‘Moleques’ e ‘vagabundos’, diz prefeito de Parnaíba sobre profissionais de enfermagem em greve

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A declaração foi dada durante coletiva para imprensa nesta sexta-feira. Profissionais repudiaram a fala do gestor e pediram respeito e valorização.

O prefeito de Parnaíba, Mão Santa (DEM), chamou os profissionais da enfermagem, em greve, de “moleques” e “vagabundos”, ao informar que irá cortar o ponto daqueles que continuarem o movimento paredista. As declarações foram dadas durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (26), em seu gabinete, no Litoral do Piauí.

Prefeito Mão Santa

A greve da categoria iniciou no dia 10 de novembro, depois que os profissionais fizeram paralisações de advertência sobre o corte da gratificação de combate à Covid-19. E foi encerrada nesta sexta-feira, depois que o Sindicato dos Servidores do Município (Sindserm) foi notificado da ilegalidade da greve pelo Tribunal de Justiça do Piauí.

“Não tem greve nenhuma, tem uns moleques, uns vagabundo. Tá tudo funcionando. Quem não quer trabalhar, vou cortar. Onde está a greve? O governo é muito forte. Eles viviam aqui gritando, esculhambando. Cadê, você viu algum grito agora?”, declarou o prefeito Mão Santa.

Em nota, a Superintendência Municipal de Comunicação de Parnaíba informou que o prefeito se referiu “exclusivamente aos servidores que não cumprem seus expedientes como deveriam” e que não faz referência direta aos servidores da saúde. No entanto, na mesma nota, diz que a greve foi declarada ilegal e que caso não cumpram a decisão terão os pontos cortados. (Confira a nota na íntegra no fim da reportagem)

O presidente do Sindserm Leandro Lopes, repudiou a fala do gestor municipal e disse que os servidores preparam um ato de repúdio. Ele disse que os profissionais retornaram ao trabalho, depois de doarem sangue como última manifestação em protesto à falta de acordo com a prefeitura.

“Hoje, no último instante da greve, antes de ser suspensa, nós fizemos uma doação de sangue, quando fomos surpreendidos pela coletiva do prefeito, que chamou os profissionais de saúde de vagabundos, arruaceiros e baderneiros, e isso provocou uma grande comoção no município, principalmente nos servidores da saúde, mas também todos os servidores públicos de Parnaíba. O Sindserm prepara um grande ato em repúdio às falas do prefeito Mão Santa. A gente até diz que o sindicato e os profissionais têm respeito pelo prefeito, pela idade dele e não pela postura como prefeito municipal, por isso queremos cobrar mais do que nunca respeito e valorização”, afirmou.

De acordo com Sindicato dos Servidores Municipais de Parnaíba, o movimento paredista teve 70% de adesão, já que 30% deveria continuar trabalhando por ser um serviço essencial. O município possui 100 profissionais de enfermagem e 50 de odontologia que haviam aderido à greve na última terça-feira (24).

Servidores da Enfermagem ficaram em greve por 15 dias em Parnaíba — Foto: Sindserm Parnaíba

A categoria luta por três pautas imediatas que é o retorno da gratificação de combate à Covid-19 e o pagamento para quem não recebia; a recomposição salarial constando na Lei Orçamentária Anual (LOA) que será votada no próximo mês na Câmara Municipal e que não está no projeto; e a reformulação do plano de cargos, carreiras e vencimentos dos profissionais da saúde.

“Então das três pautas uma seria para agora e as outras duas para janeiro de 2022. Infelizmente a gestão optou por judicializar a greve e eles utilizaram a questão da Covid, e a categoria justamente se baseia nisso para manter a gratificação”, argumentou o sindicalista, que vai recorrer da decisão do desembargador Raimundo Eufrásio, do TJ-PI.

O magistrado determinou multa que varia de R$ 10 mil até R$ 100 mil por dia de paralisação caso a decisão não fosse cumprida. Para o desembargador, o perigo da demora na paralisação dos servidores pode gerar um prejuízo irreparável pelo fato da saúde ser um direito básico garantido a todo cidadão.

Repúdio do Coren-PI

O Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren-PI) repudiou as declarações do prefeito sobre os profissionais da enfermagem. Em nota, o Conselho destacou que o direito à greve é constitucional e a importância dos profissionais durante a pandemia.

A entidade também ressaltou que as reivindicações dos profissionais são válidas e que irão tomar medidas cabíveis já que não aceita “desvalorização e desrespeito à categoria”.

Nota na íntegra do Coren-PI

O Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren-PI) repudia a declaração desrespeitosa do prefeito do município de Parnaíba, Mão Santa, em que se refere aos profissionais da Saúde, em sua maioria de Enfermagem, que encabeçam um movimento grevista na cidade. O prefeito utiliza os termos: “moleques, vagabundos e baderneiros”.
A Constituição Federal, em seu artigo 9º, e a Lei nº 7.783/89 asseguram o direito de greve a todo trabalhador. O código de Ética da Enfermagem, em seu artigo 44, Capítulo II, estabelece que “será respeitado o direito de greve e, nos casos de movimentos reivindicatórios da categoria, deverão ser prestados os cuidados mínimos que garantam uma assistência segura, conforme a complexidade do paciente”.
Neste contexto de pandemia, a importância de cada profissional de Enfermagem ficou ainda mais evidente. Responsáveis diretos pela imunização e reestabelecimento da saúde da população, não merecem esse tipo de insulto, que fica ainda mais grave quando parte de um gestor público. O Coren-PI reconhece a validade das reivindicações dos profissionais de Enfermagem de Parnaíba e defende a luta pela valorização, reconhecimento e condições adequadas para o exercício profissional.
Diante do ocorrido, informamos que tomaremos as providências cabíveis. Nenhuma manifestação de desvalorização e desrespeito à categoria será aceita!
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Nota de esclarecimento da Prefeitura

Sobre a entrevista coletiva concedida na manhã desta sexta-feira (26), a Superintendência Municipal de Comunicação de Parnaíba vem a esclarecer que o prefeito Mão Santa se referiu exclusivamente a servidores que não cumprem seus expedientes como deveriam, como fica claro dentro do que foi mencionado. Mão Santa afirmou a necessidade de que os servidores de todas as áreas trabalhem em prol da população.
Não se trata também de nenhuma referência direta aos servidores da saúde cuja a recente greve foi considerada ilegal por decisão obtida no Tribunal de Justiça do Piauí. Neste caso, o prefeito somente deixou claro que aqueles que não retornarem aos seus postos de trabalho conforme decisão judicial terão seus pontos devidamente cortados.
Ainda sobre saúde pública, o prefeito Mão Santa reafirma o caráter fundamental da mesma na vida de todos os cidadãos e seu compromisso com a prestação de um serviço de qualidade pelo município. Por isso é necessário que os profissionais estejam nas unidades para que nenhuma pessoa deixe de ser atendida. O prefeito também ressaltou que o quadro da administração municipal é composto, em sua extensa maioria, por profissionais que contribuem com excelência, amor e dedicação ao município.

Supcom

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