Wilson Martins fala sobre retorno à base do governo, vê com dúvidas candidatura de Ciro Nogueira e diz que Dr. Pessoa não deveria disputar governo do Piauí.
O retorno do PSB de à base do governo de Wellington Dias (PT) deixou o campo dos boatos e rumores e entrou na esteira da realidade. Segundo o ex-governador Wilson Martins, presidente estadual da sigla, o cenário nacional está reaproximando seu partido da gestão petista com objetivo de sobreviver às eleições de 2022. Ele revela que o convite foi feito pelo próprio Wellington, antes mesmo do ex-presidente Lula voltar a ser elegível, mas que esse fato, agora, reforça o caminho.
Ele está voltando para o grupo político de Wellington Dias; o trator de Wilson Martins encosta no Palácio de Karnak na próxima semana.
A informação sobre a ida do PSB para o governo passou a circular após o senador Ciro Nogueira convidar o empresário João Vicente Claudino (PTB) para se filiar ao Progressistas. Sendo presidente de um partido da base e falando à imprensa que tem “muita chance” de ir para a oposição, JVC parece ter forçado uma reação imediata de Wellington na imprensa.
Em entrevista concedida ao Política Dinâmica, Martins ainda ter dúvidas sobre uma candidatura de Ciro Nogueira (PP) ao Governo do Estado nas próximas eleições e não enxerga viabilidade numa terceira via encabeçada pelo prefeito de Teresina, Doutor Pessoa (MDB). Por outro lado, garante que sua presença no governo pode aproximar Estado e Município.
O ex-governador revela que vários amigos em comum entre ele e Wellington estavam há algum tempo buscando esse entendimento, mas que sua relação é direta com o petista. “Entre Wellington e eu não tem intermediários. O convite partiu dele mesmo”, afirma.
Ou seja, o “trator” já saiu da oficina, está na lanternagem e logo logo vai abastecer o tanque — sem se preocupar com o ICMS — dentro da gestão de Wellington Dias para rodar todo o Piauí.
A política é ou não é dinâmica?
DE CIMA PRA BAIXO
Wilson é um dos diretores nacionais do PSB e um dos responsáveis pela estratégia partidária e eleitoral no Nordeste, junto com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara. Segundo ele, é a articulação nacional dos partidos que vai ditar os rumos nos estados. Ele afirma que sua relação pessoal com Wellington Dias — de quem foi vice governador entre os anos de 2007 e 2010 — nunca foi abalada pelas diferenças políticas. Agora, as conversas para esse reencontro partidário entre PSB e a base que sustenta a gestão de Wellington já estão bem adiantadas.
“Ainda temos que conversar com algumas pessoas dentro do nosso próprio partido aqui, mas as maiores lideranças já estão sabendo. Sou diretor nacional do PSB e esse caminho [de reencontro com Wellington] é uma questão inserida no contexto nacional. O PSB é oposição ao presidente [Jair] Bolsonaro (sem partido), e lá em cima, as oposições estão há muito tempo dialogando. Aqui no Piauí, a principal força de oposição [o senador Ciro Nogueira] ao Governo do Estado vai apoiar Bolsonaro, então a reaproximação do nosso partido com Wellington é natural”, expõe Martins.
Wilson revela, ainda, que no cenário nacional, ele gostaria que alguma novidade surgisse dando aos brasileiros uma oportunidade de mudança e renovação, mas sendo pragmático, enxerga a eleição de presidente sendo polarizada entre Bolsonaro e Lula. “O Bolsonaro é despreparado, não tem como negar isso. Mas com Lula, olha, eu fui eleito vice governador numa campanha com ele, fui eleito governador com ele no palanque”, comentou dando a entender que esse será parte do discurso de volta.
AVALIANDO DOUTOR PESSOA
Meses atrás, Wilson estudava lançar um nome do PSB como candidato ao Governo do Estado em 2022. Provavelmente ele próprio, numa movimentação que dificilmente seria vitoriosa, mas forçaria um segundo turno entre o candidato de Wellington Dias e o senador Ciro Nogueira (PP). Numa disputa apertada, o PSB seria o fiel da balança e, assim, poderia reivindicar um bom espaço na futura gestão do vencedor. Ideia bonita no papel, mas arriscada demais na prática.
