Com massa de ar seco estacionada e ação do fenômeno El Niño, Brasil tem promessa de altas temperaturas pelo menos até sexta-feira (17)
Apesar do Rio de Janeiro (RJ), Vitória(ES), Curitiba (PR) e São Paulo (SP) terem quebrado os próprios recordes de temperatura em 2023, nenhuma outra capital conseguiu superar os índices da cidade mais quente do Brasil, conhecida pela capacidade de “fritar ovos na calçada”.
Com recorde de 44,2°C, Cuiabá (MT) segue como a capital com o maior índice de temperatura do país. Isso porque os cuiabanos têm vivido dias com os termômetros acima dos 40°C e com umidade do ar mínima que pode chegar a 20%. Capital de Mato Grosso, Cuiabá foi fundada após o avanço dos bandeirantes paulistas, entre 1673 e 1682. Mas só depois da Guerra do Paraguai é que o município voltou a crescer, com a produção de cana-de-açúcar e extrativismo.
O clima da cidade é tropical e úmido, mas a capital mato-grossense passa boa parte do ano convivendo com massas de ar seco que estacionam sobre a região central do Brasil. A temperatura média no município gira em torno dos 26 °C, mas nos meses mais quentes é frequente os termômetros superarem os 40 °C.
Para além dos efeitos naturais e geográficos, Cuiabá passou a sofrer com as ilhas de calor. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a alta densidade de construções e a ausência de áreas verdes no centro são um dos principais fatores que contribuem para o surgimento desses bolsões de calor.
Segundo o estudo, o fenômeno pode aumentar a temperatura no centro de Cuiabá em mais de 10ºC, quando comparado a regiões mais afastadas — O centro de Cuiabá é uma grande área continuamente edificada e com poucos espaços verdes. Esse alto adensamento de áreas edificadas promove um efeito bola-de-neve na concentração do calor urbano e é o que observamos ali — explicou o pesquisador responsável, Hugo Ferreira, em publicação da universidade.
A origem do nome da cidade tem algumas versões, sendo uma delas a que diz que o nome vem da palavra bororo ikuiapá, que significa “lugar da ikuia”. O nome diz respeito ao local onde os bororos costumavam caçar e pescar com a flecha ikuia.
Ranking do calor
O Rio de Janeiro chegou a registrar 40,4°C no último domingo (12). Com promessa de duração até a próxima sexta-feira (17), a atual onda de calor tem grau de intensidade vermelho, que corresponde àquelas temperaturas com 5°C acima da média por mais de 5 dias.
Em 12º lugar no ranking das maiores temperaturas entre as capitais brasileiras no ano, Vitória (ES) fechou o último domingo (12) com pico de temperatura em 37,7°C. São Paulo (SP) teve sua maior temperatura do ano com 37,1°C. Já Curitiba (PR), conhecida pelo frio, marcou 34,8°C.
O Nordeste, Centro-Oeste, Noroeste de Minas Gerais e Oeste de São Paulo estão com umidades abaixo de 20%. Cenário que se dá devido à presença do El Niño, que provoca secas na região Norte, aumenta as chuvas no Sul e proporciona calor na parte central do país.
— O fim da onda não significa que vai acabar o calor. A gente está na primavera. A primavera tem essa tendência de calor e quando há umidade a gente tem aquelas pancadas de chuva com rajadas de vento — afirma a meteorologista do Inmet Andrea Ramos.
As primeiras ondas de calor de 2023 ocorreram entre janeiro e março, com temperaturas em torno de 40,7 °C. Já em agosto, foram emitidos alertas de “grande perigo” e “perigo” para o Centro-Oeste e o Nordeste do país, entre os dias 22 e 28.
Em setembro, uma onda de calor intensa começou no dia 18 no Centro-Oeste e se deslocou para o Nordeste no dia 24, o que gerou temperaturas acima de 40 °C nas duas regiões. No mês passado, outubro, outras duas ondas de calor atingiram o país, com o recorde temperatura máxima de 44,2°C em Cuiabá (MT), no dia 19.
Por Thamila Soares — Rio de Janeiro