A pesquisa foi realizada pela Agenda Teresina 2030, vinculada à Semplan, em parceria com o Fundo de Populações da Organização das Nações Unidas.
Cerca de 89% das gestantes de Teresina afirmam que o calor impacta sua saúde física, com 82,24% relatando uma piora nos sintomas de cansaço ou fadiga, e 50,61% afirmando que o calor aumentou a dificuldade de respirar.
Os dados foram divulgados nessa quarta-feira (18), na pesquisa inédita “Avaliação do impacto do calor extremo na saúde de mulheres grávidas em Teresina”, realizada pela Agenda Teresina 2030, vinculada à Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação (Semplan), em parceria com o Fundo de Populações da Organização das Nações Unidas.
Entre os dados mais expressivos, a pesquisa aferiu que 83,7% das mulheres afirmam que o calor afeta seu bem-estar de forma negativa, sendo que 66% sente desconforto frequente por conta do calor e 44% disse que enfrenta uma intensidade extremamente alta de calor.
Os dados foram apresentados pela líder da pesquisa, Elisa Carvalho, e pelo coordenador da Agenda Teresina 2030, Leonardo Madeira. A solenidade foi comandada pelo secretário de Planejamento e Coordenação, João Henrique Sousa.
“Temos dados significativos que nos indicam a necessidade de formatação de políticas públicas para o atendimento dessas mulheres. Em sua maioria, são mulheres pretas e pardas, que permanecem em casa o dia todo e se locomovem a pé pela cidade. Nesse trabalho pudemos compreender a necessidade de mudanças estruturais nos serviços de saúde, mudanças de comportamento e, especialmente, a necessidade de nos unirmos nesse trabalho”, afirmou Leonardo Madeira.
Calor afeta os bebês
Elas relataram ainda que percebem que o calor afeta seus bebês: entre as que notaram o bebê mais agitado, apresentaram como sintomas físicos o cansaço (92%) e dificuldade de respirar (63%). E, de forma espontânea, elas manifestaram os sintomas relacionados ao calor que as levaram a procurar o médico: assaduras no corpo, falta de ar, dermatite, coceira, mal estar, dor de cabeça, insônia, confusão mental, enxaqueca, pressão baixa, sangramento no nariz e piora na ansiedade.
Ainda sobre sintomas físicos, 37% das entrevistadas apresentaram algum tipo de infecção no trato uroginegológico durante a gravidez e 75% acreditam que os sintomas foram agravados pelo calor.
Quando perguntadas se estavam seguindo alguma orientação médica específica para lidar com o calor, 63% respondeu que não havia recebido orientações do profissional de saúde, 25% não buscou orientações e 12% afirmou que estava seguindo as orientações. Porém, ao responderem sobre quais seriam essas orientações passadas, 90% afirmou que seria beber água e 15% tomar mais banhos. No total, 68% avaliam que bebem pelo menos 2,5 litros de água diariamente. Além disso, 91% das mulheres nunca conversaram com um profissional de saúde sobre o impacto do calor na gestação.
Impacto emocional
O questionário também avaliou o impacto emocional do calor nas gestantes. Do total de entrevistadas, 61% afirmou que sente de forma significativa esse impacto.
Para Elisa Carvalho, a pesquisa evidenciou que as mulheres sentem falta de informação, de um cuidado mais específico por parte dos profissionais de saúde e orientação. “Fomos muito felizes em aplicar um questionário que permitiu que essas mulheres pudessem manifestar o que estavam sentindo e passando no seu cotidiano e o que percebemos com isso é que elas precisam é de informação, de orientações mais direcionadas às formas de mitigar o calor extremo, de se sentirem mais confortáveis em casa e minimizar os sintomas”, explicou.
Perfil geral
84% das mulheres são pardas e pretas, com média de idade de 27 anos, 60% se locomovem a pé para as consultas e 53% se locomovem a pé no dia a dia.
Entre as que estão no grupo de 15% que declararam ter problema de saúde antes da gravidez, 34% apontaram a hipertensão, 18% o diabetes e 18% a anemia.
Para amenizar o calor
Sobre as medidas que adotam contra o calor extremo, 81% delas disseram que buscam um local fresco, 20% ficam no quarto com ar-condicionado e 20% ficam no quintal ou áreas cobertas da casa. Por outro lado, 70% afirmam que não frequentam parques ou praças, sendo que 34% afirmam que não gostam desses ambientes, 20% não tem acesso e 18% não se sentem seguras em parques e praças.
79% usam roupas específicas para lidar com o calor, como vestidos e shorts. 69% não consideram suas residências adaptadas ao calor extremo.
Falta informação
Do total de entrevistadas, 84% sentem que não tem acesso adequado a informações e recursos sobre como gerenciar o calor durante a gravidez e 15% disseram que tem acesso. Destas, 59% se informam pelas redes sociais e internet e 30% nas UBSs.
Calor e preocupação
As gestantes relataram de forma espontânea também a preocupações sobre o impacto do calor na sua saúde: piorar a falta de ar e evoluir para algo mais grave, gatilho de ansiedade, insolação, ter um AVC, medo de eclâmpsia, passar mal, desmaio, medo do parto prematuro, infarto, tontura, agravar o emocional, pensamentos agoniantes, medo da depressão subir muito e colocar a vida dela e do filho em risco.
Caráter inédito
Teresina é uma das poucas cidades do planeta a pesquisar cientificamente, com equipes em campo, como o calor extremo tem afetado sua população de mulheres gestantes. Ao propor o tema “O impacto do calor extremo e altas temperaturas no desenvolvimento da gravidez em mulheres de Teresina” no desafio “Climate Change XX: Women’s Health in Focus” do Fundo de Populações das Nações Unidas, a Agenda Teresina 2030 foi uma das seis selecionadas no mundo e premiada com recurso que financiou a realização desta pesquisa.
Fonte: Agenda 2030