O fato durou dez anos, quando foi descoberto por acaso. Todos os estupros, que devem ter sido cerca de 225, foram filmados. Leia aqui os detalhes dessa pavorosa história.
A professora e ativista Lola Aronovich publicou em seu blog Escreva Lola Escreva uma história absolutamente horrível sobre um eletricista que, em uma pequena cidade no Sul da França, dopava a sua esposa e a cedia a outros homens para que a estuprassem enquanto ela estava desacordada.
O fato durou dez anos, quando foi descoberto por acaso. Todos os estupros, que devem ter sido cerca de 225, foram filmados. Leia aqui os detalhes dessa pavorosa história.
Quantos monstros
Semana passada me enviaram uma notícia de um crime hediondo que ainda não teve muita repercussão por aqui.
Aconteceu na pequena cidade de Mazan, sul da França, e é inacreditável: entre 2010 e 2020, ou seja, durante dez anos, um marido de 68 anos dopava sua esposa, punha fotos dela e anunciava em sites de encontros sexuais para que outros homens fossem a sua casa e “tirassem proveito” de sua esposa inconsciente, o que significa estuprá-la.
O eletricista aposentado colocava tranquilizantes fortes na comida da esposa, a deixava nua na cama, e ligava o aquecedor para que ela não acordasse. Filmava tudo, sem que os outros soubessem. Às vezes participava dos estupros.
A polícia já identificou 49 suspeitos. 33 deles foram autuados. Outros nove estão presos, incluindo o marido, claro, que pode pegar até vinte anos de prisão (só?!). Os estupradores tinham entre 24 e 71 anos de idade, com profissões variadas: bombeiro, jornalista, enfermeiro, guarda de prisão, empresário, operador de depósito. Em comum, só que eram todos homens cis. Nenhum tinha histórico de crime sexual. “Podiam ser nossos vizinhos”, disse um dos detetives.
Alguns dos acusados afirmaram que pensavam que o casal era praticante de swing e que a esposa fingia estar inconsciente como parte de um jogo sexual. Apenas um deles não quis estuprar a mulher ao notar que ela não estava fingindo. Mas os detetives dizem que todos sabiam que a esposa estava inconsciente sob efeito de drogas, já que o marido passava instruções, inclusive sobre o que fazer se a mulher acordasse.
A advogada da esposa, Cathy Richard, tampouco acredita na versão de que os estupradores pensavam tratar-se de uma dupla de swing e que a esposa consentia. “É impossível pensar que ela estava fingindo dormir quando você vê as imagens. É óbvio que ela estava inconsciente. É óbvio que eles não ligaram pro consentimento. Ela não tinha como consentir”.
As primeiras notícias que li sobre o caso diziam que a esposa era sexagenária e que o casal estava junto há 50 anos e tem três filhos na faixa dos trinta anos. Se a mulher tem 61 anos, como reportaram alguns jornais, o casamento certamente tem menos tempo. Outras matérias dizem que ela tem 67 anos.
De toda forma, a polícia descobriu tudo por acaso. Em setembro do ano passado, um segurança de uma loja viu o homem usar seu celular para gravar por baixo da saia de mulheres e meninas. A polícia foi chamada e, ao apreender seu computador, encontrou os vídeos da esposa sendo estuprada, além das mensagens que ele deixava nos sites. O marido foi preso em novembro, e uma investigação passou a tentar identificar os outros estupradores.
Um dos detetives declarou que se trata de um caso sem precedentes pelo tempo que durou, pelo número de criminosos, e por “ter tantas evidências num caso de estupro”, já que o marido gravava tudo. E a esposa pode ter sido dopada 225 vezes num só ano.
Ela não desconfiava de nada, embora tivesse procurado vários médicos para tratar de dores de cabeça, insônia e perda de memória que sofreu durante uma década. Ao ver as fotos, assustou-se: “Eu pareço uma mulher morta”. Sua advogada disse que o impacto na vida dela foi “cataclísmico”. “O mundo parou de girar pra ela quando ela viu as imagens. Tudo em que ela acreditava acabou. Ela não reconheceu os homens. Fica claro que ela estava inconsciente, não dormindo”.
A advogada declarou: “Ela é uma mulher como eu ou você. Conheceu seu marido nos anos 70, tiveram vários filhos, trabalharam, se aposentaram. Tiveram uma vida absolutamente normal“. E continuou: “Hoje, ela tenta se reerguer, e sobrevive graças a seus filhos e família, mas é difícil pra ela imaginar, é inconcebível. Ninguém pode acreditar que, quando você vai pra cama na sua casa, no seu quarto, que na manhã seguinte você vai acordar sem saber o que foi feito com seu corpo”.
A esposa entrou com um pedido de divórcio, mudou-se de cidade, e está fazendo terapia.
O que sempre me choca mais nesses casos de estupro em massa é que há tantos envolvidos. Mesmo aquele único cara que desistiu de estuprar a mulher quando percebeu que ela estava de fato inconsciente não chamou a polícia. São todos cúmplices.