O movimento para uma greve dos caminhoneiros na próxima semana ganhou adesão da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), uma das principais entidades da categoria no país.
A instituição, filiada à CUT, informou na terça-feira, (26) que apoia a greve nacional convocada por organizações menores há algumas semanas para 1º de fevereiro, por tempo indeterminado. A CNTTL afirma que tem 800 mil motoristas em sua base e que orienta todos a aderirem à paralisação.
O porta-voz da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, presidente do Sinditac (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga) de Ijuí-RS, e vice-presidente da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), disse que a categoria não suporta a “insensibilidade” do governo de Jair Bolsonaro e do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre reivindicações do setor.
“Lamentável o reajuste da Tabela do Piso Mínimo de Frete, realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)”, disse Dahmer em comunicado. “Hoje temos um piso mínimo da fome. Vamos dar um basta nisso. Vamos cruzar os braços no dia 1º.”
“Tivemos um reajuste de 2,51% que é ínfimo. Só para se ter ideia, o preço do pneu teve aumento nos últimos três meses de mais de 60%, seja nacional ou importado”, acrescentou.
Questionada, a CNTTL informou que não pretende promover atos específicos no dia marcado para o início da greve, mas que Dahmer vai mobilizar a adesão de outros caminhoneiros. Mas a entidade não soube precisar qual será o nível de adesão da fragmentada categoria à paralisação.
O Ministério da Infraestrutura afirmou em comunicado que não aceita receber para negociar nenhuma entidade que fale em indicativo de greve.
“Nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo e incorrer neste tipo de conclusão compromete qualquer divulgação fidedigna dos fatos referentes à categoria.”
Diz Ministério da Infraestrutura
Segundo a pasta, “há uma agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com lideranças da categorias”.
O ministério disse ainda que o fórum, cuja última edição foi organizada em setembro, seguida por reuniões online em dezembro, “tem sido o principal canal interativo entre governo e o setor e que qualquer associação representativa que deseje contribuir para formular política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria”.
Em 2018, uma greve de caminhoneiros, que contou com apoio de empresários do setor de transportes, paralisou o país por 11 dias em maio, gerando impactos na economia que perduraram ao longo de todo aquele ano.
O movimento foi encerrado após o governo de Michel Temer ceder à pressão dos motoristas e aceitar criar uma tabela de frete mínimo, que passou a enfrentar oposição do setor produtivo, com a disputa em torno da legalidade da criação da tabela ficando parada no STF desde então.
Procurada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não comentou o assunto.
O governo de Jair Bolsonaro fez ao longo dos últimos meses algumas concessões aos motoristas, entre elas a inclusão da categoria na lista do grupo de prioridades para receber vacinas contra Covid-19. Quando era pré-candidato ao Palácio do Planalto, Bolsonaro apoiou a greve dos caminhoneiros de 2018.
Na semana passada, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, afirmou que governo trabalhava na revisão de normas de pesagem de caminhões nas estradas para reduzir custos dos caminhoneiros e lembrou que o governo zerou imposto de importação de pneus.
Além da revisão do reajuste na tabela, os caminhoneiros cobram aprovação da constitucionalidade do mecanismo pelo STF e atribuem à atuação de plataformas digitais Frete-Brás, CargoX e TruckPad a “precarização da categoria pelo país”, disse a CNTTL.
Por Alberto Alerigi Jr, da Reuters