda não tem uma lei federal sobre o fim de testes em animais. Um projeto de lei está no Congresso desde 2014.
Oito estados, porém, criaram leis para proibir a exploração de cobaias para este fim:
- Amazonas;
- Mato Grosso do Sul;
- Minas Gerais;
- Pará;
- Paraná;
- Pernambuco;
- Rio de Janeiro;
- São Paulo (o pioneiro).
Parceria com a UFRJ
De Vecchi lembra que a UFRJ – onde a Episkin está sediada – colabora com a L’Oréal há sete anos. A universidade ajuda na pesquisa para a obtenção de neurônios sensoriais humanos.
“O grande objetivo é a inervação da pele humana. Vai servir, por exemplo, para testes de coceira provenientes de alergias de pele”, explicou. “Também será fundamental no desenvolvimento de produtos mais eficazes contra o neuroenvelhecimento da pele”, emendou.
Segundo De Vecchi, a empresa tem desenvolvido métodos alternativos desde 1979. “Em 1989, a L’Oréal parou completamente de testar seus produtos em animais”, lembra.
Com informações do G1