Hoje, cerca de 30% das 250 milhões de pessoas com depressão no mundo não encontram tratamentos adequados e seguem sofrendo com os sintomas.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, campus de São Francisco, nos Estados Unidos, anunciaram hoje, por meio de um artigo publicado na revista científica Nature Medicine, terem realizado um procedimento inédito para tratar a depressão.
Os cientistas implantaram no cérebro de uma paciente um dispositivo capaz de regular os sinais elétricos de forma a evitar que o desequilíbrio desencadeasse novas crises. A paciente, de nome Sarah, declarou que, após o implante, finalmente consegue viver livre de pensamentos suicidas e de fases recorrentes de prostração. Sarah (ela preferiu não informar o nome completo) já havia recorrido a 20 medicações diferentes, tinha passado meses internada, tudo sem eficácia suficiente para que pudesse retomar a vida social e profissional. “Estava exausta. A depressão tinha controlado minha vida inteira. Eu mal me movia. Eu mal fazia qualquer coisa”, contou. Hoje, um ano depois de ser submetida ao experimento, a depressão de Sarah encontra-se oficialmente em remissão.
Os cientistas compararam o dispositivo implantado em Sarah a um marcapasso, aparelho colocado no coração para regular os sinais elétricos que dão o compasso das batidas do órgão. A abordagem de tratamento escolhida para a paciente é conhecida como estimulação cerebral profunda. Ela não é nova. Já é usada, por exemplo, para o tratamento da epilepsia e Parkinson, com a mesma finalidade de equilibrar a troca de sinais elétricos entre os neurônios, as células nervosas do cérebro.
O que distingue o que foi feito em Sarah é a personalização do tratamento. Antes do implante, os cientistas mapearam exatamente os circuitos neuronais que estavam associados aos padrões de sua depressão. Hoje, sabe-se, cada paciente tem circuitos próprios vinculados à doença. “Estamos percebendo cada vez mais que a depressão é causada por falhas nesses circuitos neuronais”, disse Katherine Scangos, autora principal do trabalho e professora de psiquiatria no Weill Instituto para Neurociências da Universidade da Califórnia, campus São Francisco.
O dispositivo foi então colocado exatamente no local do cérebro de Sarah onde os sinais elétricos não eram enviados adequadamente. A função do aparelho, que funciona com uma bateria do tamanho de uma caixa de fósforo, é detectar os padrões associados à depressão e identificar quando eles entram em ação. Quando isso acontecia, o marca-passo cerebral enviava impulsos de estimulação elétrica altamente seletivos que desarmavam a operação. “Basicamente, a depressão de Sarah se dissolveu”, afirmou Katherine.
Sarah não sente quando tudo isso acontece dentro de seu cérebro. E também não percebeu a mudança de humor de uma hora para outra. “Meus amigos começaram a me dizer que eu estava mais positiva. Quando eu entrava na depressão profunda, só conseguia enxergar as coisas pela ótica pessimista, feia”, conta. “Quero dizer às pessoas que passam realmente por períodos muitos sombrios que há esperança. O implante é outra opção de tratamento e espero que aqueles que estão sofrendo procurem seus médicos e peçam alternativas que possam funcionar melhor para eles.”
Hoje, cerca de 30% das 250 milhões de pessoas com depressão no mundo não encontram tratamentos adequados e seguem sofrendo com os sintomas.
MSN