Um dos vice-líderes do governo na Câmara, Rubens Pereira Jr. (PT/MA), afirmou que os parlamentares que assinaram o pedido de impeachment são “radicais” e que o Executivo não tem interesse em dialogar com eles.
Integrantes do Governo Federal afirmaram a lideranças da Câmara dos Deputados que aqueles que assinaram pedido de impeachment contra o presidente Lula (PT) por ele ter comparado as mortes na Faixa de Gaza ao Holocausto sofrerão consequências do Executivo. A informação foi dada, em reunião nessa terça-feira (27), pelo líder do governo na Casa parlamentar, deputado José Guimarães (PT/CE), a líderes da base governista.
Segundo relatos, o entendimento foi o de que deputados que assinaram o pedido e que indicaram cargos regionais perderão esses postos, bem como serão menos atendidos pelo Executivo, o que contempla emendas parlamentares. “Quem assinou o impeachment do presidente está dizendo claramente que não está na base. Portanto, se tinha algum tipo de espaço no governo, tem que perder. Afinal de contas, essa contradição não pode continuar. Quem assinou tem que decidir de que lado está: ao lado de Lula ou contra”, disse o deputado Alencar Santana (PT/SP), um dos vice-líderes do governo na Câmara.
De autoria da deputada Carla Zambelli (PL/SP), o pedido foi protocolado na noite da última quinta-feira (22). De acordo com a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, o requerimento teve 139 assinaturas, incluindo de parlamentares que integram a base do governo Lula na Casa. O pedido de impeachment esteve na pauta da reunião de ontem. A reportagem teve acesso ao documento distribuído para as lideranças no encontro.
Nas redes sociais, Guimarães disse que houve consenso na reunião de que é “incompatível” um deputado ser da base, “ter relação com o governo e assinar” o pedido. “Isso não é razoável e a minha posição é encaminhar a lista desses parlamentares para que o governo tome providências”, escreveu o deputado.
Ainda de acordo com relatos, foi repassada às lideranças lista com o nome dos deputados da base que assinaram o impeachment, junto com pedido para que os líderes comecem força-tarefa para retirada dos apoios. Há assinaturas de representantes de partidos como União, PSD, Republicanos e PP. Os dois primeiros têm três representantes na Esplanada dos Ministérios, enquanto os dois últimos têm um indicado cada.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara, Rubens Pereira Jr. (PT/MA), afirmou que os parlamentares que assinaram o pedido de impeachment são “radicais” e que o Executivo não tem interesse em dialogar com eles. “A nossa estratégia é isolar os radicais. Os [deputados] que assinaram esse pedido injusto são radicais. Com todo o restante da Câmara, nós queremos ter um bom diálogo.”
Lula foi eleito tendo base de esquerda minoritária na Câmara e, por isso, teve de fazer alianças com partidos do centro e da direita. Apesar disso, a relação entre Executivo e Legislativo, em especial com a Câmara, foi marcada por momentos de tensão ao longo de 2023.
Mesmo que a crise gerada pelas declarações de Lula tenham dado munição à oposição e mobilizado aliados de Jair Bolsonaro (PL) em torno do pedido de impeachment, líderes de bancadas no Congresso Nacional afirmam ser zero a chance de a ofensiva prosperar. A abertura do processo depende do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), que não tem prazo para analisar esses pedidos, que podem ficar engavetados por tempo indeterminado.
Em caso de arquivamento da solicitação, pode haver recurso ao plenário. A coleta de assinaturas pelo impeachment começou após Lula ter comparado a ofensiva de Israel em Gaza ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.
Pedidos anteriores de impeachment feitos pela oposição, alguns deles formalizados em grupo pelos deputados, englobam série de episódios, que, na argumentação dos parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro, mereceriam a destituição do presidente.
Fonte: O Estado