Ancestral do panda já tinha o falso polegar para segurar talos de bambu

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As transformações peculiares de anatomia que fizeram com que os ancestrais dos pandas (Ailuropoda melanoleuca) desenvolvessem um “polegar falso”, exclusivamente dedicado a agarrar caules de bambu, aconteceram há pelo menos 6 milhões de anos, indica um novo estudo.

A descoberta, feita por pesquisadores da China e dos EUA, indica que o estilo de vida desses ursos é extremamente antigo e bem-sucedido, apesar do risco de extinção que os bichos correm hoje.

“Nosso panda fóssil atingiu a mesma funcionalidade de um panda moderno já naquela época”, declarou à reportagem o coordenador do estudo, Xiaoming Wang, do Museu de História Natural do Município de Los Angeles. No trabalho, que acaba de sair na edição online da revista especializada Scientific Reports, Wang e seus colegas compararam os ossos das patas da frente dos pandas atuais com os de um exemplar do gênero Ailurarctos, descoberto na província chinesa de Yunnan.

Divulgação

Entre os ossos de Ailurarctos estão dentes (um molar e um canino), parte de um úmero (nos humanos, a parte do braço que se articula com o ombro) e, é claro, o pseudopolegar, que corresponde a um alongamento de um osso do pulso, o sesamoide radial. Isso significa que os pandas modernos têm, na prática, os cinco dedos análogos aos dos seres humanos, arranjados em “linha reta”, e um sexto dedo falso.

Nos animais que conhecemos hoje, o polegar falso é curvo na ponta. A curiosa estrutura permite que o animal segure com firmeza os talos de bambus enquanto vai dilacerando a planta com os dentes.

Na verdade, mais do que a fofa pelagem em branco e preto que toda criança conhece, é essa característica anatômica que realmente define esses ursos.

Os pandas praticamente só se alimentam de bambus, e, como seu intestino continua sendo basicamente idêntico aos dos demais ursos, que normalmente comem de tudo e consomem bastante carne, isso significa que o bicho tem de passar 15 horas de seu dia devorando bambus sem parar para satisfazer suas necessidades nutricionais. É por isso que a eficiência do falso polegar é tão importante para ele.

O novo estudo revelou que o pseudopolegar do Ailurarctos é um pouco mais comprido do que o de seus parentes modernos, e também relativamente reto, sem a curva na ponta. “O polegar falso da espécie atual oferece uma ligeira vantagem por permitir que ele segure o bambu de forma mais estável nas mãos, mas a diferença nisso provavelmente não é tão grande”, analisa Wang.

Outra questão importante é a locomoção dos bichos —afinal de contas, ao contrário do personagem da série “Kung Fu Panda”, os pandas da vida real continuam sendo quadrúpedes e, portanto, o “novo polegar” não pode atrapalhar seus movimentos.

“Quando se tornou curvado, o polegar falso, por causa da ponta menos proeminente, também facilitou a locomoção”, explica o autor do estudo. “Pense no que acontece quando o animal pisa nele toda vez que caminha. Por isso, achamos que essa é a razão que explica o fato de ele ter ficado mais curto, e não mais longo, mesmo que uma forma maior dele fosse, em tese, mais útil para agarrar os talos de bambu.”

Embora a planta seja uma fonte de alimento relativamente pobre em nutrientes, ela está disponível o tempo todo, mesmo no inverno, nas regiões da China habitadas pela espécie hoje e no passado. Assim, depender do bambu foi uma aposta evolutiva relativamente segura, ainda que tediosa do ponto de vista humano, o que explica a manutenção desse estilo de vida por tanto tempo.

Do FOLHAPRESS

Leonidas Amorim
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