A aposentada Beatriz Souza de Castro Barbara está prestes a dar à luz aos 63 anos de idade. Ela está na etapa final da gravidez do primeiro filho com o marido, o comerciante Eder Fernandes Barbara, 35.
“Estou com 35 semanas e a cesariana já está marcada para o dia 6 de março. Vou ter um menino que vai se chamar Caio. Se não ocorrer nenhum imprevisto, pretendo completar as 38 semanas de gestação. Beatriz Souza de Castro Barbara
O casal, que vive na cidade de Três Pontas, em Minas Gerais, está junto há sete anos e oficializou a união em maio do ano passado. Por causa da idade de Beatriz, eles precisaram recorrer ao procedimento de fertilização in vitro, técnica de reprodução assistida em que ocorre a fecundação de óvulos e espermatozoides em laboratório, para depois transferir os embriões para o útero da mulher.

“Como eu já tinha passado pela menopausa, o nosso processo foi por meio de ovodoação. Conseguimos os óvulos de uma doadora mais jovem, anônima, por meio de uma clínica de fertilização.Beatriz Souza de Castro Barbara
Enquanto Eder é pai de primeira viagem, esta é a terceira gravidez de Beatriz, que já tem dois filhos adultos: Dayvis, de 42 anos, e Anita, de 40.
“Eu sempre tive o sonho de ser pai. Já conversava com a Beatriz sobre isso desde o começo do relacionamento. Aos poucos, ela foi cedendo”, lembra Eder.
“Por eu ser mais velha, achava que seria tudo muito difícil. Parecia que as possibilidades de dar errado estavam maiores do que as chances de dar certo. Mas foi ao contrário, né? Tivemos sorte, porque foi mais fácil do que a gente imaginou”, diz Beatriz.
Gravidez na primeira tentativa
Beatriz engravidou na primeira tentativa de fertilização in vitro, apenas um ano após o início do tratamento.

Depois de 11 dias que realizei o procedimento no laboratório, fiz o teste de farmácia e deu positivo. No mesmo dia, corremos para fazer o exame de sangue, que comprovou o resultado. Foi um dia de muita alegria. Beatriz Souza de Castro Barbara
Desde o início do processo, Beatriz é acompanhada de perto por diversos profissionais de saúde, como cardiologista, ginecologista, obstetra e nutricionista.
Ela afirma que a terceira gravidez, aos 63 anos, foi mais tranquila do que as duas gestações anteriores.
“Nas gestações anteriores, engordei mais de 20 quilos em cada uma. Na de agora, engordei apenas oito. Devido à minha idade, dessa vez tive um acompanhamento clínico muito maior, inclusive com a minha alimentação”, diz ela.
“Faço exame de sangue todos os dias, três vezes ao dia, de manhã, de tarde e de noite. Todos os indicadores estão normais. Não tive diabetes gestacional, não tomei remédio para a pressão ou tive outro tipo de complicação”, diz.
Reação da família
O casal revela que não havia contado para a família sobre os planos de terem um bebê. Eles passaram por todo o processo e só revelaram para parentes e amigos quando Beatriz já estava grávida.
“A gente não contou antes. Foi uma surpresa para todo mundo. Muita gente achou que era mentira, que era brincadeira. Depois que eles assimilaram que era real, apoiaram nossa decisão”, explica Beatriz.
As críticas que a gente recebe são mais de pessoas desconhecidas, nas redes sociais. Mas, mesmo assim, ainda é uma minoria. A maioria das pessoas aprova, porque sabe que o importante é que o Caio será muito amado. Beatriz Souza de Castro BarbaraContinua após a publicidade
O casal está ansioso pela chegada de Caio, e Eder não esconde a alegria pelo menino.

“Eu ficaria feliz com uma menina também, mas meu sonho era ter um menino. Estou feliz e muito ansioso, essa gravidez superou todas as nossas expectativas”, diz o pai.
Beatriz também afirma estar feliz por poder ser um exemplo para mulheres mais velhas que têm o sonho de se tornarem mães.
Tenho 63 anos e estou prestes a dar à luz. Queria dizer para essas mães que vale a pena tentar. Lógico que cada caso é um caso, mas vale a pena buscar informação para, quem sabe, iniciar um tratamento. Não é impossível. Beatriz Souza de Castro Barbara
Gravidez tardia
A recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM) é que as técnicas de reprodução assistida sejam realizadas no máximo até os 50 anos. O procedimento pode ser realizado em mulheres mais velhas, mas é necessário que um médico especialista fique responsável formalmente por todo o processo de gestação.Continua após a publicidade
Após os 50 anos, há um aumento nos riscos de problemas durante a gravidez, considerada tardia. “Existe um risco aumentado de complicações como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, doenças cardiovasculares. E por doença cardiovascular a gente está falando de infarto, de AVC, de trombose. Além de questões como o puerpério e depressão pós-parto”, explica Marise Samama, ginecologista e presidente da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil.
Mulheres que engravidam na pós-menopausa também precisam fazer reposição hormonal de uma maneira específica. “A mulher que está na menopausa ou na pós-menopausa não tem ciclo menstrual. Isso é um agravante”, diz Marise.
Em tese, o útero entra em processo de atrofia decorrente da menopausa. E aí existe a questão da reposição hormonal. Então, o útero tem de ser preparado hormonalmente para receber o embrião.Marise Samama, ginecologista
A quantidade de mulheres grávidas acima dos 40 anos vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Dados do IBGE apontam que, desde o fim dos anos 1990, o número de gestantes acima dos 40 anos aumentou em 88%.
De uma forma geral, a gente está vendo as mulheres postergando a maternidade e se sentindo confortáveis com essa decisão. O que é importante deixar claro é que, para engravidar após os 50 anos, a mulher tem de estar muito bem assistida por uma equipe multidisciplinar. Precisa ter nutricionista, ginecologista, obstetra, psicólogo. É necessário ter um grupo de apoio médico para diminuir ao máximo os riscos da gestação.
Marise Samama, ginecologista
Luciana Spacca Colaboração para Universa UOL