Bolsas ausentes podem comprometer pesquisas na área de silagem no semiárido e na análise de produção e tratamento de água.
Restrição de recursos e corte de benefícios. É esta a realidade pela qual o ensino superior brasileiro vem passando nos últimos meses, desde que o Ministério da Educação anunciou o contingenciamento de recursos repassados às universidades e institutos federais. Após a Ufpi anunciar uma perda de cerca de R$ 33 milhões de suas verbas, foi a vez de o Instituto Federal do Piauí (Ifpi) adotar medidas.
O Instituto cancelará 20 bolsas de Iniciação Científica (PIBIC, PIBITI e PIBIC EM) que haviam sido garantidas em edital junto ao CNPQ. Pesquisas na área de silagem, que são desenvolvidas no semiárido piauiense, e na área hídrica, como produção e tratamento de água, poderão ficar comprometidas e até parar. O anúncio do cancelamento dos benefícios vem após o próprio CNPQ suspender mais de 400 bolsas nas instituições que compõem a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. A medida foi anunciada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, ainda na semana passada. À imprensa nacional, o gestor falou em total falta de recursos e de condições de sustentar o fornecimento dos benefícios a pesquisadores e estudantes.
“Nós fomos pegos de surpresa com esses cancelamentos, porque tínhamos um edital em vigência, inclusive preparando a divulgação do resultado de quem pleiteou essas bolsas de iniciação científica. Vamos manter o edital, enquanto aguardamos um posicionamento do MEC sobre a possibilidade de a situação se resolver e caso isso ocorra, as bolsas poderão ser entregues”, explica o professor José Luís Silva, pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Ifpi.
Ufpi estuda adesão ao Future-se
Em meio aos cortes de recursos e cancelamentos de bolsas, as universidade federais brasileiras avaliam a possibilidade de aderirem ou não ao Future-se, o programa do Ministério da Educação que propõe, dentre outros pontos, que as instituições gerem as próprias receitas e possam fechar parcerias com o setor privado. Aqui no Piauí, a Universidade Federal está com um grupo de trabalho, estudando o projeto mais a fundo antes de anunciar um posicionamento.
Hoje (02), o reitor, professor Arimateia Dantas Lopes, deve se reunir com o Conselho Universitário para deliberar sobre o assunto. Em sua página eletrônica, a Ufpi disponibilizou um documento contendo todas as diretrizes do Future-se para que a população de maneira geral, não só a acadêmica, tome conhecimento do que está sendo proposto e opine sobre o assunto.
“Investimento privado se daria em detrimento do investimento público”
A Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação apresentou ressalvas quanto às propostas do MEC , sobretudo quanto aos cortes de recursos anunciados recentemente pela pasta. Para a presidente da entidade, Flávia Calé, ao facilitar parcerias público-privadas, o Future-se retira do Estado sua função primordial de oferecer de forma gratuita educação de qualidade.
Em entrevista, ela acrescentou ainda que os programas de pós-graduação por todo o país já estão sofrendo com a baixa de pesquisadores, sobretudo aqueles que começariam agora a desenvolver suas primeiras pesquisas. “Dizem que estão cortando bolsas ociosas, mas uma bolsa nunca fica ociosa. Ela encerra e passa automaticamente para outro aluno que passou na seleção. Com isso, os pesquisadores sequer ingressam nos programas e acaba refletindo na redução no número de pesquisas e de gente trabalhando nos laboratórios”, afirmou Flávia.
Por: Maria Clara Estrêla/Portal O Dia