Transformação digital exige investimento em capacitação profissional para manter a competitividade das empresas.
O perfil do mercado de trabalho muda constantemente conforme avançam as tecnologias e as demandas da sociedade. Até o final do século 19, existia a profissão de acendedor de poste, que perdeu a função com a chegada das primeiras luzes elétricas. Com o atual aumento da digitalização e da automação, a tendência é que surjam novas profissões e, com elas, novos desafios, conforme explica a especialista em carreiras Juliana Guimarães.
“As mudanças macroambientais nos permitem identificar possíveis postos de trabalho que estão a caminho, porque eles estão intimamente ligados à combinação de tecnologia e informação, ou seja, a colaboração entre pessoas e máquinas; seja por meio de inteligência artificial, big data, internet das coisas ou machine learning.”
Segundo a especialista, a transformação digital é o principal desafio das empresas para a manutenção da competitividade. Para isso, é necessário investir em capacitação. “Os profissionais das mais diversas áreas vão ter que se adaptar ao uso massivo de dados e seu uso de forma estratégica nos próximos anos. Isso quer dizer que esses profissionais têm que estar qualificados com todas as atualizações das novas tecnologias. Ou seja, ele tem que estar preparado para ser um lifelong learning, que é aquele que vai ser um eterno aprendiz.”
De acordo com a especialista, algumas das novas oportunidades de trabalho surgirão no Metaverso, que é um ambiente virtual, onde os seres humanos podem interagir socialmente, e até economicamente, por meio de realidade aumentada. Ela cita profissões com aumento da demanda.
“Nesse contexto, podemos falar que começam a surgir alguns novos postos de trabalho como, por exemplo, o gestor de novos negócios de inteligência artificial, analista de dados com foco em internet das coisas, gestão de influenciadores digitais, agricultor digital, especialista em impressão 3D de grande porte. E tem todo um universo sendo criado dentro do Metaverso que dá a possibilidade, por exemplo, de ter corretores imobiliários especializados no ambiente digital.”
Juliana Guimarães ressalta que, paralelamente ao avanço das máquinas, o profissional precisa desenvolver suas habilidades humanas, conhecidas como soft skills, que são inteligência emocional, pensamento crítico, flexibilidade, resiliência, foco em resolução de problemas, consciência social e autogestão.
Para quem se preocupa com o desemprego, a especialista em carreiras afirma que, na medida que alguns postos de trabalho caminham para a extinção, outros vão surgindo.
“A era do emprego como conhecemos, aquela lógica de vender seu tempo para entregar algumas tarefas em troca, não existe mais. A questão é como vamos capacitar as pessoas para essa nova realidade de mercado. Até hoje nos adaptamos bem. E agora, em um mercado que exige um profissional preparado para se atualizar o tempo inteiro, além de ter o desenvolvimento soft skills?”
Principais áreas
A professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), Débora Barem, classifica as profissões com maior demanda em bolsões ou áreas de atuação. Dentre elas, a especialista destaca as profissões baseadas em novas tecnologias.
“Todos os profissionais que viabilizem a redução de barreiras entre o mundo virtual e o físico vão ser muito muito solicitados, seja de gerenciamento de banco de dados, segurança de dados e informações, desenvolvimento de aplicativos. Além das profissões que nós já temos tradicionalmente como analista de sistemas, engenharia de computação, engenharia de software.”
Laura Jorge Donato é analista e desenvolvedora de sistemas em Mococa, interior de São Paulo. Formada há quatro anos em nível superior, ela conta o que a motivou a entrar na área de tecnologia da informação.
“A área de tecnologia da informação segue crescendo muito. Hoje, existem muitas oportunidades no mercado, mas não tem profissionais o suficiente para suprir a demanda. Minha primeira oportunidade foi na faculdade, como estagiária. E hoje tenho quatro anos e quatro meses de empresa.”
Barem também cita a área de fidelização do consumidor, como personal shopper, design de experiências, marketing digital e gerenciamento de mídias sociais. Já na saúde, destacam-se as profissões relacionadas ao bem-estar do indivíduo como um todo, como nutricionista e personal trainer.
Outra área em evidência são as profissões que envolvem meio ambiente e sustentabilidade. “Toda essa parte de gerenciamento do lixo, de novos formatos para nos relacionarmos com o meio ambiente, [profissões] relacionadas a novas energias”, afirma.
Segundo a professora da UnB, as empresas também demandam, cada vez mais, profissionais que possam lidar com gerenciamento de crise, ética, governança e combate à corrupção empresarial.
Profissões na Indústria
A indústria é o terceiro setor que mais emprega atualmente, com 8.143.560 empregos acumulados em junho de 2022, e o segundo que paga os maiores salários de admissão, com uma média de R$ 1.991,28. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial, compilado pelo Observatório Nacional da Indústria, o setor vai demandar ainda 9,6 milhões de trabalhadores qualificados em ocupações industriais até 2025.
As áreas com maior demanda por formação são: transversais; metalmecânica; construção; logística e transporte; e alimentos e bebidas.
Formação inicial
- Transversais (411.149)
- Construção (346.145)
- Metalmecânica (231.619)
- Logística e Transporte (194.898)
- Alimentos e Bebidas (181.117)
- Têxtil e Vestuário (137.996)
- Automotiva (92.004)
- Tecnologia da Informação (76.656)
- Eletroeletrônica (55.747)
- Couro e calçados (48.868)
Formação continuada
- Transversais (1.393.283)
- Metalmecânica (1.300.675)
- Logística e Transporte (1.095.765)
- Construção (780.504)
- Alimentos e Bebidas (583.685)
- Têxtil e vestuário (509.354)
- Tecnologia da Informação (397.836)
- Eletroeletrônica (248.790)
- Gestão (226.176)
- Automotiva (208.317)
O gerente executivo do Observatório Nacional da Indústria, Márcio Guerra, destaca a relevância das ocupações nas áreas transversais. “Ou seja, aquelas ocupações coringas, aquelas profissões que são absorvidas por diversos setores da economia, que vão desde o setor automotivo até o setor de alimentos. No que diz respeito às áreas, vale destacar também aquelas profissões que estão relacionadas com a indústria 4.0, relacionada a automação de processos industriais.”
Fonte: Brasil 61