‘Eles comiam no colégio, era menos uma preocupação’: fechamento de escolas afeta nutrição de alunos

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Alimentação de crianças e adolescentes perdeu qualidade e ficou mais escassa na pandemia, aponta Unicef.

Quando o dinheiro que entra em casa não é suficiente, alguém precisa deixar de comer. Na pandemia, uma a cada cinco (19%) famílias nordestinas vivenciou essa situação, piorada pela falta de acesso de crianças e adolescentes à merenda escolar, segundo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Para três dos cinco filhos pequenos de Edjane Teixeira, 36, a refeição ofertada na escola todos os dias era a mais completa e saudável que poderiam acessar. Há um ano e meio, porém, “tomar uma vitamina e comer um biscoito se tornou um luxo”.

“Quando eles passavam o dia no colégio, comiam lá já era uma preocupação a menos. Hoje, tá muito difícil. Tô sem trabalhar, vivendo com cesta básica e o Bolsa Família, pra pagar o aluguel”, relata Edjane, moradora de uma comunidade do Dionísio Torres, bairro nobre de Fortaleza.

“Eles gostam muito de vitamina, comer um biscoito, agora tá difícil. A esperança é que essas aulas retornem, têm que voltar”, diz Edjane.
Foto: Fabiane de Paula

Na casa, a mãe divide espaço com os filhos Levi (2), Arthur (4), Enzo (6), Liara (8), Alisson (11) e Alice (17), além do neto de 1 ano. De todos, só Enzo, Liara e Alisson estão matriculados na escola. Para Levi e Arthur, não houve vaga.

Foto: Fabiane de Paula

As atividades remotas eram feitas por meio de um só celular, que quebrou. Hoje, Edjane busca as tarefas impressas na escola – mas além da “agonia grande” por não conseguir auxiliar os pequenos nos estudos, a dona de casa precisa resolver equações maiores.

“Tô sem gás há duas semanas. Antes, tinha uma coisinha boa pra comer, hoje não tem condições. Eles gostam muito de vitamina, comer um biscoito, agora tá difícil. A esperança é que essas aulas retornem, têm que voltar”.

Aos 36 anos, Edjane vive com os seis filhos e um neto – Foto: Fabiane de Paula

DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS

A pesquisa “Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, realizada pelo Unicef em três edições, a mais recente em maio deste ano, mostrou que 35% das famílias nordestinas não receberam alimentação das escolas no período de ensino remoto.

A medida foi adotada por governos estaduais e municipais, incluindo os do Ceará e de Fortaleza, a partir da lei 13.987/20, que determinou a distribuição às famílias dos alimentos comprados para a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

No Ceará, de acordo com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), foram distribuídos “três kits alimentação para todos os estudantes”, ao longo de 2020. Em abril, os alunos receberam ainda “cartões vale-alimentação, em duas parcelas de R$ 40”. Neste ano, serão cinco kits por aluno, conforme a Pasta.

Os mais de 230 mil alunos da rede pública de Fortaleza também receberam cestas básicas e ovos, por meio da Secretaria Municipal da Educação (SME), com “o objetivo de complementar a alimentação, enquanto permanecer a suspensão das aulas presenciais e realização de atividades remotas”.

Edjane mora em uma comunidade do Dionísio Torres, bairro nobre de Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

“NÃO É SÓ QUANTIDADE, É QUALIDADE”

Tati Andrade, doutora em Saúde Coletiva e especialista em Saúde e Desenvolvimento Infantil do Unicef, aponta que o principal impacto da falta de acesso das crianças e adolescentes à merenda não está relacionado apenas à quantidade, e sim à qualidade do que têm consumido.

Muitas delas, principalmente no contexto do Nordeste, como aponta Tati, “dependem da alimentação escolar para terem um bom suporte nutricional”, já que “a família vai utilizar o pouco recurso que tem para comprar um alimento de má qualidade”.

“O impacto é na nutrição geral, tanto em desnutrição como sobrepeso. A alimentação escolar é bem pensada para combater isso”. Disse Tati Andrade Médica e especialista em Saúde Infantil do Unicef.

A especialista reforça que “na escola, a alimentação é melhor balanceada e planejada”, e que, ao longo da pandemia, “é grande o percentual de famílias que aumentaram o consumo de alimentos processados e açucarados”.

Outro agravante, como avalia a médica, “é a falta de exercícios físicos, já que as crianças ficaram a maior parte do tempo em casa, mais expostas às telas”.

Foto: Fabiane de Paula

O relatório do Unicef complementa que “em um contexto em que a maior parte das escolas segue oferecendo apenas atividades remotas, a segurança alimentar das crianças e adolescentes que depende da alimentação escolar também deve ser considerada nas decisões relativas à reabertura segura das escolas”.

“Tomar uma vitamina e comer um biscoito se tornou um luxo”, lamenta Edjane
Foto: Fabiane de Paula

VOLTA ÀS AULAS NO CEARÁ

As aulas presenciais da rede pública municipal de Fortaleza devem ser retomadas no dia 8 de setembro, de forma escalonada e gradual, iniciando pelos alunos das séries finais da educação infantil. As escolas funcionarão com 50% da capacidade e de forma híbrida.

Já as instituições estaduais estão com o segundo semestre letivo de 2021 em curso desde o dia 2 deste mês, mas têm autonomia para retornarem em formato híbrido ou permanecerem no remoto, como informou a Seduc, em nota à reportagem.

Tati Andrade, do Unicef, frisa que um dos trabalhos da entidade é “oferecer às secretarias municipais instrumentos para avaliar a condição das escolas para reabertura”.

Com informações do Diário do Nordeste

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