Candidato agredido por José Luiz Datena no debate da TV Cultura está no Sírio Libanês, em São Paulo
Após ser agredido por José Luiz Datena (PSDB) no debate da TV Cultura, na noite deste domingo, Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, recebeu atendimento médico no Hospital Sírio Libanês. Segundo a assessoria de imprensa de Marçal, ele passou por uma tomografia, foi medicado e permanecerá no hospital durante a noite.
Nas redes sociais, o ex-coach usou o episódio da agressão para se comparar a Trump e Bolsonaro, pelos episódios em que os políticos sofreram atentados. Apesar de ter provocado Datena durante o debate, o que acabou resultando na cadeirada do candidato tucano, Marçal deixou a pergunta no ar em sua postagem: ‘Por que todo esse ódio?’.
Marçal também postou uma foto nas redes sociais durante o atendimento. As agendas do candidato nesta segunda, que incluíam a participação em sabatinas e uma caminhada na rua Santa Ifigênia, foram canceladas.
No Sírio, a assessora de imprensa de Marçal, Luma Vidal, disse que agora “o jogo virou” e que nos próximos debates é a campanha do ex-coach que irá fazer exigências mais duras para a organização das emissoras:
— Agora temos diversos fatos. Nossa campanha foi agredida na TV Gazeta, agora o candidato foi agredido. Eu queria muito que os seguranças ficassem no palco. Ele foi agredido porque o segurança estava muito longe. Eu quero um segurança que possa fazer algo em tempo hábil — disse.
Integrantes das campanhas presentes no estúdio no momento da confusão relataram ao GLOGO que Marçal chegou a voltar para o púlpito para continuar no debate após ser agredido por Datena. Em seguida, um dos assessores de Marçal se aproximou do candidato, disse algo e ambos decidiram deixar o local. O candidato anunciou, então, sua ida ao hospital.
No Sírio Libanês, O advogado de Marçal, Tassio Renam, afirmou que o candidato está com “muita dor na região da costela” e na mão que teria usado para se defender da agressão. Disse ainda que será registrado boletim de ocorrência e pedido exame de corpo de delito, além de prometer que tomará “todas as providências” para punir Datena.
— Todas as medidas serão tomadas, temos que punir a agressão do candidato Datena. Foi ele que começou e não faz sentido nenhum acontecer do jeito que aconteceu — afirmou.
O advogado ainda reclamou do fato de a TV Cultura ter continuado o debate após a agressão:
— Deixamos aqui a nossa mais sincera indignação com a TV Cultura, um veículo tão potente, continuar o debate depois de uma agressão daquela, tirando o pouco tempo de TV que o candidato Pablo Marçal tem, isso aí é realmente uma amostra que não tem qualquer comprometimento com a Justiça, com a seriedade, principalmente com a democracia — falou.
Entenda a agressão
No quarto bloco do debate, Datena atirou uma cadeira em Marçal, e a TV Cultura chamou o intervalo. Na volta da programação, a TV anunciou que Datena havia sido expulso do debate, e Marçal afirmou que deixaria o evento para procurar atendimento médico.
A agressão ocorreu quando Marçal voltou a provocar Datena sobre uma acusação de assédio sexual, que tinha sido tema do primeiro bloco do programa. Datena chamou Marçal de “bandidinho, ladrãozinho de dados” e afirmou que a acusação de assédio “custou muito” para ele e sua família. Marçal então disse que “o Brasil quer saber que horas você vai parar” e chamou o apresentador de “arregão”.
— Você atravessou o debate esses dias para me dar um tapa, você não é homem nem para fazer isso — falou Marçal, que neste momento foi atingido por Datena.
No retorno do debate, o apresentador Leão Serva lamentou pelas “cenas de pugilato” e disse que “vivemos um dos momentos mais absurdos da história da TV brasileira”. Datena foi expulso do debate e Marçal disse que se sentiu mal, e deixou o debate para procurar atendimento médico.