Seria mais um sacrifício após duas derrotas majoritárias em 2014 e 2018. Wilson e o PSB não têm mais gordura política para queimar a essa altura do campeonato.
Martins não vê espaço nem para uma candidatura de Doutor Pessoa ao governo. E avalia que uma virtual candidatura do atual prefeito de Teresina seria um “desastre”. Em primeiro lugar, porque o MDB, partido do prefeito, vai seguir com Wellington, então Pessoa teria que ir para um partido menor. Aliás, deixou escapar que foram seus amigos no MDB que mais estimularam a reaproximação com dele com o governo petista.
lém disso, para ser candidato, Pessoa teria que renunciar. Wilson observa que não seria bom para a capital, no meio de uma pandemia ou em meio ao esforço de retomada econômica, trocar de prefeito com menos de um ano e meio de gestão. E olha que o vice de pessoa é Robert Rios, amigo de Wilson e filiado ao PSB. Independente do resultado para Pessoa, Robert já seria o prefeito definitivamente.
Mas Wilson acredita que o sua ida para a base governista melhora a relação institucional entre o Estado e a Prefeitura, que hoje é de mais de desconfiança do que de entendimento.
DUVIDAS SOBRE CIRO
Quanto ao senador Ciro Nogueira, o ex-governador Wilson Martins entende que o discurso de seu grupo que estava na oposição e está voltando para o governo é mais coerente do que o discurso de Ciro, que estava no governo, foi colocado para fora e agora ataca a gestão de Wellington. Não apenas porque Ciro foi eleito junto com Wellington duas vezes senador, mas porque a maior parte dos deputados de Ciro continuam com o petista.
Esse é um dos motivos que faz Wilson avaliar que a candidatura de Ciro ainda seja uma incógnita.
“O discurso dos nossos filiados que criticam o governo não se perde. Pelo contrário, vai reforçar a possibilidade de que seja o que for que esteja errado possa ser arrumado. Não vamos ficar passando pano. Teremos influência interna para ajudar a resolver”, comenta Wilson.
Ainda que essa parte sobre fiscalizar o governo do lado de dentro pareça coisa de ficção ou fantasia, a observação sobre o grupo de Ciro é pertinente. “Como o Ciro vai conviver com o fato de que ele elogiava Wellington e o Lula, mas agora eles são muitos ruins e Bolsonaro é que é bom, sendo que a maioria dos deputados dele ainda está lá no governo?”, questiona.
INTERESSES NO TRIBUNAL DE CONTAS
Wilson descarta que a aproximação de Wellington tenha alguma coisa a ver com o fato de que a conselheira Lilian Martins, esposa de Wilson, seja hoje a presidente do Tribunal de Contas do Estado e vá ficar no cargo até depois das eleições. Além do mais, Wellington indica ainda este ano um nome para a vaga de Luciano Nunes — que se vai para a aposentadoria compulsória — e ter a presidência da Corte em oposição poderia dificultar as coisas.
Confrontado pelo Política Dinâmica sobre esse virtual de Wellington no tribunal presidido por sua esposa, Wilson se permitiu dizer apenas que “lá no TCE Wellington já tem muitos amigos”, e voltou o foco para as eleições de 2022.
Para ele, a gestão de Wellington não necessita de mais votos dentro do TCE, mas nas urnas de 2022. “Eu tive quase quase 600 mil votos na eleição passada”. De fato, na disputa de 2018, Wilson tinha uma estrutura muito menor e era o candidato a senador na chapa de “terceira via” para o governo. O contexto era desfavorável, mas a votação (exatamente 570.065 votos) não deixou de ser expressiva de alguma maneira.
Wilson enxerga uma eleição altamente disputada em 2022, se Ciro Nogueira for candidato. E nesse cenário, seja lá quem for o vencedor, a diferença entre o primeiro e o segundo colocado não deve passar dos 100 mil votos.
“SE o Ciro for candidato”, disse, com ênfase no “Se”.
O ex-governador disse que os detalhes sobre o espaço do PSB na gestão de Wellington devem ser decididos logo após a Semana Santa, mas pelo jeito que fala dos adversários do petista, Wilson já deu a entender que o espaço vai ser bom. E grande.
Marcos Melo do Política Dinâmica