Aliados do presidente vão recrudescer ataques contra o ex-presidente da República, que pode liquidar disputa já no primeiro turno
Estacionado nas pesquisas eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro decidiu reforçar a ofensiva contra Lula concentrando os vídeos da eleição nos temas que promovem a “pauta do medo” para impedir que a disputa pelo Palácio do Planalto seja liquidada por Lula já no dia 2 de outubro.
Assuntos sensíveis em costumes – como o discurso contra a descriminalização das drogas e do aborto – e peças sobre os escândalos de corrupção dos governos petistas são a aposta para minar a candidatura petista na reta final da campanha, inclusive na noite deste sábado (24), no debate do SBT.
“Vamos usar tudo que desgasta o PT”, afirma um integrante do núcleo duro da campanha bolsonarista. “Segurança pública, drogas, aborto, vão destacar os valores conservadores que o presidente sempre defendeu. Estamos preparados para a guerra.”
Lula já avisou que não vai ao debate, mas nem por isso vai deixar de ser o foco principal dos ataques de Bolsonaro.
Na última sexta-feira (23), aliados do presidente começaram a reproduzir nas redes sociais um vídeo que contrapõe um discurso contra o aborto de Madre Teresa de Calcutá a uma fala em que o petista defende tratar a medida como uma “questão de saúde pública”.
“Então para pra pensar, nas próximas eleições iremos escolher mais do que um presidente, iremos escolher o tipo de exemplo que daremos pras nossas filhas, filhos e família”, diz o locutor do vídeo bolsonarista.
Ainda que aliados do presidente da República menosprezem os resultados das pesquisas mais recentes, chamadas por eles de “piada” e “peças de ficção”, os números do último Datafolha preocuparam – e muito – o Palácio do Planalto.
No levantamento, o petista tem 47% das intenções de voto contra 31% de Bolsonaro e chega ao patamar de 50% dos votos válidos, o que alimenta a esperança de petistas de encerrar a disputa daqui a oito dias.
Até agora, as tentativas de Bolsonaro de recuperar terreno e crescer nas pesquisas não funcionaram. O presidente corre o risco de se tornar o primeiro presidente da República que não conseguiu mais quatro anos no cargo, desde que o instituto da reeleição entrou em vigor, em 1997.
Os bolsonaristas sabem que a retomada da pauta de costumes não tem retorno garantido, já que o tema não está entre as prioridades do eleitor, mais preocupado com a situação econômica e o derretimento do poder de compra devido à elevada taxa de inflação.
“Corrupção não é mais preditor de voto, ainda mais agora que Bolsonaro está metido até o pescoço nela. O povo tá com fome, a classe média com medo do golpe. Qual o medo que sobra? De virar uma Venezuela?”, comenta um pesquisador com experiência em captar os ânimos do eleitorado.
Há, porém, uma ressalva: uma porcentagem significativa de eleitores católicos (na faixa de 20%) ainda não definiu o candidato – e para essa fatia do eleitorado, o discurso anti-aborto pode sensibilizá-los.
É o que esperam os bolsonaristas.
Por Rafael Moraes Moura — Brasília