Os aparelhos vão estimular nuvens com pequenas descargas elétricas, de modo a “empurrá-las” umas às outras e fortalecer as gotas de água lá dentro, que costumam evaporar com o calor antes de formar uma chuva.
Enquanto no Brasil algumas cidades sofrem com as baixas temperaturas típicas do inverno, lá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a situação é bem diferente. Num calor que atinge 50º Celsius, a cidade construída no deserto resolveu apelar para chuvas artificiais.
Um grupo de drones foi usado pelo governo dos Emirados Árabes para provocar as chuvas torrenciais que atingiram a cidade de Ras al Khaimah, a cerca de 115 km de Dubai, no início da semana. A tecnologia é fruto de uma parceria com pesquisadores ingleses.
Em 2017, o governo árabe investiu US$ 1,5 milhão em um estudo com pesquisadores das universidades de Bath e de Reading, na Inglaterra, com o objetivo de descobrir uma forma de criar chuvas artificiais.
Em média, Dubai recebe apenas 101 milímetros de chuva por ano — como comparação, as regiões mais áridas do sertão nordestino do Brasil recebem cerca de 700 milímetros de chuva por ano. Os estudos avançaram até que, em maio deste ano, drones do Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes tomaram os céus de Dubai para executar o experimento calculado pelos ingleses. Os detalhes do estudo foram publicados em um artigo científico em janeiro.
Imaginou um grupo de drones carregando um regador e molhando a cidade lá de cima? Se enganou. O que os aparelhos fizeram foi estimular nuvens com pequenas descargas elétricas, de modo a “empurrá-las” umas às outras e fortalecer as gotas de água lá dentro, que costumam evaporar com o calor antes de formar uma chuva. “O que estamos tentando fazer é tornar as gotículas dentro das nuvens grandes o suficiente para que, quando caírem da nuvem, sobrevivam à superfície”, disse a meteorologista e pesquisadora Keri Nicoll à “CNN” internacional em maio, enquanto sua equipe se preparava para começar os testes com os drones nos arredores de Dubai.
O resultado desses meses de engenharia climática foi sentido no último domingo (18), segundo o governo árabe. A tempestade artificial que atingiu o norte do país foi estimulada por quatro drones de quase 2 metros de diâmetro cada um. Eles foram catapultados para o céu com carga suficiente para 40 minutos de voo. Durante o voo, os drones medem a temperatura, níveis de umidade e carga elétrica dentro das nuvens.
Enquanto isso, a demanda cresce: o número de habitantes do país dobrou entre 2005 e 2010, chegando a 8,3 milhões. Hoje são 9,9 milhões de pessoas. Nos últimos anos, o governo árabe injetou dinheiro em outros nove estudos com a intenção de criar mais fontes de água para o país. Em 2016, o país chegou a considerar a possibilidade de cercar Dubai com montanhas artificiais para estimular a formação de nuvens.
Foram consideradas também as possibilidades de se construir um encanamento gigante do Paquistão até Dubai e de “importar” blocos de gelo do Ártico. O que realmente tem dado certo, porém, é o uso de tecnologias de dessalinização — isto é, transformar a água salgada do mar em água potável removendo o sal. Cerca de 40% de toda a água consumida hoje nos Emirados Árabes, potável ou não, vem de usinas de dessalinização. Paralelamente, o país também estuda formas de reduzir a demanda. O objetivo é cortar os gastos com água em 21% nos próximos 15 anos.