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Com mais de 300 mil desabrigados, Beirute tem cenário de guerra

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O presidente decretou estado de emergência em Beirute e promete investigação transparente.

O libanês Hussein Nasrallah, 31 anos, gerente de uma companhia de seguro, se impressionou ao visitar o que era o porto de Beirute até as 18h07 (hora local) de terça-feira. “Uma catástrofe. Em um raio de 10km, todos os vidros dos prédios se estilhaçaram e fachadas caram destruídas”, contou ao Correio Braziliense.

WAEL HAMZEH / EFE

O cenário na região central da capital do Líbano, uma cidade de 2,4 milhões de habitantes, é comparado ao de pós-guerra. As duas explosões em um armazém onde havia 2.750t de nitrato de amônio — composto químico usado em fertilizantes e explosivos — e a onda de choque produziram uma cratera de 120m de profundidade e deixaram mais de 300 mil desabrigados.

Até o fechamento desta edição, as autoridades contabilizavam 135 mortos e 5 mil feridos. Pelo menos 100 pessoas estavam desaparecidas. O governo decretou estado de emergência em Beirute durante duas semanas e ordenou a prisão domiciliar dos responsáveis pelo armazenamento do nitrato de amônio, capaz de acelerar a combustão de produtos em chamas. “A situação é apocalíptica; Beirute jamais viveu isto”, desabafou o governador, Marwan Abboud.

“Nenhuma palavra pode descrever o horror que golpeou Beirute na noite passada”, declarou o presidente libanês, Michel Aoun, ao abrir uma reunião do gabinete de emergência. A comunidade internacional se mobilizou para fornecer ajuda ao país (leia na página 21). O ministro da Informação do Líbano, Manal Abdelsamad, anunciou que o Exército cou encarregado de scalizar o cumprimento das ordens de prisão domiciliar. As autoridades não divulgaram a identidade dos responsáveis pelo produto estocado no porto em condições inapropriadas desde 2014. No entanto, diretores da alfândega de libanesa chegaram a alertar sobre o risco representado pelo nitrato de amônio (leia acima). Aoun prometeu um inquérito transparente sobre a tragédia. “Estamos determinados a investigar e a revelar o que ocorreu o mais rápido possível, a m de impor a punição aos responsáveis”, avisou, em discurso transmitido em cadeia nacional de televisão.

O premiê libanês, Hassan Diab, considerou “inadmissível” e “inaceitável” que as 2.750t de nitrato de amônio estivessem guardadas no porto, sem medidas preventivas. Ele advertiu que os responsáveis “prestarão contas” e aconselhou que as autoridades não podem permanecer em silêncio sobre o tema. “Cidade-fantasma”

Gerente de marketing de um kartódromo em Beirute, Elie Said Rizk, 23, mora a 5km do porto. “É uma cidade destruída. Levará muito tempo para conseguirmos reconstruir Beirute. A zona central foi devastada, onde havia prédios e lojas de grife, como Rolex e Kenzo. O prédio do Parlamento também cou destruído”, relatou ao Correio, por telefone. Segundo ele, não há eletricidade nem fornecimento de água em parte da capital. “Temos contado com a ajuda de voluntários para distribuírem água e para garantirem o funcionamento do Hospital Universitário St. George, por meio de geradores. Beirute é como se fosse uma cidade-fantasma”, comparou. Os hospitais estão saturados e, até ontem, ainda eram procurados por moradores feridos (leia Depoimento).

Elie estava em casa, na companhia da mãe e da irmã, e lmou o momento da segunda explosão. “Houve um estrondo menor, com muita fumaça. A coluna de fumaça aumentou e passamos a escutar o barulho de fogos de articio. Então, sentimos um terremoto que durou entre 2 e 3 minutos. Uns cinco minutos depois ocorreu a grande explosão. Fomos impactados pela onda de choque poderosa, que se parecia com um cogumelo”, disse. A percepção inicial dele era de que se tratava de um ataque com mísseis. “Foi uma experiência assustadora.”

Por sua vez, o jornalista independente Habib Baah — fundador do site BeirutReport.com — disse ter visto, ontem, muitas pessoas tentando remover o vidro que estourou das janelas. “As ruas estão repletas de destroços. Carros foram esmagados pelos prédios. Muitas construções antigas, localizadas na região portuária, vieram abaixo. As pessoas perderam tudo o que tinham e se preguntam quem vai pagar por isso, pois o nosso governo está falido”, armou à reportagem. “As pessoas precisarão de ajuda para reconstruir suas vidas. Espero que haja algum tipo de justiça. Este problema é sistêmico em meu país. Não temos infraestrutura para armazenar esse material nem regulações rígidas ou inspeções. Ainda que alguns indivíduos sejam punidos, o sistema permanecerá.”

Heroísmo em meio ao caos

Pouco depois da explosão, o repórter fotográco Bilal Marie Jawich tentou chegar ao local da tragédia. “Eu não sabia onde tinha sido. A área estava destruída. Havia pessoas cobertas de sangue. Fui ao Hospital Universitário St. George. Os feridos chegavam automaticamente; médicos também estavam cobertos de sangue. Percebi como uma enfermeira contrastou com a cena”, contou ao Correio. “Ela carregava três recém-nascidos. Estava muito calma e chegou a sorrir para mim. O nome dela é Pamela Zainoun. Foi uma heroína. Acho que é uma santa.” A reportagem localizou Pamela. “Os bebês eram prioridade. Jamais poderia deixá-los para trás. São parte de minha rotina. Cuidei deles todos os dias, nas últimas semanas”, disse a enfermeira ao Correio. “Era meu dever deixá-los seguros. Agora, estão em outro hospital, recuperando-se muito bem.”

Diretor da Alfândega pediu venda de material explosivo

Entre 2014 e 2017, os diretores da alfândega libanesa, Chac Merhi e Badri Daher, enviaram a três juízes diferentes seis cartas que podem revelar muito sobre a explosão. Em uma delas, datada de 2 de maio de 2016 (foto), Merhi fez referência a duas outras cartas enviadas anteriormente e explicou que o Exército não precisava de explosivos. “Merhi e Daher pediram aos magistrados que vendessem o nitrato de amônio para fora do país. Eles explicaram que o material não estava armazenado de modo adequado e oferecia riscos ao porto”, armou ao Correio o presidente do Centro Libanês para Direitos Humanos, Wadih Al-Asmar, que teve acesso às cartas. “As 2.750t de nitrato de amônio estavam armazenadas legalmente, mas sem as condições adequadas e no lugar errado.” Para ele, foi uma “tragédia evitável”. “É a típica catástrofe da negligência”, disse.

Com informações do Correio Braziliense

Gleison Fernandes
Gleison Fernandeshttps://portalcidadeluz.com.br
Editor Chefe do Portal Cidade Luz

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