Um segundo estudo, da Nature, mostrou a relação do consumo do excesso da bebida com 61 doenças
A frase “beba com moderação” é um dos jargões mais conhecidos pelos brasileiros. É comprovado cientificamente que o consumo em excesso de bebidas álcoólicas é prejudicial. Na Inglaterra, foi determinado pelo National Health Service (NHS), sistema britânico de saúde, que a dose padrão seria de 10 ml ou 8g de álcool puro, e o limite semanal seria de 140 ml por pessoa, equivalente a 3,7 long necks por dia. Segundo um estudo publicado na revista científica The Lancet envolvendo mais de 600 mil participantes, quem bebia o dobro deste recomendado tinha uma expectativa de vida seis meses menor.
O especialista em estatística, David Spielgelhalter, da Universidade de Cambridge, que cita a pesquisa, explica que isso é um bom exemplo para se compreender o impacto do hábito.
“É claro que qualquer efeito do álcool adicional irá variar enormemente entre as pessoas, mas isto dá uma ideia da magnitude do compromisso”, explica, em entrevista ao DailyMail.
Já no Brasil, de acordo com a CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), a dose padrão é de 14g de etanol puro, o que equivale a 350 ml de cerveja.
Álcool é associado a 61 doenças
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Universidade Pequim, na China, analisou dados de um grande grupo de pessoas e identificou que o aumento no risco de doenças ocorre para 61 diagnósticos – incluindo 33 que não eram previamente ligados às bebidas alcoólicas.
“O consumo de álcool está negativamente relacionado a uma gama muito mais ampla de doenças do que foi estabelecido anteriormente, e nossas descobertas mostram que essas associações provavelmente são causais”, diz o pesquisador de Oxford e principal autor do estudo, Pek Kei Im, em comunicado.
A equipe de pesquisa analisou dados do China Kadoorie Biobank (CKB), um grande banco de dados colaborativo que reúne informações de 512 mil adultos no país asiático, recrutados entre 2004 e 2008.
Foram investigados registros hospitalares e relatos de consumo de bebida alcoólica fornecidos ao longo de 12 anos. Além disso, foi realizada uma análise genética para identificar se o surgimento de determinada doença era de fato ligado ou não ao álcool.
Confira a lista:
- Tuberculose
- Câncer de laringe
- Câncer de esôfago
- Câncer de fígado
- Neoplasia incerta
- Câncer de cólon (intestino)
- Câncer de pulmão
- Câncer retal
- Neoplasia maligna, sem especificação de localização
- Câncer de lábio, cavidade oral e faringe
- Câncer de estômago
- Anemias
- Púrpura e outras condições hemorrágicas
- Diabetes
- Outros distúrbios metabólicos
- Epilepsia
- Ataques isquêmicos cerebrais transitórios
- Catarata
- Flebite e tromboflebite
- Cardiomiopatia
- Hemorragia intracerebral
- Sequelas de doença cerebrovascular
- Doença cardíaca hipertensiva
- Hipertensão essencial (primária)
- Infarto cerebral
- Complicações da doença cardíaca
- Acidente Vascular Cerebral (AVC)
- Oclusão e estenose das artérias cerebrais
- Oclusão e estenose das artérias pré-cerebrais
- Outras doenças cerebrovasculares
- Doença cardíaca isquêmica crônica
- Doenças circulatórias menos comuns combinadas
- Bronquite crônica não especificada
- Doença pulmonar obstrutiva crônica
- Pneumonia
- Doença hepática alcoólica
- Fibrose e cirrose do fígado
- Outras doenças inflamatórias do fígado
- Abscesso das regiões anal e retal
- Doença do refluxo gastroesofágico
- Úlcera gástrica
- Outras doenças do aparelho digestivo
- Outras doenças do fígado
- Pancreatite
- Outras infecções locais (pele/tecido subcutâneo)
- Osteonecrose
- Gota
- Artrose
- Resultados anormais de estudos de função
- Mal-estar e cansaço
- Fratura de ombro e braço
- Fratura de fêmur
- Fratura de costela(s)/esterno/coluna torácica
- Lesões menos comuns, envenenamento e outras causas externas combinadas
- Autoagressão intencional
- Cataratas
- Acidentes de transporte
- Condições psiquiátricas e comportamentais menos comuns combinadas
- Outras causas de mortalidade mal definidas/não especificadas
- Causas de morbidade desconhecidas/não especificadas
Embora o trabalho tenha sido feito de maneira observacional, ou seja, os pesquisadores relacionaram a incidência de determinadas doenças e o consumo de álcool com elas, eles defendem que é possível estabelecer uma relação de causa e efeito devido à análise genética. Por isso, afirmam que as bebidas foram o que motivou grande parte dos diagnósticos.
Por O Globo — Rio de Janeiro