Quem consome a proteína diariamente é 22% mais vulnerável a ter melanoma, mostra estudo britânico com quase 500 mil pessoas.
Um estudo com dados de quase 500 mil pessoas chegou a uma conclusão estatística intrigante. Segundo a análise, da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, a ingestão diária de peixe está associada a um aumento no risco de desenvolvimento do câncer de pele melanoma, o tipo letal desse tumor dermatológico.
Os autores do artigo e especialistas que não participaram da pesquisa, porém, destacam que é preciso cautela na interpretação do resultado.
“Acreditamos que o peixe, em si, não é o problema, mas, sim, contaminantes que possam estar em seu organismo”, afirma Eunyoung Cho, principal autora do estudo, publicado na revista Cancer Causes & Control, do grupo Nature.
A pesquisadora de Brown lembra que estudos anteriores descobriram que pessoas que comem mais peixes do que a média apresentam níveis mais elevados de metais pesados, como arsênio, cádmio e mercúrio, contaminantes que, segundo Cho, aumentam os riscos de desenvolvimento do câncer de pele melanoma.
A autora, porém, diz que, no caso da atual pesquisa, esses níveis não foram medidos nos participantes, sugerindo que mais estudos são necessários para comprovar a associação e, por fim, encontrar uma relação de causa e efeito. “Não desaconselho as pessoas a comer peixe por causa de nosso estudo”, observa.
O resultado, porém, ressalta um dos principais problemas ambientais que atingem as populações fluviais, com potencial risco para a saúde humana.
No estudo, os pesquisadores constataram que pessoas que ingerem 42,8g diários de peixe (o equivalente a 300g por semana) apresentam um risco 22% maior de ter câncer de pele melanoma, comparado àquelas que consomem uma quantidade significativamente menor — 22,4g semanais.
Aquelas que comem mais da iguaria também tinham um risco 28% mais elevado de desenvolver células anormais na camada externa da pele, condição caracterizada como pré-cancerosa.
As conclusões baseiam-se em uma pesquisa com 491.367 norte-americanos com idade média de 62 anos, a NIH-AARP Study, que recrutou os participantes entre 1995 e 1996 e os acompanhou ao longo de 15 anos. Os voluntários relataram com que frequência ingeriam peixe frito, peixe não frito e atum, assim como o tamanho das porções.
Os pesquisadores de Brown, então, calcularam a incidência de novos casos de melanoma durante o período, a partir de registros oficiais de câncer nos EUA.
Foram considerados também fatores que podem influenciar no desenvolvimento de tumores, como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, histórico familiar e níveis médios de radiação UV no local de moradia.
Segundo o estudo, 5.034 participantes (1% da amostra total) foram diagnosticados com o tumor dermatológico ao longo do acompanhamento e 3,284 (0,7%) apresentaram lesões pré-cancerosas.
“Um relatório anterior, de 2011, sobre esse grupo de 491.367 participantes havia encontrado uma associação entre melanoma e maior ingestão de peixe. O atual estende a análise anterior, com mais acompanhamento, para analisar com mais detalhes a associação entre diferentes tipos de consumo de peixe e melanoma”, diz Michael Jones, epidemiologista do Instituto de Pesquisa do Câncer, em Londres.
Mais investigação
Segundo ele, os resultados encontrados foram estatisticamente significativos. Portanto, é pouco provável que sejam aleatórios.
“É possível que as pessoas que consomem mais peixe tenham outros hábitos de vida que aumentam o risco de melanoma”, pondera Jones.
“Os autores consideraram isso e ajustaram para alguns fatores potencialmente confundidores. No entanto, como eles reconhecem, esse é um estudo observacional, e é possível que existam fatores (conhecidos e desconhecidos) para os quais os pesquisadores não ajustaram ou não ajustaram suficientemente bem”, diz.
Correio Braziliense