— A decisão foi expulsar o candidato Datena do debate conforme estava previsto no regulamento aceito por todos, porque ele cometeu três falhas graves sucessivas, duas palavras de baixo calão, antes de uma agressão física. O candidato Marçal antes estaria estourando o tempo, então ele estaria na marca do pênalti, mas ele agredido pelo Datena, disse que estava se sentindo mal, foi para buscar atendimento de saúde e preferiu deixar o debate. Consultados, os candidatos decidiram ficar no debate e fazer o debate de bom nível que você eleitor merece. Eu peço desculpas em nome da TV Cultura — falou o apresentador.
Desde o início, o debate foi marcado pela troca de acusações entre os dois candidatos. No primeiro bloco, o apresentador se recusou a dirigir uma pergunta ao ex-coach, porque o adversário teria “subvertido os debates transformando em meros programas de internet dele”. Em resposta, Marçal acusou Datena de ter praticado assédio sexual contra uma funcionária da Band.
— Os playboys da cidade de São Paulo não sabem o que eu vou falar agora, mas quem é da quebrada sabe. “Homem é homem, mulher é mulher, estuprador é diferente” — disse, citando uma música dos Racionais MC’s. — Tem alguém aqui que é ‘jack’ (gíria para estuprador). É alguém que responde por assédio sexual. Essa pessoa dá pena — disse, em relação ao apelido de “Dapena” que usa para se referir ao apresentador.
O caso citado é uma denúncia feita pela repórter Bruna Drews, em janeiro de 2019. Datena a processou por calúnia e difamação. Nove meses depois da acusação, ela assinou uma retratação em um cartório de São Bernardo do Campo. Em uma representação feita no Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a mulher alegou que Datena lhe disse que ela não precisava emagrecer pois “era muito gostosa” e que teria dito que era um desperdício ela “namorar uma mulher”. Em entrevista ao portal Universa, em outubro de 2019, ela disse que foi “induzida pelos advogados de Datena” a assinar a carta na qual se retratou pela acusação.
— Eu queria que você pedisse perdão para as mulheres — seguiu Marçal. — É só ir no Google digitar, você está pagando talvez milhões pelo silêncio dessa mulher, acho que é ex-funcionária da Band. Explique e peça perdão para todo o eleitorado feminino do Brasil inteiro. Você tocou na vagina dela, como foi essa questão de assédio sexual seu? — falou Marçal.
Datena então afirmou que o caso foi arquivado e que a mulher lhe pediu desculpas pela acusação:
— Foi uma acusação que a Polícia não viu provas nenhuma, nem investigou, o MP arquivou o processo, a pessoa que me acusou se retratou publicamente em cartório, pediu desculpas para mim e para minha família, foi um desgaste grande para a minha família, ser acusado de um crime destes é terrível e o Pablo Marçal continua sendo ladrãozinho de banco devidamente acusado e condenado
Quando voltaram ao assunto, no quarto bloco, ocorreu a agressão de Datena, que resultou na expulsão do apresentador e na ida de Marçal ao hospital. Após o fim do programa, a TV Cultura enviou a seguinte nota à imprensa:
“A TV Cultura lamenta o episódio ocorrido durante o Debate com candidatos à Prefeitura de São Paulo, neste domingo (15/9), envolvendo os candidatos José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB). A emissora reitera que, após a agressão, todas as providências foram tomadas, de acordo com as regras estabelecidas previamente – por escrito, entre a Cultura e as campanhas de todos os candidatos presentes -, incluindo a expulsão do candidato José Luiz Datena. Além disso, o Debate foi mantido mediante consulta e concordância dos demais candidatos. Durante o ocorrido, todas as medidas, incluindo relacionadas à cobertura da imprensa, foram tomadas visando a segurança dos presentes no Teatro B32 e em consonância às regras deliberadas anteriormente.”
Por Hyndara Freitas e Victoria Abel — São Paulo