Decisão dos EUA de proibir compra do petróleo russo gera temor de escalada inflacionária no mundo. Especialistas avaliam o cenário.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nessa terça-feira (8/3) o banimento das importações de petróleo russo no país, como mais uma medida para impactar a economia da Rússia devido à guerra na Ucrânia.
Em seu pronunciamento, Biden admitiu que a atitude pode elevar os preços dos barris em todo o mundo: “Entendemos que a guerra de Putin está elevando os preços, mas isso não é desculpa para que as empresas os elevem sobremaneira”, concluiu.
O petróleo já chegou aos US$ 130 o barril, e a previsão é de que siga subindo – até quanto, ninguém se arrisca a dizer.
O vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, foi o único a chutar um valor, quando alertava para os efeitos de uma eventual decisão dos EUA de parar de comprar o petróleo russo, um dia antes de a medida ser efetivamente anunciada por Biden. Ao afirmar que a sanção teria “consequências catastróficas para o mercado global”, Novak previu a alta do barril de petróleo para até US$ 300.
Se o preço do barril efetivamente mais do que dobrar, e os custos forem integralmente repassados aos consumidores no mundo, a perspectiva é de uma escalada inflacionária assustadora. No Brasil, a gasolina poderia, por exemplo, ultrapassar os R$ 15 o litro.
Tudo então dependerá de como o mundo tentará contornar o boicote à produção russa, segundo maior exportador do produto no planeta, atrás apenas da Arábia Saudita.
Os EUA, antevendo a dimensão do problema, já se mexem. Foram bater às portas do velho rival, o chavista Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, para tentar isolar a Rússia e garantir nova fonte de suprimento do petróleo.
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam os possíveis impactos do cenário pós-decisão dos EUA para o bolso dos brasileiros.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, as previsões não são animadoras: “Os preços dos combustíveis, que já estavam subindo, devem aumentar novamente”, explica, lembrando dos recentes e recorrentes aumentos nas bombas dos postos de todo o país.
Segundo Perfeito, o impacto dessa medida recairá sobre a Petrobras e sua capacidade de gerir a crise nacional. Apesar de ter grandes reservas de petróleo em seu território, cerca de 30% do mercado interno depende da importação de refinados feita por empresas privadas e pela estatal. A Petrobras vinha adotando reajustes constantes do preço dos combustíveis, com base na cotação internacional do produto.
Na tentativa de amenizar o impacto no bolso do brasileiro e na inflação, o governo estudar aprovar subsídio para amortecer a alta acelerada dos preços do petróleo. A expectativa é de que o programa tenha duração de três a seis meses, com custo de bilhões aos cofres públicos.
A proposta do governo federal é estipular um valor fixo de referência para a cotação dos combustíveis e subsidiar a diferença entre esse valor e a cotação internacional do petróleo. O pagamento seria feito a produtores e importadores de combustíveis.
Para Luciana Reis, especialista no setor de óleo, gás, infraestrutura, energia e sócia do Barcellos Tucunduva Advogados, a alternativa proposta pelo governo federal dificilmente conseguirá segurar o preço do petróleo por muito tempo.
“Como não somos autossuficientes em derivados de petróleo, teremos que continuar importando, mesmo com o preço elevado. Na venda, entretanto, o valor terá de ser mais barato do que o preço de aquisição, para não impactar a cadeia produtiva do país”, explica.
Reis critica ainda a participação proposta adotada pelo governo à Petrobras. A especialista argumenta que a empresa possui boa saúde financeira para precisar desse tipo de suporte: a estatal registrou lucro líquido recorde de R$ 106,6 bilhões no ano passado.
“Teremos recursos públicos em uma empresa que não precisa disso”, argumenta Luciana.