Brasil já foi um dos maiores produtores e exportadores de cacau do mundo, mas hoje precisa importar cacau para produzir chocolates
Há 30 anos, estreava a novela rural Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, que mostrava a saga do coronel José Inocêncio, a cadeia produtiva do cacau e a rotina das fazendas da região de Ilhéus, sul da Bahia. Nesta segunda-feira (22), um remake da novela, assinado pelo neto do autor, Bruno Luperi, traz de volta o mundo do cacau, mas desta vez, a trama mostra diferentes visões da produção e, principalmente, as transformações pelas quais a atividade cacaueira passou nos últimos anos, da forma de produzir, mais sustentável, à produção e venda de chocolates finos.
Cacau sustentável e chocolates
Nos anos 1990, a produção de cacau no Brasil passava pela decadência: uma praga chamada Vassoura de Bruxa devastou as lavouras de cacau, principalmente na região sul da Bahia, e levou muitos coronéis à falência. Essa praga atacava os pés de cacau, que se tornavam improdutivos. A doença fez o Brasil despencar no ranking de produtor e exportador do fruto, mas também trouxe o renascimento das lavouras, com um novo sistema de produção, mais sustentável, a agrofloresta ou Sistema Agroflorestal (SAF).
Nesse sistema, os pés de cacau são cultivados à sombra das árvores nativas da floresta, como o Jequitibá, que aparece no início da trama. O engenheiro florestal da Embrapa Agrossilvipastoril explica que, apesar de estar em alta na atualidade por ser mais sustentável, o sistema é milenar. “A agrofloresta é uma forma de uso do solo em que árvores, arbustos, cultivos anuais ou pastagens e animais estão em associação, consórcio ou em sucessão, com um determinado objetivo, uma identidade”, diz.
No caso do cacau, que é uma espécie amazônica, a floresta nativa dá ao cacaueiro as condições ideais para seu desenvolvimento e produção de frutos, sem a necessidade do uso de pesticidas ou fertilizantes sintéticos. “O ecossistema se encarrega de controlar o ambiente, pragas, temperatura e condições gerais, com a menor intervenção humana”.
Não é mais uma commodity
A sustentabilidade da agroflorestal permite aos produtores vender o cacau como um produto especial e não mais uma commodity, como era no passado. “O cacau é uma commodity, ou seja, um produto que tem o mesmo preço em qualquer lugar do mundo quando é produzido de forma padronizada e tradicional, mas quando ele é produzido de forma mais sustentável, como está acontecendo no Brasil nos últimos anos, se torna um produto especial, mais valorizado, como acontece com os cafés”.
No ano passado, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil está entre os produtores de cacau mais sustentáveis do mundo e os próprios produtores começaram a investir na verticalização da cadeia, com a produção de cacau e de chocolates finos.
Produção de cacau no Brasil
A produção de cacau no Brasil está em alta e até 2030, deve dobrar volume produzido, algo em torno de 450 mil toneladas por ano. O volume é semelhante ao do passado, quando o país era líder em produção e exportação de amêndoas de cacau.
De acordo com as projeções da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), já em 2025, o Brasil deve produzir um volume de cacau suficiente para atender a demanda interna das indústrias de chocolate. Em 2022, o país produziu 260 mil toneladas de cacau e as indústrias produziram 760 mil toneladas de chocolates, ou seja, tiveram que importar cacau de países como Costa do Marfim, Gana e Nigéria.
Atualmente, o cacau é produzido em estados como a Bahia, principalmente a região sul e oeste, em Rondônia, Espírito Santo e Pará.
Por VIVIANE TAGUCHI – AGROBAND