Declaração do papa Leão XIV sobre Maria não muda ideia da Igreja, dizem especialistas

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Documento aprovado pelo pontífice reafirma que Jesus é o único Salvador e considera inapropriado título de “corredentora” para a mãe de Cristo. O g1 conversou com especialistas para entender o significado e o impacto da nota.

Uma nova nota publicada pelo Vaticano nesta semana reacendeu debates sobre o papel de Maria na fé católica. O documento, aprovado pelo Papa Leão XIV, afirma que Jesus é o único Salvador e desaconselha o uso do título “corredentora” para a mãe de Cristo. A publicação gerou repercussão entre religiosos e estudiosos.

O g1 conversou com três especialistas para entender o significado da nota e o impacto da declaração.

Foto: Reprodução/Instagram

De acordo com os entrevistados, o documento não altera a doutrina católica, mas busca encerrar uma antiga discussão entre figuras da Igreja. Para dois deles, no entanto, a publicação também pode servir como uma resposta a questionamentos equivocados, especialmente de pessoas de outras religiões sobre a interpretação católica do papel de Maria.

Apesar de o documento buscar encerrar debates, a repercussão acabou gerando dúvidas entre alguns fiéis, segundo os especialistas ouvidos. Veja, abaixo, o que eles disseram.

“No documento, a Igreja incentiva a devoção a Maria, mas deixa claro que ela não é salvadora. O documento apenas reforça um princípio teológico já existente: a salvação vem somente de Cristo.”

“Alguns títulos ou expressões surgem no cotidiano e acabam sendo usados sem reflexão teológica. Quando ganham repercussão, o Vaticano intervém para esclarecer. Foi o que aconteceu agora. No caso, havia fiéis e teólogos pedindo esclarecimentos sobre o título de ‘corredentora’. O Papa Leão XIV aprovou a publicação, que já vinha sendo preparada no pontificado de Francisco. É apenas um esclarecimento, não uma restrição à devoção mariana. Pelo contrário: o Papa Leão pediu neste mês de outubro — o mês de Maria — que os fiéis rezem o terço diariamente pela paz.”

‘Nota não muda nada no papel de Maria na Igreja’, diz Dom Murilo Krieger, arcebispo emérito e membro da Academia Brasileira de Mariologia

“O título oficial do documento é ‘Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na obra da Salvação’. Essa nota não muda nada no papel de Maria na Igreja. O objetivo é esclarecer títulos que podem gerar confusão.

Por exemplo, sobre o termo ‘corredentora’, o texto afirma que seu uso é inoportuno, pois requer muita explicação. O próprio documento ressalta que a participação de Maria quanto à redenção não a torna redentora. Com isso, a Igreja apenas busca evitar interpretações equivocadas sobre isso para católicos menos esclarecidos ou pessoas de outras confissões religiosas. Por exemplo, um evangélico que pode questionar: ‘Mas como assim, se Jesus é o único redentor?’. Essas interpretações surgem porque nem todos conhecem a base “Acredito que o Vaticano tenha considerado oportuno oferecer um esclarecimento diante de pedidos insistentes de alguns grupos. Era necessário colocar o assunto de forma definitiva para encerrar polêmicas desnecessárias e evitar confusões. Assim como em outros momentos da história, busca orientar os fiéis e preservar a clareza doutrinal sobre Nossa Senhora.”

“Para a Igreja Católica, a adoração é devida apenas a Deus. A veneração é um ato de respeito a alguém que viveu profundamente o seguimento de Jesus, é o caso dos santos e, de modo especial, de Nossa Senhora. Já a intercessão é no sentido de que Maria nada pode por si mesma. Ela não tem poder nenhum. Agora, o que ela faz? Ela apresenta os pedidos a Jesus.”

Henrique Gomes, internacionalista e mestre em ciência política, com foco em Igreja Católica e Vaticano: ‘Documento reafirma fé e evita interpretações erradas’

“Algumas pessoas entenderam que a Igreja estaria proibindo o culto à Virgem Maria ou as orações de intercessão, mas o que ele faz é desaconselhar alguns títulos considerados inapropriados, como ‘corredentora’. Segundo a nota, usar esse termo pode gerar confusões, pois exige muitas explicações para ser compreendido corretamente. Por isso, o texto recomenda não usar esse título, já que há outros plenamente adequados, como ‘Mãe de Deus’, ‘Imaculada Conceição’ e ‘Mãe do Povo Fiel’.”teológica da Igreja, especialmente no que diz respeito à teologia mariana. Por isso, o documento declara que é melhor evitar certas definições que possam causar algum problema.”

“Há 30 anos o tema havia sido estudado. Então, provavelmente, o Papa Francisco pode até ter pedido para aprofundar o estudo e preparar uma nota. Assim como fez com uma exortação sobre a pobreza, que o Papa Leão XIV encontrou pronta, ele apenas deu a sua marca, acrescentou algo aqui e ali. Da mesma forma, ele pegou esse texto, viu que era oportuno.

“João Paulo II chegou a usar o termo algumas vezes, mas depois foi orientado pelo então cardeal Ratzinger a evitá-lo. Mesmo quando usava, ele não equiparava Maria a Jesus, apenas reconhecia que ela cooperou no processo da salvação. O problema é que, fora do contexto, o termo pode gerar interpretações equivocadas.”

“Para os católicos, Maria tem um papel essencial porque seu ‘sim’ a Deus possibilitou o início da história da salvação. Na doutrina cristã, é mãe de Jesus, intercessora dos fiéis e exemplo de fé. A Igreja sempre incentivou a devoção mariana e continuará fazendo isso. O documento não muda nada nesse sentido, apenas lembra que Maria é humana e participa do plano de Deus, mas a salvação vem unicamente de Cristo.”

“Ao reafirmar a centralidade de Cristo e explicar o papel de Maria, a Igreja também se protege de interpretações erradas ou acusações de idolatria. O documento cita várias passagens bíblicas para mostrar que a devoção mariana tem fundamento nas Escrituras. Assim, mantém a unidade interna e esclarece ao público o que realmente é a fé católica.”

Leonidas Amorim
Leonidas Amorimhttps://portalcidadeluz.com.br
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