Pastor é um dos organizadores do evento deste domingo em São Paulo
O pastor Silas Malafaia, um dos organizadores de ato na avenida Paulista, em São Paulo, em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fez críticas neste domingo (25) tanto ao STF (Supremo Tribunal Federal) como ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e em especial ao ministro Alexandre de Moraes, em seu discurso durante o evento.
Ele também fez insinuações sobre um suposto papel do presidente Lula (PT) no ataque de 8 de janeiro, organizado por bolsonaristas em 2023.
A manifestação foi convocada por Bolsonaro com o mote de se defender de acusações imputadas a ele. A mais recente investigação apontou evidências de sua atuação no planejamento de um golpe de Estado para se manter no poder.
Malafaia foi o idealizador do evento e o responsável pelo aluguel dos dois trios elétricos utilizados no ato.
Antes do ato, Bolsonaro havia declarado desejar que o ato fosse pacífico e que não fossem levadas bandeiras e faixas contra qualquer pessoa.
“Não vim aqui atacar o Supremo Tribunal Federal porque quando você ataca uma instituição, você ataca a República e o Estado de Direito”, disse o pastor, que antes do ato já havia dito que não tinha medo de ser preso pelo STF.
Em seu discurso, o pasto declarou que revelaria a “engenharia do mal” para tentar prender Bolsonaro.
Ele citou tensões envolvendo Moraes e Bolsonaro e supostas diferenças de tratamento que o então presidente teria sofrido.
“Todo mundo sabe como foi a eleição. Podiam chamar Bolsonaro de genocida, mas não podiam dizer que Lula é ex-presidiário”, disse.
Na realidade, as propagandas de Bolsonaro suspensas pelo TSE chamavam Lula de ladrão e corrupto. O argumento para tirar do ar o conteúdo foi que a afirmação estava factualmente incorreta, uma vez que o petista havia sido absolvido das acusações de corrupção.
O pastor também citou casos de 8 de janeiro e insinuou que o governo do PT tivesse responsabilidade no que chamou de baderna.
“Golpe tem arma. Tem bomba. Uma mulher com crucifixo católica que sentou na mesa do presidente do Senado, 17 anos de cadeia”, disse.
Ele afirmou que o sangue de um homem que morreu na prisão após ser preso pelo 8 de janeiro está na mão de Moraes.
Malafaia, depois, citou supostas diferenças de tratamento entre o MST e os manifestantes bolsonaristas.
“Alexandre de Moraes disse que a extrema direita tem que ser combatida na América Latina. Como ministro do STF tem lado? Ele não tem que combater nem extrema-direita nem extrema esquerda. Ele é guardião da Constituição”, disse Malafaia.
Moraes, na verdade, disse em dezembro do ano passado que a corrupção corroeu a democracia no Brasil, causando um abalo sísmico no mundo político que teve como consequência “o retorno de uma extrema direita com ódio no Brasil”
“Todos os sistemas preventivos falharam no combate à corrupção. Isso acabou criando um vácuo muito grande e gerou uma polarização, o ódio e um surgimento, não só no Brasil, de uma extrema direita com sangue nos olhos e antidemocrática”, afirmou o ministro na ocasião.
Neste domingo, na Paulista, Malafaia afirmou que o “o Supremo poder dessa nação” é o povo.
Voltando a Bolsonaro, ele diz que se ele for preso sairá de lá exaltado. “Não será para sua destruição, será para a destruição deles”. “Jair Messias Bolsonaro, o maior perseguido político da nossa historia”
Autor de frequentes discursos agressivos contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o pastor havia prometido uma fala mais leve durante o evento.
Em seus vídeos, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo costuma dirigir diversas ofensas a Moraes, a quem se refere como “ditador de toga”. No mais recente deles, afirmou que o ministro do Supremo persegue Bolsonaro e deveria ser preso por atentar contra o Estado democrático de Direito.
Malafaia afirmou antes do evento que haveria controle rígido do uso do microfone, para que ele não se tornasse cansativo.
O ato seria aberto com uma oração feita pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e depois tinha previsão de discursos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o senador Magno Malta (PL-ES), e os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO). O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que almeja o apoio de Bolsonaro, optou por não discursar.
Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.
Bolsonaro ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes levaram a Polícia Federal a deflagrar uma operação que mirou seus aliados no início do mês.
A operação tem sido apontada como porta de saída por pastores que se aliaram ao ex-presidente até outro dia, mas não veem mais vantagem nessa relação.
Malafaia, porém, é um dos que continuou ao lado do ex-presidente após a derrota nas urnas e consecutivos reveses judiciais. À Folha, ele chamou os colegas de “um bando de covardes e cagões históricos”.
Por Ana Luiza Albuquerque/Artur Rodrigues