Candidato a vice na chapa do petista afirmou que assunto deve ser tratado pelo Congresso Nacional, mas disse não acreditar em mudança da lei atual
Em busca de mais votos entre evangélicos na reta final da campanha, o candidato à vice-presidência Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Palácio do Planalto, são contra o aborto. Em entrevista a um podcast voltado ao público religioso, argumentou que nem sequer é tarefa do governo federal discutir o assunto. O ex-governador de São Paulo disse ainda que o tema deve ser tratado pelo Congresso Nacional, mas não “acredita que vá mudar nada da lei atual”.
— O povo precisa ter todas as informações. Então, aborto, o presidente Lula é contra; eu sou contra. Ele foi presidente oito anos e não mudou lei nenhuma, nenhuma, nenhuma. O que é dever você fazer são políticas públicas de saúde. É preciso os jovens terem educação e informação até para não ter gravidez indesejada. E oferecer possibilidade pra evitar, métodos contraceptivos. Não há hipótese e nem é tarefa do governo. Isso é assunto do Congresso Nacional e nem acredito que vá mudar nada da lei atual — disse Alckmin em entrevista ao podcast SIMpodCRER, direcionado ao público evangélico.
Alckmin falou sobre aborto sem ser questionado especificamente sobre o tema, sensível a este público. Abordou o assunto quando perguntado sobre como aproximar governos de esquerda do público evangélico. A entrevista ao vivo dada em São Paulo faz parte de uma estratégia do PT para tentar ganhar terreno entre os evangélicos na última semana antes do primeiro turno. A campanha escalou a ex-ministra Marina Silva, evangélica da Assembleia de Deus, e Alckmin para falar diretamente a este segmento.
A estratégia inclui gravação de vídeos, entrevistas e encontros com estes religiosos. A leitura entre petistas é de que Alckmin, mesmo católico, tem credibilidade e acesso a lideranças e representantes de uma classe média de evangélicos em São Paulo.
Em uma hora de conversa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não foi mencionado nenhuma vez. Na conversa, Alckmin defendeu governo e Estado laicos, mas classificou como positivas a aproximação com valores cristãos, argumentando que governos modernos interagem e ouvem todas as religiões.
O candidato a vice de Lula também foi questionado sobre ideologia de gênero nas escolas, tema que compõe a pauta ideológica do presidente Jair Bolsonaro. Alckmin afirmou que “isso não existe” e é um desrespeito com educadores.
— Sempre visitei muita escola, isso não existe. Professores ensinam português, matemática, não existe isso. É um desrespeito aos educadores, precisamos, e é função do Estado, garantir liberdade das pessoas. O livre arbítrio das pessoas e a proteção das pessoas. Não é possível tolerar violência de nenhum tipo, cercear liberdade, ter homofobia porque a pessoa pensa diferente.
Alckmin também afirmou que não há “nenhuma hipótese” de Lula fechar igrejas, caso eleito. A afirmação desmente uma fake news de que, em caso de vitória, o petista fecharia templos religiosos. Pelo contrário, Alckmin disse que o que se quer é “mais igrejas”, defendendo o papel destes espaços na sociedade, destacando o trabalho que padres e pastores fazem para auxiliar pessoas com problemas emocionais.
— Não há nenhuma hipótese (de Lula fechar igrejas). O presidente não fechou igreja nenhuma e consagrou o Dia da Liberdade Religiosa, Dia da Marcha de Jesus. O que queremos é que tenhamos mais igrejas e as pessoas terem sua liberdade religiosa. Eu sempre agradeço igrejas, sou católico, mas todas igrejas fazem um trabalho bonito de evangelização, levando fé. O que o mundo precisa são valores, valores cristãos.
O petista tem crescido entre esse eleitorado, embora Bolsonaro continue sendo o preferido desse público. No Datafolha, o ex-presidente começou a subir em 9 de setembro, quando foi de 28% para 32%. Desde então, o candidato à reeleição oscilou de 51% para 50%. A campanha de Lula considera mínimas as chances do petista vencer no segmento, mas trabalha para reduzir a vantagem, uma frente importante para tentar liquidar a fatura no primeiro turno.
Por Jeniffer Gularte — Brasília