Especialistas em saúde mental dividem as fases do luto em cinco: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação
O luto é um processo de emocional resultado de um vazio deixado pela principalmente pela ausência de um ente querido.
Nesta quarta-feira (2), o feriado do Dia de Finados marca a lembrança daqueles que não estão mais entre nós. Para muitos, é um momento de recolhimento, orações e de visitas aos túmulos de parentes e amigos.
Especialistas em saúde mental explicam que cada indivíduo vivencia o luto à sua maneira. Assim, não existem prazos definidos ou o momento certo para apontar o término do estado de angústia. No entanto, compreender algumas características comuns à experiência pode tornar o processo menos traumático.
Fases do luto
Embora a vivência de uma perda seja bastante particular, conhecer as diferentes fases do luto pode ajudar a lidar melhor com a situação.
“O luto pode atingir pessoas de formas diferentes. E é importante respeitar o tempo de cada um e como cada fase é diferente para cada pessoa. Existe um processo de resiliência cerebral que acaba trazendo, depois de um certo tempo, algum conforto”, explica o neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor livre docente do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Especialistas em saúde mental fazem uma divisão em cinco fases:
- Fase inicial de negação: isolamento e a negação da morte;
- Fase de raiva: lutar contra a morte;
- Fase de barganha: tentativa de trocas e pensamentos como “é a lei da vida”;
- Fase de depressão: tristeza profunda;
- Fase de aceitação: entendimento de todo o processo.
“É preciso passar pelas fases e entender que não adianta querer pular ou atropelar estas etapas, porque faz parte do processo do amadurecimento psíquico e é isso que vai ajudar a chegar ao fim do processo”, afirma Gomes.
A psicanalista Sylvia Pupo, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), afirma que o reconhecimento de uma perda é um passo fundamental para a sua aceitação.
“O processo de luto é uma etapa natural e necessária, que, quando terminada, vai promover um maior nível de integração e amadurecimento da personalidade. Aqueles que puderem contar com acompanhamento psicoterápico podem se beneficiar muito disto, principalmente nestes momentos”, diz.
A especialista destaca a importância de se distinguir o luto normal daquele considerado prolongado, quando há transformação da tristeza em depressão.
“A tristeza é um estado natural, dentre outros, que se seguem a uma perda. Numa sociedade em que a tristeza não pode ser tolerada e deve ser medicalizada, há uma demanda de que sejamos sempre felizes e bem sucedidos. O espaço para a fragilidade e para a própria subjetividade é cada vez menor. O ritmo acelerado nos faz também atropelar as emoções e o tempo necessário para cada um finalizar seus processos”, pontua.
Tristeza profunda
Uma tristeza profunda, perda de interesse geral e sensação de que nada mais faz sentido. Esses são alguns dos sentimentos de quem começa a vivenciar o luto. A dor pode ser tamanha que os sintomas se manifestam de maneira física, incluindo dores no corpo, aperto no peito, fraqueza e distúrbios do sono.
Em um primeiro momento, é natural que surja o desejo de isolar-se do mundo, como se fosse uma tentativa de se resguardar. Reviver lembranças e se cercar de objetos pessoais do morto também são comportamentos comuns.
O luto não é considerado uma doença, mas um processo natural diante de uma situação de perda, como explica a médica psiquiatra Jéssica Martani. Não há um período de tempo definido para a finalização de um processo de luto. De maneira particular, cada indivíduo lida com a dor à sua maneira e assim também encontra novos sentidos para a vida.
“Por vezes, pode acontecer de a pessoa não conseguir elaborar o luto, prejudicando sua vida e, quando isso ocorre, pode iniciar o processo do luto patológico. Na medicina, designamos como o transtorno do luto complexo persistente. Neste caso, o diagnóstico é feito somente quando persistem níveis graves de resposta ao luto por, pelo menos, 12 meses após a morte, interferindo na capacidade do indivíduo de funcionar”, diz a especialista.
Nos primeiros meses após a perda, podem acontecer com frequência as seguintes situações:
- Saudade persistente do falecido com presença de crises de choro;
- Preocupação com o falecido ou pensamentos sobre a maneira como a pessoa morreu;
- Dificuldade de acreditar que o individuo faleceu;
- Raiva com relação à perda;
- Sensação de isolamento;
- Sentimento que uma parte de si morreu ou foi perdida;
- Dificuldade de sentir prazer e de planejar o futuro;
- Acreditar que a vida não tem sentido ou propósito;
- Desejo de morrer devido à vontade de estar com o falecido.
Jéssica afirma que todos esses sintomas são de alerta e que, se forem persistentes, podem indicar a necessidade de acompanhamento especializado. “Caso os sintomas sejam graves a ponto de atrapalhar a funcionalidade, oriento início de intervenção médica na psiquiatria”, afirma.
À medida que ocorre a elaboração do luto, as pessoas passam a entender como pode ser a vida sem a presença da pessoa amada. Nesse processo, há uma sedimentação da perda e os indivíduos encontram formas psicológicas e simbólicas de se manter viva a lembrança de quem já se foi.
“O trabalho de luto possibilita que o sobrevivente redefina sua relação com a pessoa morta e forme novos laços duradouros”, diz a especialista.
Lucas Rocha, da CNN