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Alta no preço do café deve durar quatro anos, diz ONU

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O aumento no preço do produto atingiu quase 40% em todo o mundo.

Os preços globais do café atingiram seu nível mais alto em vários anos em 2024, com um aumento de 38,8% em relação ao ano anterior. Esse aumento foi principalmente impulsionado por condições climáticas adversas que afetaram os principais países produtores, conforme aponta um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) nesta sexta-feira (14).

De acordo com a FAO, em dezembro de 2024, o preço do café Arábica, a variedade de maior qualidade e mais consumida em cafés torrados e moídos, subiu 58% em relação ao mesmo período de 2023. Já o preço do café Robusta, utilizado principalmente na produção de café instantâneo e blends, registrou um aumento ainda maior, de 70%.

Esse aumento também resultou na diminuição da diferença de preços entre as duas variedades de café, algo que não ocorria desde a década de 1990. A FAO alertou que, caso as condições climáticas não melhorem, o preço do café pode continuar a subir em 2025, especialmente se houver novas quedas na oferta em países produtores chave.

A FAO explica que, quando os preços internacionais do café sobem 1%, o preço do café no varejo na União Europeia tende a aumentar 0,24% após 19 meses, e esse aumento pode durar pelo menos quatro anos. A maior parte desse aumento (80%) acontece nos primeiros 11 meses.

Nos Estados Unidos, o impacto é um pouco menor, com um aumento de 0,20% no preço do café depois de 13 meses, e o efeito desaparece após cerca de dois anos. Mesmo com esses aumentos, o consumo de café não deve cair muito, porque o café representa uma parte pequena do orçamento das famílias (menos de 1%).

Já para os produtores, o impacto dos preços internacionais pode variar de acordo com fatores como taxas de importação, transporte e acordos comerciais. Em 2024, os preços pagos aos produtores aumentaram 17,8% na Etiópia, 12,3% no Quênia e 13,6% no Brasil.

O que influencia a alta no preço do café?

O aumento nos preços do café é atribuído a vários fatores. No Vietnã, a seca prolongada afetou a produção de café, com uma redução de 20% na safra de 2023/24 e uma queda de 10% nas exportações, que se mantiveram em queda pelo segundo ano consecutivo.

Na Indonésia, as chuvas excessivas de abril e maio de 2023 danificaram os grãos de café, resultando em uma diminuição de 16,5% na produção e 23% nas exportações. No Brasil, o clima quente e seco levou a revisões nas previsões de produção, que inicialmente indicavam um aumento de 5,5%, mas agora apontam uma queda de 1,6%.

Além disso, os custos de transporte elevados também têm contribuído para o aumento no preço do café, impactando diretamente os consumidores. Dados preliminares indicam que, em dezembro de 2024, os consumidores pagaram 6,6% a mais pelo café nos Estados Unidos e 3,75% a mais na União Europeia, em comparação com o ano anterior.

Brasil e Vietnã representam 50% da produção mundial de café

De acordo com o relatório, o Brasil e o Vietnã, juntos, representam quase 50% da produção mundial de café. Pequenos produtores, que respondem por 80% da produção global, detêm um papel essencial na cadeia de valor do café e são os mais impactados pelas mudanças climáticas.

Em 2023, a produção mundial de café alcançou 11 milhões de toneladas, com um valor estimado de comércio superior a US$ 25 bilhões por ano.

Além disso, as exportações de café representam uma parte expressiva das receitas de países como Etiópia, Burundi e Uganda. A União Europeia e os Estados Unidos são os maiores importadores de café no mundo, com a indústria global de café gerando mais de US$ 200 bilhões em receitas anuais.

Como mudar o cenário?

Em meio ao cenário de alta nos preços, a FAO destacou que os altos preços podem incentivar investimentos em tecnologia e pesquisa para aumentar a resiliência climática do setor, que depende em grande parte dos pequenos produtores. A organização também ressaltou que a mudança climática está impactando a produção de café a longo prazo, com a necessidade de adotar práticas agrícolas mais sustentáveis e resilientes.

“Os preços elevados devem oferecer incentivos para investir mais em tecnologia e pesquisa e desenvolvimento no setor de café – que depende em grande parte dos pequenos produtores – para aumentar a resiliência climática”, afirmou Boubaker Ben-Belhassen, Diretor da Divisão de Mercados e Comércio da FAO.

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