Fala ocorreu em entrevista do presidente à Rede TV. Analistas aguardam anúncio de corte de gastos; expectativa é de que as áreas atingidas sejam informadas esta semana.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas ao mercado nesta quarta-feira (6) ao mencionar as expectativas pelo anúncio de corte nos gastos públicos. A fala ocorreu em entrevista à Rede TV.
“Veja, eu não posso adiantar porque a gente ainda não concluiu o pacote. Eu tô num processo de discussão muito, muito séria com o governo porque eu conheço bem o discurso do mercado, conheço a gana especulativa do mercado. E eu, às vezes, acho que o mercado age com uma certa hipocrisia, com uma contribuição muito grande da imprensa brasileira, para tentar criar confusão na cabeça da sociedade”, disse o presidente.
Lula afirmou que os cortes não podem mais ser feitos “em cima do ombro das pessoas mais necessitadas” e cobrou colaboração do Congresso no tema.
“Se eu fizer um corte de gastos para diminuir a capacidade de investimento do orçamento, a pergunta que eu faço é o seguinte: o Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores para contribuir com o ajuste fiscal que eu vou fazer? Porque não é só tirar do orçamento do governo. Os empresários que vivem de subsídio do governo vão aceitar abrir mão um pouco de subsídio para a gente poder equilibrar a economia brasileira? Vão aceitar? Eu não sei se vão aceitar”, questionou.
Corte de gastos
A equipe econômica do governo tem se debruçado nas últimas semanas sobre a agenda de corte de gastos, cobrada por investidores e setores da política desde o começo deste governo.
Na manhã desta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que as reuniões internas do governo para fechar os cortes de gastos terminaram, mas acrescentou que as propostas devem ser apresentadas por Lula aos chefes do Legislativo antes de serem tornadas públicas. Ainda não previsão de quando isso acontecerá.
O governo efetuou uma série de reuniões nos últimos dias com ministros para fechar os cortes de gastos necessários para manter o arcabouço fiscal — a regra das contas públicas — operante. A expectativa é de que o anúncio das medidas possa ocorrer ainda nesta semana.
Haddad, que viajaria para a Europa na última segunda, ficou no Brasil a pedido de Lula para avaliar as ações do governo de cortes de despesas frente ao momento de pressão inflacionária e alta do dólar.
Por enquanto, as medidas em estudo ainda não foram detalhadas, o que tem gerado nervosismo no mercado financeiro — com pressão sobre o dólar, queda da Bolsa de Valores e alta dos juros futuros.
Arcabouço fiscal
Nos últimos dias, Haddad defendeu que entende a “inquietação” do mercado, mas acrescentou que o governo apresentará propostas para manter o arcabouço fiscal operante. A expectativa é que as medidas sejam apresentadas nas próximas semanas.
“A dinâmica das despesas obrigatórias tem que caber dentro do arcabouço. A ideia é fazer com que as partes não comprometam o todo que o arcabouço tem, a sustentabilidade de médio e longo prazo”, declarou o ministro na semana passada.
Economistas consideram a agenda de cortes de despesas importante para conter a dívida e evitar alta dos juros, que penalizam investimentos produtivos e o consumo da população.
Por Pedro Henrique Gomes, g1 — Brasília